domingo, 9 de março de 2014

O valor de um berro!

Anda por aí uma teoria que defende que se deve deixar fazer tudo o que as criancinhas querem, não as contrariar, pois só assim conseguirão ser umas crianças plenamente felizes.
Na minha opinião, isto apenas levará a que as crianças de hoje sejam mais tarde adultos prepotentes, sem respeito pelos outros, agressivos ou depressivos perante as contrariedades etc.
Mas isto já é tema mais que debatido e já se começa a ver (de há uns anos para cá) o resultado desta teoria.
Vou focar-me apenas num aspecto, que é o facto de as crianças só fazerem o que querem. Se não querem não são obrigadas. Ok, admito esta visão da coisa, mas uma criança muitas vezes não sabe o que é melhor para ela (nem tem que saber) e os pais que se refugiam nesta ideia, a meu ver, apenas estão a fugir às suas responsabilidades. É o caminho mais fácil, que não leva a chatices nem birras dos filhos. 
Vou pegar no meu caso para servir de exemplo…melhor dizendo, a meu ver o exemplo é o meu pai e não eu. Como já escrevi aqui, entrei para o Karate com seis anos. Durante muitos anos conjuguei a prática do Karate com outros desportos (principalmente escolares) e, como é normal nas relações de larga duração, houve uma altura em que saturei, perdi algum ânimo, aliado também à saída do meu melhor amigo do Karate e estive dois meses sem treinar. Tudo servia de desculpas. Teria eu os meus treze anos, mais coisa menos coisa. Hoje já estaria na idade da emancipação, de sair à noite e não dar cavaco aos pais.
Lembro-me como se fosse hoje. Estava eu no meu quarto e o meu pai, muito calmamente, entra e pergunta “Não vais treinar hoje?” Ao que eu respondi com mais uma das minhas desculpas esfarrapadas que não ia. Do tom calmo, a um berro inesperado grita o meu pai “Pega imediatamente no saco que vais ao treino!” Levou-me ao treino. Não que fosse preciso confirmar que eu ia mesmo ao treino, pois nesse momento seria incapaz de sair de casa para outra coisa que não fosse para treinar.
O meu pai simplesmente foi pai. Achou, e bem, que o filho não sabia o que era melhor para si mesmo. Então não fugiu à sua responsabilidade, contrariou-me, forçou-me, se assim quiserem, a ir. Resultado? Em vez de ter ficado traumatizado e com problemas psicológicos, ainda hoje, passados uns dezasseis anos, continuo no Karate. Uma casa onde muito aprendi como pessoa e fundamental no desenvolvimento e afirmação da minha personalidade.
Por isso, o que sinto hoje não é raiva, birra nem qualquer menosprezo por essa atitude do meu pai. Às tantas no momento tive, mas não me lembro. Sinto sim um profundo agradecimento por me ter orientado quando mais precisei.

Muitas vezes cresce-se mais com um “Não”, que com um vida repleta de “Sins”.

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