quinta-feira, 30 de junho de 2011

OE ou não OE

"Caros prezados leitores…aqui escreve-vos alguém atormentado nos últimos dias pelas insónias, por noites muito mal dormidas, sempre a matutar na mesma coisa! Se é em mulheres? Não, desta vez não, mas é numa ela! E em quem? (perguntam vocês) Eu respondo…a Ordem dos Enfermeiros (OE)!
Para quem não sabe este rato jeitoso (de nome e não só) é Licenciado em Enfermagem. Porquê? Bem, o mais normal seria por ser um curso frequentado maioritariamente por ratinhas, mas o que é certo é que era algo que já pretendia uns anos antes de entrar no curso. Porém, as minhas intenções não são para aqui chamadas.
Muita gente não sabe, mas Enfermagem possui uma Ordem. Esta Ordem foi algo que veio trazer grandes benefícios para a profissão, pelo menos foi o que se fartaram de dizer enquanto tirei o curso. Claro está que enquanto estudante, vive-se mais os problemas dos estudantes (propinas, saídas, semanas académicas, encontros), que propriamente os problemas da profissão.
Acontece que findo o curso, e como se tem muito tempo para isso, começamos a pensar no nosso rumo (nosso e da profissão).
E qual o cenário com que nos deparamos (confesso que por muito mal que pudesse estar, nunca imaginei que estivesse tão mal)? Um muito péssimo, em que as perspectivas de emprego são quase nulas! E hoje em dia nem adianta vir com o factor C (não tem nada a ver com vitamina C), pois não é garantia de nada. Até se pode arranjar trabalho assim, mas também se corre o risco de passado 6 meses (duração normal dum contrato) sermos substituídos por alguém com um C maior que o nosso.
Voltando ao que interessa, segundo Guadalupe Simões, em entrevista à TSF, “temos cerca de 5000 enfermeiros desempregados, temos cerca de 7000 enfermeiros em vínculo precário, sendo que os contratos a termo certo, já a partir de Novembro, muitos serão despedidos”. Mas a meu ver, no que considero verdade há mais. Porque é que digo o que considero ser verdade? Porque para a Ordem e para outros que tais isso não é verdade…mas a questão é que a maior parte do pessoal que terminou há um ano (sim, não é o que acabou este ano, esses bem vindos ao martírio) está a trabalhar, sim senhor, mas em Espanha. E o que me choca? (olhem que não é fácil chocar-me) É ver que ninguém faz nada para encerrar escolas ou diminuir o número de vagas de acesso ao ensino de Enfermagem. Um país deve formar consoante as necessidades que tem. Bem, necessários, pelo que ouvi dizer são milhares, logo também se deve ter em conta as possibilidades do país. Se a saúde do estado e a saúde privada não têm capacidade para acolher tamanha afluência de enfermeiros recém-licenciados, o caminho a seguir é encerrar escolas ou diminuir drasticamente as vagas. Como é possível, que numa profissão com tão pouca saída, as escolas estejam sempre cheias? Cheias sempre entre os 60 e os cento e tal alunos. E para quem não sabe, entre públicas e privadas, são 54 escolas de Enfermagem em Portugal (ver “Cartas de Croca”, em www.forumvaledosousa.com). É só fazer as contas (por ano formam-se 3000 novos enfermeiros). Mas escolas não vão encerrar, sabem porquê? Interfere com muitas coisas…com muitos interesses. E o que fazer com o grande número de professores, que iriam para o desemprego? Sim, porque a verdade é que alguns pararam no tempo, não estão na prática há mais de 10 anos e na nossa profissão isso, a meu ver, é essencial.
A verdade é que vejo a única entidade que poderia fazer algo pela profissão imersa numa pasmaceira incrível e aplicada em coisas secundárias tendo em conta a situação actual. A ideia que grande parte dos recém-licenciados tem da Ordem, é que é um órgão impotente, incapaz, fraco e pouco disposto a encontrar e a lutar por soluções válidas para a profissão. E digo os recém-licenciados ou pessoal que acabou recentemente o curso, pois quem está bem não se queixa nem lhe interessa mover muito as águas (sei que generalizo, há sempre excepções). Ou alguém pensa que um enfermeiro, que está no quadro dum hospital, se preocupa com isto? Podem dizer “há, coiso e tal, está mau…” Sim, está mau, mas não é para eles, muitos dos quais com duplo ou triplo emprego.
A Ordem neste momento pode assumir que está a formar profissionais para trabalhar em Espanha, de tal modo que muitas escolas privadas (principalmente), mal acaba um curso, coloca os seus alunos no país vizinho. Quando nos dão a cédula, também poderiam dar a homologação do título, de modo a podermos logo trabalhar em Espanha. Facilitavam muito o trabalho e poupavam muitas dúvidas. Ah, e colocarem uma cadeira de espanhol obrigatória. Bom, por agora dá Espanha, mas por este andar também vamos lotar o mercado espanhol (seria obra)!
