sexta-feira, 15 de julho de 2016

Um ano diferente


Chega ao fim mais uma época na Associação de Karate de Fafe, o início de umas merecidas férias após um ano de muito trabalho, muita dedicação e excelentes resultados (não apenas em competição).
Após quase 25 anos de prática, este foi um ano diferente. Por circunstâncias da vida nunca me tinha sido possível assumir uma aula na casa em que cresci. Finalmente, este ano, foi-me possível cumprir esse sonho. Sim, um sonho, talvez o único que tive enquanto karateca. Podem-me questionar se nunca sonhei ser cinto negro. Sinceramente não. Chegar a essa graduação foi algo natural, fruto da evolução técnica, física e psicológica conseguida ao longo dos anos. Mas nunca um sonho.
Quem me conhece sabe que adoro crianças, mas existia sempre a dúvida de como ia lidar com um grupo delas. Se iria ser capaz de ganhar o respeito delas. Se iria ser capaz de lhes transmitir o que sei. A grande dúvida…será que sou capaz de ensinar quem nada sabe?
A única coisa que sei é que, à medida que tentei conquistar os meus alunos, fui conquistado por eles. Vivemos num mundo mais indisciplinado, menos respeitoso, com menos princípios, cheio de pressa e sem paciência, a começar pelos adultos, refletindo-se isso nas crianças. Verdade seja dita, foi muito fácil trabalhar com o grupo que caiu nas minhas mãos. Quer com as crianças, quer com os pais.
Quanto ao desafio de os ensinar…descobri que cada um dos meninos e meninas são, por si só, um desafio. Primeiro, pela individualidade das suas personalidades. Segundo, porque cada um procura, de forma mais específica, alguma coisa no karate.
O trabalho foi árduo, longo e exaustivo…mas prazeroso. Apraz-me chegar a esta altura e ver todos os resultados conseguidos. E não falo em medalhas. Isso deixo para os mais crescidos. Falo, isso sim, no crescimento que estes miúdos tiveram. Nas inseguranças que perderam, na disciplina que ganharam, nos amigos que fizeram. Mais além das performances técnica e física conseguidas, que não podem ser descuradas. Tenho orgulho em vocês.
Devo confessar que foram muitos os dias que chegava a casa cansado do trabalho e que a vontade maior era de descansar, deitar-me no sofá, fechar os olhos e acordar no dia seguinte. Mas não podia. Tinha-vos à minha espera. E acreditem, vestir o GI, apertar o cinto, entrar no tatami e fazer a saudação…era como um reanimar das forças perdidas. Sabem, naquela hora do treino só existo eu e vocês. O resto, o cansaço, os problemas, as dores de cabeça, tudo desaparece.
Tenho que deixar uma palavra para o Sensei Marinho e para a Sensei Sónia. Tal como vós, sou um aprendiz. Noutra fase, mas não deixo de o ser. E contei com a preciosa ajuda e orientação deles para evoluir também neste novo percurso. E irei continuar a contar.
Espero que este ano tenha sido o primeiro de um longo percurso a orientar crianças nesta casa. Atenção, repito e sublinho, nesta casa. Quando digo que são “meus” alunos é apenas por uma questão “burocrática”. Vocês são e serão alunos da AKFAFE. Foram a minha primeira turma, por isso lembrar-me-ei sempre de cada um.
Agora tenho outro sonho. Que cresçam connosco durante muitos anos, que façam desta casa a vossa segunda família. Apesar de ainda não estar mentalizado, sei que isso vai acontecer com uma minoria. Seja como for, desejo apenas que sejam felizes, cresçam saudáveis, que se tornem homens e mulheres de bem, com princípios e valores bem vincados. Que levem um pouco de nós, assim como nós ficamos com muito de vocês.
O meu obrigado…e até Setembro!

OSS!

terça-feira, 12 de julho de 2016

Fantásticos campeões!

