quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Cumprindo o meu dever cívico, não voto…

Dia 29, novas eleições, o que significa que no último mês ou dois meses, estivemos inundados de publicidade partidária. Rios de dinheiro gastos num país em suposta crise, dinheiro proveniente dos salários cada vez mais diminutos dos portugueses, gasto em brindes, concertos, jantares, cartazes etc. Falta de decoro? Para muitos não, nada de anormal, apenas a máquina eleitoral a funcionar.
Aceito que muitos não se importem dos seus impostos serem gastos assim. Apesar de não descontar em Portugal, a mim importaria se fosse o caso.
Aceito que jovens recém adultos, muitos a votar pela primeira vez, tenham o entusiamo do tão proclamado dever cívico. Principalmente, proclamado por aqueles a quem lhes interessa que se vote, os partidos. Eu também já fui assim, cheio de vontade e fé que o meu voto fazia a diferença. Não aceito tão bem é lições de moral, ainda para mais, mal-educadas e prepotentes, de quem ainda tem muito para aprender, de quem ainda faltam algumas noções de correto e errado (mas aí a culpa é da sociedade e mentalidade de onde se vive) e de quem denota partidarite acentuada. Como não me conseguem convencer, tentam obrigar-me? Só faltava essa…
Aceito que pessoas não tão jovens, continuem a votar. Aliás, democracia é isso mesmo, o respeito pelos outros. Mas aceitar não quer dizer que compreenda. Eu demorei onze anos a comprovar que o sistema político que temos não funciona, ou melhor, funciona para alguns, para aqueles que retiram todos os proveitos dele. Está para lá da minha compreensão é que quem vota há cerca de 40 anos ainda não o tenha percebido. Ou percebe, mas lidar com a política como se lida com o futebol é o maior erro que pode haver. Futebol é paixão, política deve ser razão!
Aceito que me digam para votar em branco. Já o fiz nos últimos anos. Também com o sentimento que esse voto significava uma insatisfação, que pensava eu, seria generalizada. Mas ano após ano, o voto em branco é visto como o voto dos preguiçosos, que só sabem criticar e nada fazem. Dos que não têm bem definidas as suas ideias e ideais políticos! Ideais políticos…alguém me sabe dizer o que isso é? Para mim foi uma desculpa para se formarem vários grupos, de modo a albergar o maior número de pessoas, que possam viver à custa dos contribuintes.
Se todas as pessoas que se manifestaram em Lisboa, Porto e pelo país, se todas as pessoas que criticam os sucessivos governos, se todas as pessoas que dizem que não há alternativas votassem em branco, sabem o que significava? Eleições nulas! Esse seria o poder do voto em branco se as pessoas fossem coerentes com o que pensam, mas acima de tudo, com o que dizem. A verdadeira revolução. Como isso não acontece, há sempre um partido vencedor...que no fundo, legitima este sistema e eleições futuras neste molde. Nas próximas legislativas, metem lá o Seguro para meses depois estarem de novo de passeio a Lisboa para se manifestarem…mesmo os que votaram nele! O quê? Vão-me dizer que acreditam que vai ser diferente?
Seja PS, PSD, CDS, CDU, BE etc, o mal são as bases em que se fundamentam e fundaram este sistema. Um sistema em que são os próprios políticos que decidem os seus direitos (e nenhuns deveres) e benesses. Um sistema construído por políticos, mantido por políticos, para benefício próprio e dos seus. Um sistema em que são os favores e amizades que levam aos cargos e não a competência. Sem qualquer tipo de responsabilidades perante o povo! Povo que na vive ilusão que o direito ao voto lhe dá poder de escolha. Dá, sem dúvida, poder de tirar um e mandá-lo estudar filosofia para Paris e, de seguida, colocar outro, que no fim terá destino parecido. E depois de tudo o que fizerem ainda se lhes permite, um dia mais tarde, candidatarem-se a presidentes da república.
Ouvi num filme americano recente algo assim “Antes de sermos eleitos a 1ª vez fazemos de tudo para o conseguir…mal somos eleitos, já estamos trabalhar para a reeleição”. Duvidam de isto? Eu não.
Muita gente diz que se não voto perco o meu direito de manifestar-me contra quem nos governa! Acho que não. Acho que ganho um direito. Além de poder manifestar-me contra quem me governa (mal seria se não tivesse esse direito, votando ou não), ganho o direito de me manifestar contra quem vota e sustenta este sistema! Se o aceitam, não reclamem das subidas de impostos, do aumento do desemprego, dos direitos abusivos dos políticos etc. Eu continuarei a reclamar de consciência tranquila, pois não ajudei ninguém a subir ao poleiro.
Um dia que as regras mudem, que se responsabilize civicamente quem governa por gestão danosa, que as pessoas ocupem os cargos por mérito e competência, nesse dia…repenso a minha postura.

Dia 29 não voto, mesmo que haja candidatos que possam merecer a minha confiança (sendo autárquicas é mais fácil eu conhecer pessoalmente as pessoas). Não é acreditar numa pessoa, que me faz acreditar no sistema. Não admito que me acusem de incumprimento cívico. O cumprimento cívico há muitos anos era dizer ámen a uma ditadura. A minha decisão é mais que pensada, ponderada e responsável, ao contrário da de muitos que vão votar!

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