Mas o que me levou a escrever aqui foi uma notícia que li no http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/5b5eb9a9eff79fa4318895.html#page=1, em que vai passar a haver, após os 4 anos de licenciatura, um ano de internato. Para mim isto é a maior vergonha dos últimos tempos. Para quem não tem noção da realidade do nosso curso, pode até achar muito bem, que um ano sob a supervisão de alguém só faz bem e ajuda a formar melhores profissionais. Meus amigos, mas o que se passa é o seguinte. Temos um curso de 4 anos. Os três primeiros, quase metade do ano teoria, metade do ano práticas. Um último ano praticamente todo ele em estágio intensivo, supostamente de integração à vida profissional (sempre supervisionados). Não me venham dizer que faz falta um ano de internato! Muita gente diz “Ah, faz falta sim senhor, que às vezes apanha-se cada um (a)”. Quem diz isto ou só olha para o seu umbigo ou é hipócrita…ou burro! Em primeiro lugar, estas pessoas também vão apanhar com os internos, que segundo a ideia que passa são uns nabos. Vão ser as suas “cobaias”. Como foram ao longo dos 4 anos de curso. E em segundo lugar, quem é que estando a começar a sua profissão é perito no que faz? Ninguém. Ou pensam que um bom professor começa logo por o ser? Ou que um arquitecto começa logo por fazer a sua obra-prima? Não digo que não se possa ser bom mal se acabe um curso, mas é com o dia-a-dia, com os erros (não falo de grandes erros), com as novas experiências, que as pessoas se tornam peritas no que fazem. E bons e maus profissionais há-os em todas as áreas.
Sabem o que eu acho? Um enfermeiro novo precisa é de praticar, de adquirir auto-confiança, de perder o medo de fazer as coisas. Falo por experiência própria e pela de muitos colegas que comigo acabaram o curso. Ter não sei quantos doentes ao nosso cuidado (neste momento é um serviço inteiro) amedronta qualquer um. Pouca gente que acaba o curso diz-se preparada para começar a trabalhar, mas é isso que é preciso, trabalhar. Ou pensam que os enfermeiros antigos, os experts, daqueles que não falham uma veia, que actuam rapidamente em qualquer situação, nunca falharam uma veia ou se viram à nora em determinados momentos? Quantas vezes isso deve ter acontecido. E que me perdoem as pessoas, mas é “praticando” nelas que nos tornamos experts.
Esta situação, na minha opinião, acarreta outro problema (enorme). Este internato pelo que li vai ser pago, mal, mas vai. Ou seja, estes internos vão ocupar o lugar de enfermeiros. Logo está à vista a grande conquista do estado. Faltam enfermeiros, ninguém duvida. Então o que se faz? Mete-se internos, que equivalem aos actuais recém-licenciados a nível de preparação, paga-se menos e tem-se os cuidados prestados. E no fim do ano de internato que vai acontecer? Ficam os internos com os seus lugares, mas agora como verdadeiros enfermeiros? Não! Simples, vão os internos (pessoas muito melhor preparadas que há um ano atrás…para quem não percebeu, é ironia) para o desemprego e metem-se novos internos! Meus amigos, é pessimista, mas sinceramente é isto que vai acontecer. Vai-se criar um ciclo de entrada e saída de internos que vai criar um aumento do desemprego (ainda mais) na profissão (desculpem a minha falta de crença, mas esta é a minha convicção).
Sou da opinião que um Enfermeiro adquire muitas mais competências se ao acabar o curso começar logo a trabalhar como enfermeiro autónomo e responsável…do que se passar mais um ano em práticas sob a orientação de alguém. A meu ver isso não promove nem a auto-confiança nem a auto-responsabilização do profissional. Um interno vai acabar esse ano como acabou o 4º ano de curso…com mais um pouco de prática. Ou alguém pensa que a insegurança de alguém se resolve a colocar essa pessoa sobre a supervisão de outra pessoa que assume as responsabilidades das decisões? É apenas o prolongar o curso por mais um ano. Ninguém aprende a andar de bicicleta se não se tirarem as rodinhas de trás.
Para mim, o pior é estar cerca de um ano sem arranjar emprego (ou mais), pois aí sim, perdem-se as competências adquiridas até aí. A teoria se não é acompanhada pela prática perde a sua força.
Ou seja, para concluir, a Ordem com este acordo com o estado só prova uma coisa…os seus membros precisam urgentemente de fazer um internato numa Ordem a sério, para verem como se aprende a defender os interesses duma profissão! Para o que fizeram mais valia não fazer nada.
A ideia que a Ordem passa é que só está interessada no dinheiro das cotas mensais dos seus sócios, se eles estão ou não a trabalhar, não é com eles. Porque se fossem outros, quem ainda não trabalha não deveria pagar cota. Só se deveria pagar cota a partir do momento em que se trabalha, sem retroactividade, ou seja, sem ter que pagar o tempo que se esteve desempregado…e a meu ver só quando se trabalhar em Portugal. A verdade é uma, “À mulher de César não basta sê-lo, tem que parecê-lo!” Está na hora da Ordem ser dos Enfermeiros (todos)! "



