quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A Whole "Old" World

Inadvertidamente alguém me sugeriu para filme do serão de hoje o “Aladino” da Disney. Assumo que sou um adepto dos clássicos da Disney.
Na minha infância apenas tive a oportunidade de ver uns 2 ou 3…agora aproveito para vê-los a todos. De vez em quando, no sem número de filmes que vejo, faço um intervalo e meto um filme Disney.
Admito, volto a parecer um puto deliciado com a perfeita harmonia das imagens com as músicas, algo que a Disney faz como mais nenhuma outra.
Emocionei-me há uns anos com o Rei Leão…ri-me hoje com o Aladino. Já vi e revi as aventuras e desventuras do Pinóquio, do Dumbo ou do Robin dos Bosques! Já sonhei em querer uma princesa como a Bela Adormecida ou a Branca de Neves (uma loira e outra morena, para não haver invejas)!
São desenhos animados que não apresentam a evolução dos filmes actuais…mas desenhos animados, creio que é isso mesmo. É a magia do lápis, das cores, da história. Todos os filmes a que me referi vão muito além dos efeitos visuais que criam aos nossos olhos. Acima de tudo são as histórias que nos revelam, que nos prendem até ao final.
Um dia, espero que os meus filhos (se os vier a ter) tenham a oportunidade de crescer a ver algo que realmente vale a pena VER!
E como referi…um número incrível de músicas fantásticas!



























segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Hasta siempre...

Hoje estou triste. Estou triste porque sou um mau enfermeiro. Sou um péssimo profissional.
Há umas das premissas de ser enfermeiro que eu não consigo ter. Podem-me pedir, mas não se adequa à minha maneira de ser. Eu apego-me a alguns doentes. Cuido de todos com o mesmo empenho e responsabilidade, mas há alguns que me tocam mais fundo, com os quais, mesmo não estando a trabalhar, fico preocupado com o seu estado. Creio ser um pouco normal tendo em conta que conheço alguns há mais de 2 anos.
Hoje morreu um paciente do meu serviço. O Senhor “MC” estava lá desde que eu comecei a trabalhar. Já lá vão mais de 2 anos. Nestes 2 anos foi aquela pessoa (doente) com quem falei mais, que mais vezes me perguntava como é que eu estava, que me saudava sempre que me via (muitas vezes com um sonoro “Olá F”), do qual eu me despedia dele sempre pela manhã, quando ele já estava a tomar o pequeno-almoço (dizendo sempre “Hasta mañana amigo”).
Se era meu amigo? Se considerarmos amigos aqueles que nos querem bem, não tenho dúvida que era um grande amigo. Teve os seus momentos de desvario, mas com os seus 80 e poucos anos tem que se dar um desconto. Mas no fim da insanidade vinha sempre um pedido de perdão, muitas vezes com lágrimas a acompanhar. Na sua sanidade nunca me faltou ao respeito, tratou-me com carinho, mostrou-se preocupado comigo.
Andava sempre a dizer que as raparigas deviam andar cegas por eu não ter namorada e nos últimos tempos andava convencido que eu tinha passado as minhas férias com “una Chica guapa”. Desisti de tentar dizer-lhe o contrário, pois se lhe dizia que não era verdade ele dizia “não te preocupes, não tens que me contar”, com um piscar de olho a acompanhar.
Já me morreram muitos doentes desde que comecei a trabalhar, nunca senti o que sinto hoje. Morreu-me um amigo.
Estou de férias desde quinta-feira, passei no serviço na sexta-feira e disse-te “Hasta mañana C”…passei lá hoje e já lá não estavas. Enganei-te…perdoa-me por isso.
Agora digo-te, estejas onde estiveres “Hasta siempre amigo mio!”

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A uma Enfermeira especial...

