domingo, 29 de janeiro de 2017

Crianças, como atuar?

Como é óbvio, não serei eu a dar resposta à pergunta do título, pois faltam-me capacidades para tal. Não sou expert da área, não sou educador ou professor, não trabalho com saúde infantil, não sou pai…ou seja, sou um perfeito inapto ou ignorante para falar sobre o tema.
De qualquer modo, arriscarei a dar a minha opinião, como costumo fazer.
Vivemos numa sociedade em que, perigosamente, as vontades dos adultos estão cada vez mais submissas às vontades dos mais pequenos. E desta forma temos o mundo ao contrário. Utilizei a palavra “vontade” de forma propositada. Se falasse em necessidades, não estaria aqui a escrever isto e estaria completamente de acordo. O problema é que cada vez mais aparecem mentes geniais a dizer que isto é que está bem.
Teorias há muitas, das sérias às duvidosas, com messias anunciadores de novas verdades, pondo em causa tudo o que se preconiza até à data. Seja na área infantil, como em qualquer outra. Numa época em que os nosso olhos são expostos a um vasto número de informação, em que todos, através duma simples pesquisa no Google, nos sentimos verdadeiros Dr. House’s, temos, mais que nunca, de ser inteligentes naquilo que aceitamos.
E quando falo em ser inteligente, não me refiro a ir pelo caminho mais fácil. Quando temos uma dúvida devemos pesquisar, idealmente, sem nenhuma ideia pré-concebida, senão estaremos a orientar a nossa pesquisa para ir de encontro a essa ideia.
Só como exemplo, se eu consumo muito açúcar e quero pesquisar sobre a interferência do açúcar na minha saúde, não devo, como é óbvio, pesquisar “benefícios do açúcar para a saúde”. Adultero o meu estudo e só me servirá para tapar os meus olhinhos e insuflar o meu ego…”Eu estava certo, o açúcar tem benefícios, vou continuar como até agora!”
Isto foi apenas um exemplo, não estou a falar de açúcar, mas sim de crianças e a sua educação. Como se sabe, teorias sobre a educação também há muitas, das mais conservadoras, passando nas equilibradas, até chegarmos às ultra modernas.
E o que nos dizem muitas destas novas teorias que defendem as inocentes e indefesas criancinhas? Que não se deve ser muito exigente com elas, que se deve deixar fazê-las o que elas querem, pois um “não” pode ser muito traumatizante, que não se deve deixá-las chorar etc.
Não sei se é apenas pelas novas gerações de pais acreditarem mesmo nisto, não sei se é por terem menos tempo para os filhos, não sei se é por terem menos paciência, não sei se é por não se quererem dar ao trabalho de educar…mas os miúdos são, cada vez mais, o reflexo destas novas teorias que, na minha, repito, minha opinião, apenas servem para deseducar e formar pequenos malcriados e prepotentes.
Havendo vários aspetos que considero equivocados, o maior equívoco que assisto é a igualdade de estatuto entre criança e adulto. Temos inocentes crianças que chegam a qualquer sítio e pensam que são donas e senhoras de tudo. Temos inocentes crianças que não fazem o que lhes mandam, simplesmente, porque não lhes apetece. Temos inocentes crianças que olham para um adulto da mesma maneira que olham para o colega do lado. Temos inocentes crianças que se portam muito mal e são incapazes de o reconhecer…talvez porque não têm bem definida a diferença entre bem e mal, porque o portar-se mal é a única realidade do seu dia-a-dia.
Depois temos os pobres dos professores, ou de qualquer pessoa que tem que ensinar alguma coisa às crianças, que se deparam com uma situação enviesada. Em vez de receberem alunos para ensinar, recebem alunos que têm, em primeiro lugar, que educar para depois ensinar. E educar demora muito mais tempo e dá muito mais trabalho que ensinar. E os programas nas escolas de certeza que não contemplam o tempo necessário para a primeira. As escolas, quanto muito, devem reforçar a educação que é transmitida em casa…nunca ser veículo primário de algo que as crianças desconhecem no seio familiar.
Adoro crianças e o carinho que tenho por elas não diminui por não aceitar colocar-me ao nível delas. Nem o delas por mim diminui. Tanto brinco com elas, como a seguir exijo disciplina. E a melhor maneira de transmitir valores é dando o exemplo. Acredito sinceramente que uma criança sem regras é uma criança que se sente perdida, embora possa aparentar ser dominante. Elas precisam de amor, sem dúvida, mas também de regras, disciplina e, acima de tudo, de orientação.