Eu começo a ter medo! Escrevi este texto há cerca de 2 anos, creio eu. Além de, na minha opinião estar actualizadíssimo, algumas das coisas que previ concretizaram-se! Partilho de novo este texto, no local mais apropriado a assuntos ligados à nossa profissão. Se me vão dar feedback não me preocupa muito, apenas espero que a partilha das minhas ideias consiga levar-vos a pensar ou repensar em determinados aspectos.

Um dia espero que apareça alguém capaz de levar a nossa digna profissão para a frente, e quem sabe se uma pessoa assim não se encontra nestas novas gerações?

sábado, 25 de junho de 2011

Carta Aberta aos colegas Enfermeiros/Estudantes e à “nossa” digníssima Ordem

No dia 20 de Maio de 2011, eu e certamente milhares de colegas meus enfermeiros (as) recebemos um e-mail da Ordem dos Enfermeiros sobre a possibilidade de a partir de agora, quem quiser, poder pagar as cotas da Ordem por débito directo do ordenado. Como há muitas questões da Ordem que me fazem comichão (ou dizendo numa linguagem mais correcta, prurido), aproveitei para abordar as pessoas de lá sobre um dos assuntos que mais me provocam esse mal-estar, o facto de os recém-licenciados (desempregados) terem de pagar as cotas à Ordem mesmo não trabalhando.
Sendo assim enviei um e-mail de resposta (que tolo sou) ao que me enviaram, dizendo o seguinte “Boa tarde. Esta proposta também é válida para quem não tem emprego e, consequentemente, não tem vencimento? Isso sim, seria uma proposta séria e responsável da Ordem. Melhores cumprimentos,
Enfermeiro Jorge Gomes”

No dia 24 do respectivo mês recebi um e-mail em que me diziam que me iriam tentar responder o mais brevemente possível, o que veio a verificar-se como sendo verdade, pois no dia 25 enviam-me o seguinte e-mail:
“Ex.mo/a Sr./a Enf. Jorge Gomes
Em resposta à exposição de V. Exa. datada de 23 de Maio de 2011, encarrega-me o Sr. Enf. Germano Couto – Presidente do Conselho Directivo Regional de agradecer e “informar que uma vez que se encontra na situação de desempregado pode suspender temporariamente a sua inscrição na OE e, como tal, não pagará quotas enquanto tal situação se mantiver”.
Na expectativa de que a presente ajudará a esclarecer as questões colocadas, agradecemos a sua comunicação e disponibilizamo-nos, desde já, para contactos futuros se tal entender necessário.
Cumprimentos,
Ângela Moura
Secretariado: Conselho Jurisdicional Regional/Conselho Directivo Regional”

