sábado, 25 de junho de 2011

Carta Aberta aos colegas Enfermeiros/Estudantes e à “nossa” digníssima Ordem

No dia 20 de Maio de 2011, eu e certamente milhares de colegas meus enfermeiros (as) recebemos um e-mail da Ordem dos Enfermeiros sobre a possibilidade de a partir de agora, quem quiser, poder pagar as cotas da Ordem por débito directo do ordenado. Como há muitas questões da Ordem que me fazem comichão (ou dizendo numa linguagem mais correcta, prurido), aproveitei para abordar as pessoas de lá sobre um dos assuntos que mais me provocam esse mal-estar, o facto de os recém-licenciados (desempregados) terem de pagar as cotas à Ordem mesmo não trabalhando.
Sendo assim enviei um e-mail de resposta (que tolo sou) ao que me enviaram, dizendo o seguinte “Boa tarde. Esta proposta também é válida para quem não tem emprego e, consequentemente, não tem vencimento? Isso sim, seria uma proposta séria e responsável da Ordem. Melhores cumprimentos,
Enfermeiro Jorge Gomes”

No dia 24 do respectivo mês recebi um e-mail em que me diziam que me iriam tentar responder o mais brevemente possível, o que veio a verificar-se como sendo verdade, pois no dia 25 enviam-me o seguinte e-mail:
“Ex.mo/a Sr./a Enf. Jorge Gomes
Em resposta à exposição de V. Exa. datada de 23 de Maio de 2011, encarrega-me o Sr. Enf. Germano Couto – Presidente do Conselho Directivo Regional de agradecer e “informar que uma vez que se encontra na situação de desempregado pode suspender temporariamente a sua inscrição na OE e, como tal, não pagará quotas enquanto tal situação se mantiver”.
Na expectativa de que a presente ajudará a esclarecer as questões colocadas, agradecemos a sua comunicação e disponibilizamo-nos, desde já, para contactos futuros se tal entender necessário.
Cumprimentos,
Ângela Moura
Secretariado: Conselho Jurisdicional Regional/Conselho Directivo Regional”

Contudo eu não fiquei satisfeito com as explicações, aprofundei mais a questão e coloquei novas questões, no dia 25 de Maio:
“Desde já agradeço a vossa resposta, uma vez que não esperava qualquer tipo de contacto.
Eu não falei no meu caso, apesar de estar desempregado em Portugal, trabalho em Espanha. Falo no caso de centenas (para ser simpático) de colegas que acabam o curso e estão meses (mais uma vez a ser simpático) sem encontrar qualquer tipo de situação laboral.
No tempo em que passei por isso (de Agosto de 2007 até Julho de 2008), disseram-me na Secção Regional Norte que eu poderia suspender a inscrição, mas que ao levantar a suspensão teria que ser efectuado o pagamento de todos os retroactivos, ou seja, de todos os meses que a cédula estivera suspensa. O que me parece que é uma maneira de contornar um problema, não de o resolver, e que na altura mostrava um aproveitamento total dos enfermeiros desempregados. Se hoje em dia assim não é, dou os parabéns por um passo rumo à seriedade e à honestidade (para não falar de Ética), que uma entidade como a nossa Ordem deve ter como princípios base.
Quanto a este assunto, tenho só mais uma dúvida. Imaginemos. Estou desempregado e suspendo a cédula. Não pago o tempo em que estou desempregado. Com este tipo de suspensão, fico na mesma com a vinheta da Ordem em dia, de modo a poder concorrer a todos os concursos que possam aparecer? Como devem saber, ter a cédula profissional com os pagamentos em dia, é critério presente em todos os concursos.
Mais uma vez, reitero o meu obrigado pelo vosso contacto e esclareço que sou apenas um jovem enfermeiro, um no meio de milhares, preocupado com a situação actual da profissão em Portugal e com pena de não poder exercer o exercício da profissão no seu país.
Melhores cumprimentos,
Enfermeiro Jorge Gomes”

No dia 27 de Maio recebo mais uma vez o e-mail a dizer que me iam tentar responder o mais brevemente possível:
“Ex.mo. Sr. Enf. Fernando Gomes
Encarrega-me o Sr. Enf. Germano Couto – Presidente do Conselho Directivo
Regional de acusar a recepção e agradecer a exposição de V. Exa. datada de
26 de Maio de 2011 e informar que em breve lhe daremos resposta.
Disponibilizamo-nos, desde já, para contactos futuros se tal entender
necessário.
Cumprimentos,
Ângela Moura
Secretariado: Conselho Jurisdicional Regional/Conselho Directivo Regional”

Vamos a 26 de Junho, e ainda espero ansiosamente pela resposta esclarecedora da Ordem, tal como os Portugueses esperam pelo regresso do saudoso D. Sebastião!
É por estas e por outras que os novos enfermeiros não se revêem neste organismo, pois para serem explorados e abandonados já basta os patrões que oferecem pechinchas como “trabalhar 6 meses de graça e no fim dos 6 meses vê-se se fica” ou “paga x e admitimo-lo no nosso hospital, a recibos verdes e por 6 meses, depois logo se verá”.
Não vou mais longe nas críticas e nas palavras porque sei que em Portugal quem diz a verdade muitas vezes é penalizado. Este exemplo que dei revela a todos a Ordem que temos…enquanto podem, tentam dar a volta a situação, com falsas soluções, mas perante confrontações directas remetem-se ao silêncio…dos culpados!
Termino dizendo que o que me faz sentir Enfermeiro, não é aquele cartão azul com a vinheta actualizada. São os meus doentes, a minha finalidade como enfermeiro, que me fazem senti-lo todos os dias!