Já aqui falei muitas vezes de bons e maus colegas. Principalmente destes, pois fico alucinado com certas e determinadas situações.
Porém, neste momento, irei falar duma pessoa que, desde há um ano, 3 meses e dezassete dias é das melhores colegas/enfermeiras que conheci até hoje.
Não há nada de extraordinário em ter bons colegas. Porém a nossa situação, a meu ver, é algo rara, uma vez que eu não trabalho directamente com ela. Posso dizer que nunca a vi a trabalhar. E devem estar a pensar neste momento “Este gajo diz que a rapariga é uma boa colega e nunca a viu a fazer nada? Está tolo!”. É simples e passo a explicar.
Eu faço o mesmo turno que ela. Quando eu livro, trabalha ela e vice-versa, dai nunca nos encontrarmos. Só que não preciso de vê-la a trabalhar…eu vejo o resultado do trabalho dela. E as vezes é mais importante isso do que o que se vê directamente (muitas das vezes é fogo de artifício).
Quando ela começou éramos apenas conhecidos de vista da escola. Recebi-a como tento receber qualquer colega novo e como penso que gostaria que me recebessem a mim. E com o passar do tempo apercebi-me da profissional competente (engraçado como uma palavra tão simples engloba muitas outras palavras) que ela é. Com o passar do tempo fomos descobrindo maneiras de ajudarmos um ao outro, mesmo nunca trabalhando juntos. No serviço somos uma equipa de cinco enfermeiros, tenho mais algumas grandes colegas, que sinto que são da mesma equipa que eu, mas creio que eu e a “AMF” conseguimos criar uma mini-equipa, na qual compreendemos perfeitamente o que o outro passa e sente por trabalhar neste turno específico. Partilhamos problemas, angústias, frustrações, experiências que muitas vezes não se partilham trabalhando diariamente com uma pessoa.
Por motivos definidos pelo rumo incerto da vida, a “AMF” vai sair do serviço. Já lhe disse pessoalmente que lamento a sua decisão, mas que a compreendo e que tem o meu total apoio. Não fico triste por um motivo. Sou daqueles que acha que se deve ver o lado positivo das coisas, sejam quais forem as situações. E aqui encontro um lado positivo enorme. Neste ano e pouco, a “AMF” ajudou-me a evoluir, como pessoa e como profissional. Deu-me o privilégio de conhecer uma colega e agora digo sem problemas, AMIGA, fantástica.
Sei que não gostas, pois dizes que fazes apenas o que a tua consciência “ordena”, mas és uma excelente enfermeira e companheira de trabalho.
É verdade que não há pessoa insubstituíveis, a pessoa que vem para o seu lugar (que já conhecemos) é também uma excelente colega e enfermeira. Não é por aí que fico preocupado, nem é isso que está em causa.
As pessoas passam e as instituições seguem o seu trabalho, é a lei da vida e aplica-se a todos, eu inclusive…mas o que importa é a marca que essas pessoas deixam por onde passam, e “AMF”, tu sem dúvida deixaste a tua!
Beijinho já com saudades, do amigo “F”

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Contente :D

Uma amiga deu-me há uns dias uma notícia maravilhosa…vou ser tio!
Lá está, não é uma amiga qualquer, é como se fosse uma irmã. Não tenho irmãos de sangue, mas tenho irmãos da vida. Por isso, creio que os seus filhos serão “sobrinhos” meus!
Quando ela me deu a notícia fiquei super contente. Principalmente porque sei que era seu desejo e quero que ela seja feliz. Depois, porque adoro crianças!
Não me alongo muito mais, apenas deixo o meu desejo de muitas felicidades para os futuros papás!

