domingo, 23 de dezembro de 2012

Fanny e politiquices


"Decorreram recentemente as eleições para a Associação de Estudantes (AE) da Escola Secundária de Fafe. Estando eu a trabalhar fora do país, dei conta deste facto através da rede social Facebook.
Pelo que me foi dado a entender, há um ou outro aspecto que merece profunda reflexão, não só da parte dos candidatos, mas também da parte de quem os educa e forma.
O primeiro assunto, o que me chocou mais (tendo em conta a minha profissão não entro facilmente em choque), foi a anunciada presença, como arma eleitoral, de uma ex-concorrente da Casa dos Segredos, uma Fanny.
Na minha humilde opinião, mal vai uma geração quando apresentam como arma eleitoral uma pessoa que nada fez de relevante, a não ser ter aparecido num dos piores programas de sempre da televisão! À minha, por muito menos, apelidaram-na de rasca! Em vez disso, podiam apresentar projetos de modo a conseguirem apoio de gente da escola, tipo professores, eles sim, verdadeiras armas eleitorais.
Com isto, coloca-se outra questão. De onde vem o dinheiro para trazer tão emblemática figura à escola? Sim, que estas super figuras públicas ganham a vida a aproveitarem-se destes pobres de espírito.
Em resposta a um comentário meu no Facebook, um elemento da lista disse-me que o dinheiro foi angariado através do patrocínio de quase todas as lojas de Fafe, que fizeram ainda um desfile de moda na escola para promover o comércio local e que ainda haviam comprado material escolar com esse dinheiro para dar aos alunos…e ainda me referiu terem “um programa eleitoral incrível!”
Por partes. Sou o primeiro a dizer que eles gastam o dinheiro como bem entendem, mas muito bem deve andar o comércio em Fafe para patrocinar a vinda de uma pessoa que nenhum ganho lhes dá. Nem sei em que valorizou a lista candidata. Se fosse uma coisa a sério deveria era dar votos à outra lista! Quanto ao desfile e à oferta de material, seriam duas ações altruístas se fossem levadas a cabo pela AE e não por uma lista candidata à AE! Pergunto mais, até que ponto será ético fazer uma coisa destas? Este show off tem apenas um nome…compra de votos! Assumido por alguém ligado às listas, que me garantiu que estas são as únicas maneiras de “ganhar votos”!
Se tivessem realmente um “programa eleitoral incrível” não precisariam deste circo todo. Eu diria que “presunção e água benta cada um toma a que quer”, mas seria algo demasiado severo para estes jovens deslocados da realidade. Eles não são os verdadeiros culpados. Os verdadeiros culpados estão nas suas próprias casas. Eles são livres, mas os pais ainda mandam neles. Os mesmos pais que vão às manifestações chamar de tudo aos nossos governantes e pedir a demissão daqueles, que não são nada menos aquilo que os filhos se estão a tornar! São os seus filhos que vão ser os políticos do amanhã.
A segunda situação que me chamou a atenção foi uma foto de alunos da Escola Secundária de Fafe, supostamente ligados a uma das listas. A foto mostra-nos a bancada do campo de futebol da escola cheia de alunos, levando-nos a pensar que são membros ou apoiantes da referida candidatura.
Isto fez-me pensar que, num momento em que o povo pede cortes a nível de cargos políticos e dos seus assessores, jovens sigam maus exemplos, apresentando listas extensas. Fez-me também pensar que desde cedo se cultiva a ideia que os cargos servem para se garantir benesses para quem os ocupa e para os seus grupos de amigos…e não em ocupar esses cargos para benefício, neste caso, de toda a comunidade escolar!
Critico muitas vezes as “Jotas” como cópias em miniatura dos seus partidos com todos os vícios e compadrios adjacentes…mas vejo agora que o problema começa a nascer numa fase ainda mais embrionária. É por isso que eu digo e repito, os políticos que nós temos, que nós criticamos, são filhos da nossa sociedade (são filhos, netos, sobrinhos, amigos).
E não me venham dizer que a escola tem responsabilidades. Não tem. Ano após ano retira-se autoridade à escola e aos professores na formação dos seus alunos, não peçam agora que a exerçam quando a coisa descamba.
Esta é uma situação que até me podem dizer que não me diz respeito. Porém, como cidadão, acho que diz respeito a todos. Se fecharmos os olhos e nada fizermos estaremos a pactuar com mais do mesmo. Estamos numa de ganhar a qualquer custo, o pior dos princípios que podemos passar a uma geração.
Antes de se fazerem revoluções “armadas”, creio ser urgente fazer uma revolução educacional!"

Notícias de Fafe, 14 de Dezembro de 2012

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