Dois dias passaram desde aquela estoica vitória em terra francesas. Num dia marcado pelo êxito desportivo português, realço o mais mediático, aquele que, por ser desporto colectivo, considero de maior dificuldade e, sem hipocrisia, porque adoro futebol. Muita gente que apregoa que só se fala do futebol, desconhecia, até à data, nomes como Sara Moreira, Patrícia Mamona, Jéssica Augusto ou Rui Costa (muitos devem dizer “ah, não sabia que o Rui Costa tinha enveredado pelo ciclismo”). Ou sequer que temos um português búlgaro a lançar umas bolas esquisitas…por acaso eu sei, porque acompanho as notícias do meu clube. Mas toda a gente sabe quem é o Cristiano, o Pepe, o Patrício, o Sanches, o Quaresma e, agora, até o Éder! Porém, fica bonito dizer que se acompanha a par e passo todos os desportos…mas onde estavam quando Portugal ganhou inédita medalha de bronze no Europeu de Karate?
Falando do Euro 2016, que mais dizer que não foi dito? Apenas posso falar da minha vivência. Nunca fui muito adepto do Fernando Santos, mas quando foi apresentado como seleccionador conquistou-me pelo seu discurso. Sem falinhas mansas, sem medos, com a convicção de quem sabe o que quer e quando quer. Até poderia não ter concordado com todas as escolhas dele, nos 23 escolhidos, mas ele é que sabia. Na brincadeira disse muitas vezes que íamos ganhar o Euro porque eu comprei a camisola da selecção. A verdade é que eu comprei a camisola porque sabia que era a camisola da equipa que ia ganhar. Quem me conhece, quem viu e viveu os jogos comigo, mesmo nos momentos de maior descrença, sabe que da minha boca sempre saiu um “vamos ser campeões!” No dia da final, no serviço, repeti muitas vezes…”vamos ganhar!”
Porquê este (exagerado) optimismo? Porque confiei, quer no seleccionador, quer no grupo. Mas acima de tudo porque o Cristiano queria ganhar…tinha que ganhar!
Sou fã do Cristiano, para mim (podia ser por ser português, mas não é) é o melhor do mundo. Mostrou-o durante quase toda a prova, exceptuando os momentos finais do 1º jogo. De resto foi o jogador e capitão que precisávamos. Um capitão que, talvez pela primeira vez, acreditou tanto naqueles que o seguiam como em si mesmo. As lágrimas de desespero que deitou, caído no relvado, arrepiaram-me. Aquilo não eram lágrimas de dor, mas sim de um jogador que não queria defraudar um país. Cristiano, acredita, não defraudaste. Foi a tua vontade de querer continuar que serviu de luz aos teus colegas. Mesmo fora do campo foste o farol que eles precisavam. No teu momento mais infeliz, soubeste engrandecer os outros…e és enorme por isso. Mostraste que o melhor do mundo tem que ter uma coisa…nunca virar a cara à luta!
Sei que o Patrício foi o melhor guarda-redes do torneio (faço-lhe uma vénia). Sei que o Pepe foi o melhor jogador de toda a prova, que ele e o Fonte foram a melhor dupla de centrais. Sei que o Guerreiro e o Sanches foram os mais irreverentes. Sei que o Nani e o Quaresma, finalmente, disseram presente numa grande competição. Sei que o Éder foi o herói inesperado (a ele, vénia maior). Sei que o segredo de Portugal campeão, foi uma equipa pragmática, fria e coesa, fugindo da lógica do sangue lusitano. Mas este europeu foi obra do Cristiano e do F. Santos. Um arquitetou tudo o outro foi a voz dele dentro do campo. Sintonia perfeita na ambição e na crença.
Depois do Europeu e da Champions (e quase a Liga), só admito a Bola de Ouro para um jogador. Que me desculpem Bale, Suarez, Neymar ou Messi. Quando ao melhor treinador da época, só admito dúvidas entre F. Santos e C. Ranieri (desculpa Rui Vitória). Um e outro obtiveram feitos inéditos, penso que o de Ranieri mais difícil. Mas acredito que uma vitória que foi a alegria de mais de 11 milhões vá ter o seu peso!

Parabéns Portugal, parabéns Campeões da Europa!