domingo, 5 de setembro de 2010

Saudade

Não sei porquê, mas hoje tive um apelo mais forte de um sentimento que está sempre presente, mas com o qual consigo conviver. Hoje senti um aumento da saudade que tenho de uma pessoa. Uma pessoa que já se despediu de nós há alguns anos, não sei quantos, pois prefiro não contá-los. Prefiro a lembrança de que ainda me parece que foi ontem que lhe dei um beijinho e disse “Até amanhã Vó M.”
Foi das pessoas mais importantes da minha vida e ainda hoje o é. São muitas as noites em que “falo” com ela, em que desabafo com ela, em que ela me ouve e aconselha. Não conheci pessoa mais bondosa, mais trabalhadora, mais caridosa, mais querida por todos na vida. Não conheço uma pessoa que fale mal dela.
Foi respeitada e acima de tudo Amada por filhos (as), netos (as), bisnetos (as), genros e noras, amigos (as). Todas estas pessoas acompanharam de perto a vontade de viver da minha avó perante uma doença incurável. Admirei-a por isso e acreditem, muitas vezes era nela que íamos buscar forças para a acompanharmos nesta luta inglória. Nunca lhe disseram a doença que tinha, mas creio que ela se deve ter apercebido da sua gravidade.
Foram tempos difíceis de encarar, mas sempre que estive com ela procurei ser sempre optimista (se ela própria o era, não deviam ser os outros a não ser). Foram 4 anos a saber que a minha avó iria morrer brevemente. Vi a minha mãe e tias a chorar durante este tempo…só sei que a primeira vez que chorei foi cerca de três semanas antes da sua morte, quando cheguei a casa após ter ido visitá-la ao hospital. Pela primeira vez senti que o fim poderia estar muito próximo. Assustei-me. Tivera 4 anos para me preparar para um momento e não o consegui.
A segunda vez que chorei foi na véspera da sua morte, na sua casa. Pela primeira vez chorei junto à minha Vó, a segurar-lhe na mão, procurando inutilmente, arranjar maneira de lhe aliviar o sofrimento. Estive com ela durante algum tempo, não sei nem nunca saberei se ela sabia que eu estava lá. O que sei é que nos despedimos nesse momento. Saí de casa da minha avó por volta da 1h com a certeza que não queria nem iria ver mais o sofrimento da minha Vó.
E assim aconteceu, faleceu na noite a seguir. Reagi com indiferença absurda quando o meu pai me acordou (4/5h da manhã) e me contou. Virei-me na almofada e as lágrimas começaram a cair. Só de manhã, quando me levantei, é que me apercebi que não tinha sonhado.
Os dias seguintes foram terríveis…lembro-me no funeral de estar junto ao meu primo “J”, abraçados um ao outro, chorando compulsivamente, sabendo que ambos sabíamos o que o outro estava a sentir.
Cresci praticamente com a minha Vó M. Quando nasci, morei com ela quase até aos 2 anos…durante o infantário e a primária estava quase sempre lá.
Lembro-me de ela andar nas lides da casa e eu andar atrás dela; lembro-me de ela ir buscar o pão e ir com ela; lembro-me de ela ir passear e eu ir com ela; lembro-me de ir com ela a feira; lembro-me dos momentos que passamos na janela de sua casa, a mais central da cidade, com vista para o centro, vendo o corrupio de pessoas na rua, sempre com ela “Vai ali fulano tal…olha vai ali a dona não sei das quantas!”.
Sei que a minha Vó gostava muito de mim (era a única pessoa que cada vez que me via dizia que estava mais alto e mais bonito!) e sei que ela sabia o quanto eu gostava dela. Sei que nos últimos tempos nunca lhe disse isso e perdi a oportunidade de o fazer. Espero que lhe tenha dito as vezes suficientes quando era pequeno.
Não vi a minha Vó após o seu falecimento, foi uma opção não aceite por algumas pessoas, mas a imagem que eu quis guardar dela não era essa. Guardo a imagem da segunda Mãe que ela foi para mim. Não guardo apenas…tenho enormes saudades!
As lágrimas que me caiem no momento em que escrevo estas palavras, não são por pena de ela não ter presenciado o final da minha licenciatura, de não presenciar um dia um casamento meu ou de não conhecer os meus futuros filhos. São lágrimas de agradecimento por me ter dado a possibilidade de 20 anos em que ela sempre foi uma fonte de felicidade.
Beijinho com muito Amor…para a minha Vó M.

Despedida

No meu dia-a-dia trabalho com pessoas idosas, algo que adoro e me satisfaz bastante.
É uma fase da vida em que muitas das pessoas têm um défice enorme de carinho, que se sentem sós e abandonadas.
Há algo que não costumo fazer, que é despedir-me dos “meus” doentes quando eles vão de alta. Temos lá doentes que estão connosco meses e ganhamos carinho especial por eles…pelo menos isso acontece comigo.
Hoje fui-me despedir de uma senhora que vai embora estes dias e que não vou ver mais. A “E” foi uma doente peculiar, começou por ser muito chatinha…e manteve-se sempre chatinha! Teve um TCE e nunca mais recuperou da “avaria” da cabeça. Despedi-me dela dizendo que era eu que ia embora porque ela ainda não sabia da alta.
Os seus momentos chatinhos tanto podiam ter que ver com a doença como com o feitio que ela já tinha antes do acidente. Porém fez-me passar momentos de puro riso com os seus desvarios nocturnos, com as suas indignações constantes. Íamos mudar a fralda e dizia “Não, não te quero aqui, tira as mãos daí, vais-me roubar o que é meu!” ou quando íamos fazer uma colheita de sangue “Não, não vais fazer nada…tu queres é o meu sangue para dar aos outros!”.
Ou como na última noite quando eu lhe disse que tinha que arranjar um namorado para ajudá-la e ela me diz “E tu achas que há algum rapaz que me queira?” ao que eu disse “Rapaz?”…e responde ela “Sim, rapaz, que para velha chego eu!”
Mas a melhor dela não me esqueço mais. Em mais uma troca de fraldas diz-me ela “Dás-me um beijo?”, que eu, já não me lembro bem porquê, não dei. Diz ela com toda a propriedade do mundo “Ai ai, quando uma mulher tem que pedir um beijo a um homem a coisa está má!”. Claro está, ri-me logo na hora! São momentos destes que nos fazem aliviar o cansaço do trabalho.
Hoje, sendo então o último dia que eu ia estar com a “E”, fui saldar a minha dívida. Dei-lhe um beijinho de despedida, ao qual ela responde, as lágrimas a começarem a cair, com “Desculpa por todos os incómodos que te causei!” Só consegui dizer “Te hecho de menos, guapa!”…dei meia volta e fui embora emocionado.