quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O desencanto do Natal

Como já frisei anteriormente, o Natal é a época do ano que vivo com uma tranquilidade intensa, em que sinto tudo o que me rodeia de forma diferente. Se isto acontece deve-se ao facto de, quando era pequeno, um conjunto de pessoas me ter feito acreditar e incutido na magia do Natal.
Quem foram essas pessoas e o que fizeram? Primeiro as pessoas…pais, tios e avós, aqueles com quem passava a véspera e o dia de Natal e aqueles que conviviam comigo diariamente. E o que fizeram? Com dedicação, com ternurenta dedicação, com mentira, a mais terna das mentiras, fizeram-me acreditar no Pai Natal. Acreditei, se não me engano, até aos 9 anos (como era boa a inocência daqueles tempos) e tudo graças à imaginação e à vontade dessas pessoas em quererem ver o brilho de encanto que me invadia os olhos nessa noite.
Havia a indispensável carta ao Pai Natal. Não havia prendas à vista com antecedência. Faziam trinta por uma linha para eu sair de perto da lareira para eles porem as prendas e dizerem que foi o barbudo. Quantas vezes saí à rua quando me diziam que tinham avistado o trenó e eu saía disparado na ânsia de o ver! E acreditem, cheguei a vê-lo! Não havia aquela preocupação narcísica de saber quem é que deu as prendas…era sempre o gordo! O que se fazia, por exemplo, era que as prendas dum tio eram entregues no dia a seguir e dizia-se que foram as prendas que o Pai Natal deixou na casa desse tio. Era a altura em que recebíamos presentes diferentes, aqueles brinquedos ou livros que jamais recebíamos ao longo do ano. Aqueles brinquedos que íamos usar até dizer chega, que íamos conservar como se fossem o maior tesouro à face da Terra. Dávamos, sabíamos dar valor ao que tínhamos. Ainda devo ter, algures numas caixas, grande parte dos meus brinquedos. Velhos, gastos, mas ainda conservados.
Hoje em dia fere-me ver a morte da magia do Natal. Não se confunda magia do Natal com desespero em receber muitas prendas. Os miúdos sabem cada vez mais cedo que o homem de vermelho não existe. Sabem que são os pais ou que é o tio x ou o tio y a dar as prendas. Por preguiça ou falta de imaginação das pessoas em fazer acreditar. Pelo interesse egoísta de se querer que saiba quem deu o quê. Temos os presentes na árvore de Natal muito antes da meia-noite. E eu tenho pena, pena em primeiro lugar dos pequenos que se vêem privados do encanto natalício; pena em segundo lugar pelos adultos que se negam de experienciar o olhar maravilhoso duma criança crente; pena, em terceiro e último lugar, por morrer a crença numa época mágica, para se ficar apenas pelo consumismo desenfreado.

Apesar de tudo eu acreditei, acredito e continuarei a acreditar na magia do Natal. Por muito que a veja a definhar, por muito que eu veja falta de vontade dos adultos em manter a mais bela mentira do mundo, eu lutarei por ela. Pela minha parte, nenhuma criança será privada da bela inocência da sua infância.


Sem comentários:

Enviar um comentário