quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Profissionalização…a melhor defesa dos Soldados da Paz

Muito se tem falado nos últimos dias dos bombeiros, infelizmente devido ao elevado número que tem perdido a vida no combate aos inúmeros incêndios que lavram por todo o país. Porém, e na minha opinião, pouco se tem falado na questão essencial e que será a melhor defesa que se pode fazer a estes homens e mulheres…para quando o fim do voluntariado e a profissionalização total desta nobre e mais que necessária profissão?
Não quero menosprezar, de modo algum, o trabalho dos bombeiros voluntários. Acontece que, para mim, a evolução das profissões tem que passar obrigatoriamente pelo profissionalismo. Só um profissional pode estar apto físico, técnico, cientifico e psicologicamente para desempenhar as suas funções a 100%. Aconteceu o mesmo na minha profissão, durante muito tempo desempenhada de modo voluntário por freiras…mas a evolução só se deu depois disso.
Eu não tenho nenhum estudo feito, não é uma evidência científica o que vou dizer, mas este ano parece haver mais mortes de bombeiros que nos anos anteriores. Não sei as causas, não sei o que pode ser feito para que se possa evitar estas situações. Ouvi falar em dotar de mais meios as corporações. Para mim, que falo da minha ignorância (ou não), a melhor arma seria ou será a profissionalização. Permitirmos a quem está a pôr em risco a sua vida que o faça com concentração absoluta no que faz, sem ter que pensar nos problemas que tem no trabalho que lhe dá o sustento, nem acusar o cansaço que este lhe provoca. O cansaço, a falta de concentração, como em qualquer profissão, levam ao erro. O erro num bombeiro pode levar à sua morte. Alguém me sabe dizer um dado muito simples…dos bombeiros que morreram, quantos eram voluntários e quantos eram sapadores?
Dou valor ao que os voluntários fazem, ao arriscar a vida em troca de nada, ao defenderem o que não é seu apenas por altruísmo. Mas aqui coloco outra questão, porque a perda de uma vida humana é a única coisa que não tem reparo. Qual a necessidade de morrer um bombeiro a salvar um monte de mato? Qual a necessidade de morrer um bombeiro a salvar uma casa das chamas? Se nem eu nem qualquer pessoa, que sejamos proprietários desse monte ou casa o faríamos? E que me perdoem os bombeiros, mas aqui não é uma questão de altruísmo. Se não há vidas humanas a salvar, muito menos devia de haver vidas humanas a lamentar. Aqui parece-me mais ser uma questão de má avaliação de prioridades. Não me venham com o argumento que pensam nos bens das pessoas ou que se fosse eu que estivesse com a casa a arder ia querer que a salvassem a todo o custo! Eu nem quero imaginar como me sentiria se alguém morresse para salvar uma casa minha ou um carro meu. Isto também é muita culpa da sociedade em que vivemos, em que as prioridades estão invertidas…o material à frente de tudo, a qualquer custo.
Todos os anos que vivi em Fafe, tirando os 2 primeiros da minha vida, foram passados ao lado do quartel dos bombeiros. Passei muitas horas a brincar juntos aos carros, incluso dentro do quartel, fascinava-me ver o helicóptero a ir e voltar, pouco me incomodando o barulho que fazia. Mas há uma imagem que me recordo muito bem, que era de bombeiros em amena cavaqueira, no cafezito que tinha lá, a beber umas cervejas e a passar o tempo. E de certeza que isto não acontece só na minha terra, porque o hábito da cervejinha está bem assente na nossa sociedade e em várias profissões há pausas para beber a dita. Mas nesta não é admissível. Como se sentiriam se um cirurgião que vos fosse operar, antes da operação, tivesse estado no bar do hospital nos copos?
Há outra imagem bem recente, nas obras do quartel da minha terra, em que as próprias obras e a sua má sinalização estavam a aumentar o risco de acidentes e atropelamentos, com o beneplácito da polícia local e sem qualquer intervenção dos bombeiros e dos seus responsáveis…até serem chamados à atenção por um cidadão voluntarioso e mais que amador no que toca a proteção civil. São situações destas que não podem acontecer, amadorismo e atitudes negligentes.
A profissionalização traz maior responsabilização, ajudando a reduzir o risco de erros. Ouço muitas vezes, quando se questiona a actuação dos bombeiros, que coitados, eles já fazem muito ao fazerem o que fazem de forma voluntária. Não questiono, mas isso não pode funcionar como desculpa. Todas as profissões podem ser criticadas, tem é que ter argumentos para se defenderem.
Eu defendo a profissionalização, porque tem que haver (e há) diferenças obrigatórias entre um profissional e um amador, sem ser apenas a questão monetária. Não ponho em causa a entrega à causa humanitária por parte dos bombeiros voluntários…ponho em causa é a sua disponibilidade (a todos os níveis) para uma profissão tão exigente e de enorme responsabilidade.

A mim revolta-me, eu que adoro futebol, que se fale tanto da profissionalização dos árbitros e que de algo tão importante se assobie para o lado. E o estado agradece, claro, pois mão-de-obra de graça é o que o país precisa.

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