4 comentários:

  1. Bem como já deves saber a minha situação actual é muito semelhante a tua (para não dizer igual!) uma vez que trabalho em Espanha e tenho de continuar a pagar a cotas da Ordem dos Enfermeiros pela situação que já referiste...
    A verdade é que não tive o mesmo à vontade para lhes mandar um email a expor o meu desagrado!
    Desde já agradeço que tenhas colocado aqui o "esclarecimento" da OE e fico a espera da resposta....

    Rosa Alves

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  2. Brilhante!

    Eu não teria dito melhor, aliás não teria dito...

    Admiro a tua coragem :)

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  3. Eu acho que o que o meu caro colega e amigo fez não foi apenas mandar um e-mail onde exponha as dúvidas colectivas de toda uma classe profissional, mas sim um alerta, ou uma chamada de atenção, (aqui estou eu também a ser simpático, recurso de estilo semelhante ao eufemismo, muito utilizado, e bem, por este autor) não somente para os recém-licenciados e futuros profissionais, mas sim todos os nossos colegas aptos para o exercício que se encontram nesta situação, mais ou menos experientes.
    Eu, depois do que foi dito, e, por estar exactamente nas mesma condições do autor, assim como de muita outra "gente", apenas tenho a dizer que sublinho e assino por baixo. Goataria de acrescentar um POST SCRITUM, em que, a ideia que tenho da Ordem dos enfermeiros, não é muito boa, pois cada vez mais é de uma organização administrativa (olhem eu aqui também a ser simpático) que, pelo número de involucrados (trabalhadores ou não) me parece que já ultrapassou o escalão de PME. Pensarão que estou a ir longe de mais com este comentário, mas parece que o capitalismo se apoderou desta instância. Na minha humilde opinião a OE pouco tem feito pela maioria dos seus associados! O que nos últimos tempos me parece que tem sido feito foi lançar no “mercado” um maior número de produtos (técnicos qualificados) através do aumento desproporcionado de centros de produção (escolas superiores), uma ideia aparentemente muito demagógica pois oferecia só aspectos positivos: emprego a professores, administrativos, construtores… assim como suprimir uma necessidade. O que se passa neste momento, é que, com esta ideologia em vigor, não se demonstra preocupação ou verdadeiro interesse em defender os seus associados, apenas subsistir e nutrir-se, sem impor ou propor medidas pertinentes em pratica que vão de encontro às necessidades laborais, mais uma vez, à maioria dos seus filiados. O que realmente chega até nós são os envios de publicidade de formação, de campanhas internas e a factura da quota a cobrar irrefutavelmente e não soluções.
    Por fim, deixo um caso que me parece deveras preocupante e que a meu ver demanda uma reflexão responsável. E este caso já aconteceu há algum tempo e estou certo que não é pontual. Um recém-enfermeiro busca trabalho, como é o seu primeiro emprego o estado favorece o centro hospitalar/clínica contratante comprometendo-se em assumir metade da remuneração desse trabalhador qualificado. Como trabalharia para uma entidade privada, essa mesma não estava obrigada a pagar o estabelecido por lei em vigor para funcionários públicos da mesma categoria, mesmo assim, não contente, esse mesmo centro acordou com o trabalhador, informalmente que, caso quisesse mesmo ser contratado para trabalhar nesse local teria de prescindir do salário que essa “empresa” teria de pagar efectivamente e contentar-se com o que iria receber do estado com a precaridade de um contrato de seis meses sem nenhumas esperanças de continuidade ou progressão…

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  4. Esta foi possivelmente a tua publicação que mais gostei. Admiro muito a forma como abordaste a situação. Eu não diria que não teria coragem, ai porque isso sei que a tinha, mas possivelmente não teria apresentado a ideia com tanta clareza. Eu já suspendi a minha inscrição. E eu que gosto tanto de finanças também me lembrei de lhes perguntar sobre a possibilidade de ficar isenta de quotas visto que me encontrava no desemprego. Não foram flexíveis.Infelizmente paguei as quotas todas certinhas do mês de agosto até fevereiro. Para que vou pagar a uma Ordem de um pais se vou trabalhar noutro? Terei de pagar as quotas para trás para a ativar por que trabalhar que fizeram a meu favor?! Nessa agora é que fiquei para três dias. Estou em choque mas vou me informar. Acho que é importante que estas situações sejam tornadas publicas. Que grande miséria, sinto a vergonha que eles próprios deveriam de sentir.

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