segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Ser família...

Desde que iniciei este caminho na Enfermagem muitos foram os casos que me fizeram crescer, não apenas como profissional, mas também como pessoa. Vemos as pessoas quase sempre numa situação de fragilidade, fora do seu contexto habitual, com inseguranças e dúvidas que, de fora, podem não fazer muito sentido, mas fazem.
Cabe a nós, profissionais de saúde, não apenas a enfermeiros, ser o suporte destas pessoas, esclarecer dúvidas e afastar receios. Sermos ouvintes, prestáveis, profissionais com e de confiança. Porém, o suporte maior que toda e qualquer pessoa pode e deve ter, é o da família.
Estamos habituados a ler e ouvir nas notícias sobre casos de abandono de idosos (e não só), dos depósitos que são as urgências (e não só) deste país. Sem dúvida alguma, situações tristes e revoltantes. Atenção, falo de casos de abandono e não de casos de pessoas que se deram ao abandono por tudo o que fizeram na vida. Há sempre dois lados da história e nem sempre a vítima está do lado de quem supostamente é abandonado.
Contudo vivi recentemente uma daquelas experiências que são o exemplo dos exemplos. Que, mais que ensinar o que não queremos ser, ensinam-nos o que devemos ser. Foram inúmeras as famílias com quem lidei que se preocupavam com os seus, que lhes deram tudo ao seu alcance, que se preocuparam e colaboraram na recuperação deles.
Porém, esta experiência superou isso. Familiares obviamente preocupados com o familiar, com dúvidas mais que compreensíveis. Familiares que compreenderam sempre o nosso lado e que foram um auxílio para nós e para o familiar durante o seu internamento. Mas não foi isto que me impressionou. O que me fez abrir os olhos de espanto foi o facto de viajarem 8h de autocarro por dia para poderem visitar o familiar. E visitando, não se limitaram a ser visitas. Foram família, estiveram e foram presentes.
Por isso, de todos os casos que falei, fico-me com estes, com os positivos. São estas pessoas que vão passando pela minha vida que, não fazendo parte dela, marcam muito. Fizeram-me crescer, fizeram-me ver o que é amar alguém, sem os floreados dos contos de encantar.

A eles, que agradeceram tudo o que fizemos, não sendo mais que a nossa obrigação, o meu sincero obrigado.

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