Como disse, teorias há muitas, mas os resultados avaliam-se na prática. E a prática diz-me, não sei se só a mim, que o modelo educacional atual está errado. Porque não é um caso, ou dois ou três, é a maioria. Os bons resultados, esses começam a ser a, cada vez mais pequena, minoria. A culpa…a culpa nunca será das crianças, elas são as vítimas. Felizmente para elas que ainda há quem adore trabalhar com elas.





domingo, 22 de janeiro de 2017

Cumplicidade

Se há algo que toda a gente sabe de mim, dos amigos de longa data aos amigos mais recentes, é a minha devoção aos meus afilhados. Ela a mais bela de todas as princesas, ele o chico esperto mais engraçado que existe.
Um dia, certamente, serei pai. É uma vontade que foi crescendo dentro de mim desde bem cedo, quando era criança ainda, e todos sabemos que os sonhos de criança são os mais puros e sinceros. Deve-se isto, em grande parte, a ter sido escolhido para padrinho em tão precoce idade, tendo semeado o sonho ao ver crescer a minha Joana. Desejo este reforçado com o aparecimento do meu João Pequeno, já numa fase diferente da minha vida.
Adoro crianças, embora não seja dos que as tratam com exagerado mimo e tolerância, não perdendo, na minha visão, o carinho e respeito que me retribuem.
Reunir na mesma sala os meus dois afilhados é sempre uma experiência que me enche o coração. E desta última vez, alguém conseguiu captar um daqueles momentos que ficará eternamente guardado na minha memória. Fora as brincadeiras entre os dois a que pude assistir, o olhar revelado nesta foto é, para mim, do mais ternurento e cúmplice que pode haver.

Não sei se já disse, mas amo os meus afilhados…somos o perfeito triângulo "J"...Jorge, Joana e João!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Não foi esquecimento

Sei que o teu aniversário terminou há uns minutos, sei que, às tantas, parece que nem te felicitei dada a ausência de palavras, mas nada mais errado.
Estive à procura de fotos contigo e não encontrei mais do que as de anos anteriores, consequência, quem sabe, de seres sempre o fotógrafo de serviço.
Vivemos num mundo em que uma foto perdeu valor, dado os milhões que se devem tirar por dia, mas de vez em quando convém deixar alguma para a posteridade.
De resto, felicitei-te e volto a felicitar por mais um aniversário, mais um
que foi possível passar envolvidos no calor da família. A minha prenda este ano foi essa, tentei que tivesses perto de ti todas as pessoas que são importantes.
Cada vez mais os bem materiais significam menos, ficam os momentos, as histórias, as memórias que ficam gravadas na nossa cabeça.
Se pudesse dava-te o mundo, pois seria o mínimo para retribuir tudo o que me deste e dás, para retribuir a pessoa na qual, em grande parte por ti, me permitiste tornar. Sempre foste primeiro Pai, depois Amigo, mas deste modo sempre soube que tinha em ti o melhor deles…o Pai e o Amigo.
Espero que tenhas tido um feliz aniversário…e parabéns, muitos parabéns!

Beijo,
Do teu Filho


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Tão perto…e tão longe!