Contudo eu não fiquei satisfeito com as explicações, aprofundei mais a questão e coloquei novas questões, no dia 25 de Maio:
“Desde já agradeço a vossa resposta, uma vez que não esperava qualquer tipo de contacto.
Eu não falei no meu caso, apesar de estar desempregado em Portugal, trabalho em Espanha. Falo no caso de centenas (para ser simpático) de colegas que acabam o curso e estão meses (mais uma vez a ser simpático) sem encontrar qualquer tipo de situação laboral.
No tempo em que passei por isso (de Agosto de 2007 até Julho de 2008), disseram-me na Secção Regional Norte que eu poderia suspender a inscrição, mas que ao levantar a suspensão teria que ser efectuado o pagamento de todos os retroactivos, ou seja, de todos os meses que a cédula estivera suspensa. O que me parece que é uma maneira de contornar um problema, não de o resolver, e que na altura mostrava um aproveitamento total dos enfermeiros desempregados. Se hoje em dia assim não é, dou os parabéns por um passo rumo à seriedade e à honestidade (para não falar de Ética), que uma entidade como a nossa Ordem deve ter como princípios base.
Quanto a este assunto, tenho só mais uma dúvida. Imaginemos. Estou desempregado e suspendo a cédula. Não pago o tempo em que estou desempregado. Com este tipo de suspensão, fico na mesma com a vinheta da Ordem em dia, de modo a poder concorrer a todos os concursos que possam aparecer? Como devem saber, ter a cédula profissional com os pagamentos em dia, é critério presente em todos os concursos.
Mais uma vez, reitero o meu obrigado pelo vosso contacto e esclareço que sou apenas um jovem enfermeiro, um no meio de milhares, preocupado com a situação actual da profissão em Portugal e com pena de não poder exercer o exercício da profissão no seu país.
Melhores cumprimentos,
Enfermeiro Jorge Gomes”

No dia 27 de Maio recebo mais uma vez o e-mail a dizer que me iam tentar responder o mais brevemente possível:
“Ex.mo. Sr. Enf. Fernando Gomes
Encarrega-me o Sr. Enf. Germano Couto – Presidente do Conselho Directivo
Regional de acusar a recepção e agradecer a exposição de V. Exa. datada de
26 de Maio de 2011 e informar que em breve lhe daremos resposta.
Disponibilizamo-nos, desde já, para contactos futuros se tal entender
necessário.
Cumprimentos,
Ângela Moura
Secretariado: Conselho Jurisdicional Regional/Conselho Directivo Regional”

Vamos a 26 de Junho, e ainda espero ansiosamente pela resposta esclarecedora da Ordem, tal como os Portugueses esperam pelo regresso do saudoso D. Sebastião!
É por estas e por outras que os novos enfermeiros não se revêem neste organismo, pois para serem explorados e abandonados já basta os patrões que oferecem pechinchas como “trabalhar 6 meses de graça e no fim dos 6 meses vê-se se fica” ou “paga x e admitimo-lo no nosso hospital, a recibos verdes e por 6 meses, depois logo se verá”.
Não vou mais longe nas críticas e nas palavras porque sei que em Portugal quem diz a verdade muitas vezes é penalizado. Este exemplo que dei revela a todos a Ordem que temos…enquanto podem, tentam dar a volta a situação, com falsas soluções, mas perante confrontações directas remetem-se ao silêncio…dos culpados!
Termino dizendo que o que me faz sentir Enfermeiro, não é aquele cartão azul com a vinheta actualizada. São os meus doentes, a minha finalidade como enfermeiro, que me fazem senti-lo todos os dias!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Gracias

Hoy voy arriesgarme a escribir en castellano. Porque? Creo que ya lo debo a algunas personas.
Ya es día 7 de junio, día de mi cumpleaños. Estoy en Pontevedra. Relativamente lejos de mi familia, de mis grandes amigos. Pero mismo así, consigo sentirme en casa, rodeado de personas a quien echo de menos, a personas a quien, sin duda alguna, puedo llamar de amigas. Son compañeras de trabajo o personas que están trabajando también fuera de su país.
Son estas personas, estas chicas inolvidables, a quien agradezco el rato que he pasado hace unos momentos, haciendo disminuir la soledad que puedo sentir. Es en grande parte por ellas que me hizo el enfermero que soy al día de hoy. Ellas son una parte responsable de yo ir a trabajar con una sonrisa en la cara (la otra parte son los enfermos).
Para mí no hay enfermeros, auxiliares o médicos. Todas tienen nombre, a todas llamo por igual.
Gracias “M” por todo lo que he aprendido y aprendo contigo (incluyendo las tonterías), por el placer que es trabajar contigo.
Gracias “S”, “M” y “C”, por la compañía y amistad dentro y fuera del trabajo.
Gracias “C” y “S”! Una compañera de trabajo y persona que ha conquistado mi admiración. La otra compañera de salidas y de buena disposición!
Gracias “M”, la última a llegar, pero que va ganando su espacio en el corazón de toda la gente. A ti, te agradezco porque me diste de nuevo la confianza en que puede haber médicos humanos, preocupados de verdad con los enfermos y sin la presunción que son mejores que todo el mundo (y por no me acertares con el agua)!
A todas vosotras, muchísimas gracias por hacer del día de hoy algo más que un simples día!
Un beso enorme de “Fer”!

P.S. - Pido perdón por los posibles errores!