quinta-feira, 21 de maio de 2015

O mundo ao contrário...

Como todos sabem sou adepto do Benfica. Quem me conhece melhor, sabe que gosto de futebol. Não sou capaz de estar uma tarde inteira a ver vários jogos de futebol. Vejo os do Benfica e selecção e, quando posso, assisto aos do Real Madrid e do Chelsea, por questões óbvias. Fora isto, poderei deitar o olho a um grande jogo. Mas questão, questão, faço em ver os do Benfica.
Sou do Benfica porque sim, nunca tive um pai fanático por nenhum clube e que me impusesse a minha cor clubística…apesar de acabar por termos a mesma cor, ele do Braga, eu do Benfica. E o que sinto hoje pelo Benfica e o gosto que tenho pelo futebol, agradeço-o ao meu pai, que aos 9 anos levou-me a ver pela 1ª vez um jogo do Benfica a Guimarães (que irresponsabilidade!). Bancada central, nada de adeptos separados. Civismo absoluto. Naquela altura acho que se vendiam mais bilhetes que os lugares que havia, daí ter passado o jogo todo a pé, algo que não me incomodou nada de nada. Ganhou o Benfica, 2 a 1, recordo um golo do Ailton de cabeça de fora da área e de sair do estádio, calmamente, e de termos parado num daqueles vendedores de artigos do clube, onde o meu pai me comprou a minha 1ª e única bandeira do Benfica.
Depois disto, fui ainda ver alguns jogos a Braga. Um quarto do estádio gritava golo d Braga e todo o estádio gritava golo do Benfica. E voltei a ir a algum jogo em Guimarães. Foi com esta normalidade que aprendi a gostar de futebol e do Benfica.
De repente, num jogo em Guimarães, à saída e sem que nada o fizesse prever, caíram pedras sobre nós. O meu pai nunca mais foi comigo a um jogo lá. Algo que na altura me fez confusão, porque raio não posso ir ver o meu Benfica, quando ele vem jogar tão perto de minha casa? Mais tarde uns anos, já no pós-Euro 2004, mais do mesmo. Pedras a caírem à minha frente. Que mal tinha feito eu? Os adeptos do Vitória colocados, como um exército, no monte em frente à saída do estádio a arremessá-las. O mesmo se passou em Braga, ainda no 1º de Maio, num final de jogo que houve pedras a voar na nossa direcção. E ultimamente mais do mesmo tem acontecido.
Engraçado como duas cidades rivais, que dizem ser muito diferentes, se tornaram tão iguais devido ao futebol.
Posto isto, chego ao que interessa. O senhor que apanhou do polícia em Guimarães podia ser o meu pai. Que se visse algum polícia daquela vez que nos mandaram pedras também era capaz de ter reclamado. Por isso muito, mas mesmo muito, custa-me entender o discurso “culpa teve o pai em levar o miúdo ao jogo!” Isto só é possível em alguém com as ideias de cidadania e liberdade completamente viradas do avesso. O pai apenas fez o que o meu pai em tempos fez por mim. Nem um nem outro são inconscientes nem criminosos…nem muito menos culpados do que seja.
Culpas? Têm os dirigentes e esses não apanham bastonadas. Como merecia o vice do Vitória na semana antes do jogo, ao atiçar os adeptos do próprio clube ao dizer, tal lobo em pele de cordeiro, “Não festejem em Guimarães, vão lá para o Marquês!” Culpas? Têm as organizações dos jogos em deixar que se misturem adeptos normais e claques. Como já me aconteceu e aconteceu também neste jogo. Há gente nas claques que não está lá pelo futebol, nem lhes interessa que a pessoa ao lado seja da mesma equipa. São um perigo para todos, então como é possível deixá-los, sem controlo policial, com o resto dos adeptos?

É verdade, eu deixei de ir ver jogos a Guimarães e Braga. Pelo que pago, vou a Lisboa ver os jogos à Luz, em segurança e conforto. Mas não consigo criticar um pai que leva um filho a um jogo, seja ele qual for, porque pensa que está num país livre. O normal para mim é poder ir ver qualquer espectáculo, as anormalidades ficam com os anormais. Quem o critica, pensa da mesma maneira daqueles que atiram as pedras e destroem tudo por onde passam.

terça-feira, 12 de maio de 2015

A greve da TAP

Muito se tem falado sobre a greve da TAP, sobre a sua justiça e, principalmente, pela sua injustiça. (http://sol.pt/noticia/391660)
Antes de mais, a greve é um direito de todos os trabalhadores. Sejam pilotos, médicos, enfermeiros, carteiros, professores, empregados têxteis etc. Claro que toda a gente sabe, sem paninhos quentes, que greves no sector privado são muito improváveis, pois, de modo camuflado, há sempre “ameaças” no ar. O que está mal. Direito devia ser igual, seja privado ou público.
Posto isto, não entendo o alarido pelos incómodos provocados pela greve dos pilotos. Eu não sei os motivos, atenção. Sei que apenas 30% dos pilotos fizeram greve. Ok, pode suscitar a pergunta “Terão 30% razão e os outros 70% estarão errados?” Também se pode criticar e eu critico a imbecilidade de um gabarola dizer “provocamos um prejuízo à empresa de 30 milhões de euros”, quando muitas empresas, por muito menos que isso fechavam as portas.
Agora, não critico a greve nem os transtornos que trouxe. Sim, não me afectou, se me afectasse às tantas mandava os pilotos dar uma volta a certo sítio, mas a frio, apenas posso dizer que estão no seu direito.
As greves servem para os trabalhadores mostrarem insatisfação pelas condições laborais e para mostrarem, a quem de direito, que o papel que desempenham é importante no seio da empresa. Que sentido faria fazer greve se assim não fosse?
Eu não posso ser hipócrita e criticar os pilotos, quando há muito que defendo uma greve total da minha classe, que tem vindo a ser massacrada ano após ano. Infelizmente isso não é possível e os transtornos não se fazem sentir, pois a questão dos serviços mínimos, ficando a cargo da consciência de cada um, é de uma completa subjectividade. Ou seja, mesmo havendo menos gente nos serviços, em vez de assegurarem os cuidados mínimos, matam-se e esfolam-se para que o dia corra o mais normal possível…e pergunto eu, para quê então fazer greve? Será que queremos mostrar que fazemos falta ou que com menos gente se faz o mesmo? Que até pode ser mal feito, mas aparece feito e é o que conta para as estatísticas.
E como não posso ser eu hipócrita não pode ser muita gente. Ou todos os que os criticam nunca fizeram greve com transtornos para os demais? Os professores fizeram greve a exames e sempre os defendi. Médicos fazem greve e consultas que pessoas esperam meses por elas são adiadas por tempo indeterminado. Os homens do lixo fazem greve e as cidades ficam a cheirar pior.

Como eu costumo dizer, com o mal dos outros posso eu bem. Para terminar deixo a pergunta, nota-se egoísmo maior da parte dos pilotos ou da parte de quem os critica?