No outro dia fui jantar e tomar café com um dos meus grandes amigos, daquelas pessoas que por muito tempo que possamos estar sem nos ver, a amizade em nada é abalada. Crescemos praticamente juntos e somos duas pessoas, modéstia à parte, cultas e com gosto em discutir um largo número de assuntos do dia-a-dia. Como consequência, nas quase quatro horas de convívio não houve espaço para telemóveis ou silêncios constrangedores. Sim, somos terrestres e não de Marte.
Estávamos em amena cavaqueira no café quando se senta um casal, na casa dos quarenta anos, na mesa ao lado. Até aqui nada estranho. Passa o tempo e, uns trinta minutos depois, outro casal chega e senta-se com o anterior, ele junto a ele, ela junto a ela e começam a falar. Virei-me para o meu amigo e perguntei “reparaste no mesmo que eu?”, ao que ele respondeu afirmativamente. E no que ambos, sem falarmos disso, reparamos?
O primeiro casal desde que se tinha sentado, ele e ela apenas tinham falado para pedir o que queriam. Desde aí até chegarem os amigos, um silêncio absoluto, absorvidos pelos deslumbrantes ecrãs dos seus telemóveis.
Juro que fiquei “incomodado” com o que assisti, uma cena surreal, mas que, cada vez mais, assistimos todos os dias em vários contextos. Vivemos num mundo egoísta e de relações solitárias (a velha questão de estar sozinho acompanhado).

Há uma preguiça gritante em se estabelecer contacto social, mesmo que as mesas de cafés e de restaurantes estejam lotadas com supostos amigos. Qual a lógica de ir ao café com um amigo e pôr-me no facebook a falar com outro? Para depois chegar a casa e ir ao facebook dizer ao amigo com quem tomei café “Pá, temos que marcar outro café para falarmos mais um bocado!”
Já escrevi sobre isto, mas repito. Estamos com as pessoas sem estarmos. Somos companhia sem o sermos. Desrespeitamos quem perde um pouco do seu tempo para estar connosco com a mais gritante falta de respeito. Temos uma incrível dificuldade (ou falta de vontade) para reinventarmos as nossas relações, sejam elas de que género forem.
Podem dizer que exagero, mas basta olharmos com olhos de ver o mundo à nossa volta e facilmente constatamos a veracidade do que digo. As causas podem ser discutidas, a realidade é o que se vê. E isto começa em idades, cada vez mais, precoces.
Somos, cada dia que passa, mais e mais prisioneiros do mundo virtual, tal e qual uma serpente encantada que segue o som da flauta. Estamos em tal ponto que o estado de encantamento é visto como sendo algo normal, o que nos rodeia é visto como secundário.
Os telemóveis e as redes sociais mudaram, sem dúvida, o mundo…duvido é que o tenham tornado melhor e mais feliz.







sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

A imensidão de um olhar...

Desde há uns oito anos atrás até agora, sempre que vesti o uniforme de trabalho deparei-me com um tipo de olhar muito característico, pertença de pessoas que entraram na fase final da vida, apesar de ninguém poder afirmar quando este será.
Não sei bem descrevê-lo…
Talvez um olhar triste, presente em pessoas que perderam o controlo da sua vida.
Talvez um olhar cansado, presente em pessoas exaustas da vida.
Talvez um olhar que clama desesperadamente por ajuda, em pessoas que perderam a capacidade de pedi-la.
Talvez um olhar que, muitas vezes, pede desculpa pelo que sai descontroladamente da boca.
Talvez um olhar distante, de pessoas que recordam um passado longínquo em que foram jovens sonhadores.
Talvez um olhar ausente, privado de planos para o presente e futuro.
São olhares que nos dizem muito, que carregam em si todo o peso de uma vida, vidas de felicidade ou de infelicidade, vidas de árduo trabalho ou de momentos inesquecíveis. Muitas vezes a dor, mais que do corpo vem da alma, e exprime-se através de olhos que “falam”, “gritam” e choram.
Há ocasiões que por detrás de um palavrão ou de uma agressão está alguém desesperado, preso num corpo que já foi seu e que agora não lhe responde mais. E estas pessoas precisam, da nossa parte, de muita paciência, dedicação e, porque não, carinho.

Não é fácil perceber isso, não há nada nos cursos que nos ensine nem prepare para isso, nem apenas a experiência, por si só, nos pode dar isso. Creio que, acima de tudo, é a sensibilidade de cada um para o cuidar que o permite. E gostar, gostar muito do que fazemos. Peço desculpa, gostar não, amar.