Vivemos uma época conturbada, não
só a nível político e económico, mas também de carência de valores…dois
problemas que não são independentes um do outro.
Hoje em dia só se houve falar em
greves, manifestações…em deitar abaixo o governo (engraçado, que quem o faça de
forma mais veemente seja o partido que governou anteriormente, da forma que
TODA a gente sabe)! Antes de me alongar no que vou escrever, deixo aqui bem
claro que não tenho cores políticas, isso das cores apenas concebo para equipas
desportivas. O governo de um país deve estar acima de qualquer suspeita, de
qualquer interesse ideológico…apenas os interesses nacionais devem ser tema de
preocupação e governação.
Para dizer o que quero, vou fazer
uma pequena viagem ao passado, uma pequena abordagem da nossa história, que
apesar de não ser muito distante, não cabe no imaginário das nossas mentes,
porque são tempos em que já poucos viveram.
As pessoas tendem a classificar a
disciplina de História, que temos obrigatoriamente até ao 9º ano, como sendo
uma seca, algo sem interesse algum. Posso ser suspeito por ter um professor
desta disciplina em casa, mas eu sempre gostei dela. Sempre gostei de conhecer
o nosso passado, as nossas origens, pois só assim se conhece um povo na sua
essência.
O povo português ao longo dos
tempos é reconhecido como um povo trabalhador, lutador e até conquistador…mas
que da mesma maneira que conquista as coisas, num acesso de soberbia, perde
tudo o que conseguiu. Somos bons trabalhadores, mas muito maus a gerir o que é
nosso. Aconteceu com os descobrimentos, tornamo-nos “Donos do Mundo”, apesar da
nossa insignificância no mapa, e não soubemos gerir isso.
E agora chegamos onde eu queria.
Quando terminou a Monarquia, tivemos uma República
Democrática Portuguesa de 1910 a 1926. Marcada essencialmente por uma
ingenuidade política, que nos levou a uma instabilidade ímpar a nível de
governos. Isto fez-nos chegar a uma grave crise financeira, também em
consequência da 1ª Grande Guerra). Esta crise levou à chegada ao poder de um
homem que toda a gente recorda, mas apenas pelo fim do seu reinado…António
Salazar! Ele foi o responsável por impor “então uma forte austeridade e um rigoroso
controlo de contas, principalmente aumentando os impostos e reduzindo as
despesas públicas, conseguindo assim um saldo orçamental positivo logo no
primeiro ano de exercício.” E antes do Salazarismo, tivemos a Ditadura
Nacional, regime esse dirigido por militares. No fundo, tivemos na mão uma
primeira tentativa de democracia e não o soubemos gerir.
Em 1974, fartos de opressão e da falta de
liberdade, os militares (será coincidência que, apesar de se gritar aos sete
ventos que “o povo é quem mais ordena”, sem eles nada se faz?) resolveram
revoltar-se novamente (suponho que o desgaste da Guerra Colonial tenha sido o
grande impulsionador desta revolução, e não apenas os ideais da liberdade e
igualdade…mas é apenas a minha opinião). Desta revolução nasceu o actual
sistema político.
O que à partida seria a defesa da igualdade
para todos, se analisarmos bem as coisas não foi bem assim. O Dr.º Mário Soares
e outros que tais, são os pais, os fundadores, deste sistema podre e corrupto
que temos hoje em dia. Em que não é qualquer um que pode chegar ao governo.
Para lá se chegar é preciso, desde cedo, entrar num submundo de contactos e
favores, de influências e, porque não dizê-lo, de corrupção. Em que quem lá
chega são pessoas que não sabem o que é subir a custo na vida, são pessoas que
sempre tiveram a vida facilitada, meninos dos papás, em que meros telefonemas
para as pessoas certas resolviam os seus problemas. No fundo, um bando de
incompetentes.
E isto começa desde logo nas “Jotas”,
nestes pseudo partidos de jovens, que não são nada mais que réplicas do produto
original (e defeituoso). Jovens que até podem ir para lá bem-intencionados, mas
que se veem enredados pelas teias do submundo político e acabam numa de duas
saídas possíveis…ou saem ou mudam para se adaptarem à realidade.
Nos últimos anos assistimos a uma troca de
poder entre PS e PSD, em que nenhum fez melhor dos que os seus antecessores e
todos eles se viram envoltos em escândalos…escândalos esses que são anunciados
aos 4 ventos pelo partido da oposição…mas que quando estão no poder são os
primeiros a branquear os seus. E aqui é que parece que as pessoas partidárias
andam a brincar com a nossa cara (pelos menos com a minha que não tenho
partido). Falam do Relvas, quando tivemos a mesma coisa com o Sócrates? Falam
de desvios e derrapagens como se fossem as pessoas com mais moral do mundo, quando
todos os governos até hoje foram responsáveis pelo mau uso do dinheiro público?
Eu tenho vergonha na cara…mas há muita gente que não tem.
No dia 15 de Setembro saiu à rua, creio que
uma das maiores manifestações de sempre. Eu não fui, que tinha um afilhado para
conhecer. Eu a ir, iria manifestar-me contra a crise mundial que atravessamos e
contra todo o sistema político, que diz uma coisa e faz outra. Recuso isso sim,
a ir a uma manifestação em que o que impera é a demagogia. Em que se critica
medidas que têm que ser tomadas. Estamos a passar por um momento de grave
crise, esperam passar por ela sem perder poder de compra? Sem prescindir de
certos luxos? Eu enquanto mantiver o meu trabalho (em Espanha, porque já há 5
anos que o meu país não tem capacidade para me dar trabalho) e ganhar mais ou
menos o que ganho, consigo viver. Sem grandes luxos, sem ficar rico, mas vivo.
Os portugueses atingiram um nível de vida ilusório. Ter casa e não sei quantos
carros, foi luxo proporcionado pelo crédito bancário, com dinheiro que as
pessoas não tinham. É preciso voltar a mudar o chip, em que em vez de comprar
tem que se alugar. É preciso adaptarmo-nos ao tempo em que vivemos. Dou um
exemplo, eu adoraria ser pai, mas fora a questão de arranjar a mãe certa,
questiono muito o trazer um filho ao mundo se não lhe posso proporcionar o
melhor.
Os portugueses querem acima de tudo, passar
pela crise sem sacrifícios (falo da generalidade). Haverá pessoas em
dificuldades, não duvido. Pessoas que não têm trabalho nem apoio familiar. Mas
o que eu vi no dia 15 foi uma hipocrisia. Fizessem a manifestação em Agosto a
ver se tinham muita gente. Eu continuo a ver o Algarve cheio, os aeroportos
cheios, os restaurantes cheios, os cinemas cheios, os cafés cheios, as pessoas
de carro novo (e não é qualquer carro)…pergunto eu, que sou meio ignorante…onde
está a crise no meio disto tudo?
As pessoas saíram à rua a pedir a cabeça do
ministro e a apelar à adesão das forças armadas. Eu conheço a nossa história. O
que as pessoas pedem é que se abra uma caixa de pandora e creio que maior parte
não tem noção disso. Vivemos uma segunda oportunidade democrática e mais uma
vez não estamos a saber gerir a nossa liberdade e o poder que ela dá. Num tempo
de crise, como o que se vivia em 1926, num tempo em que eu digo que a crise
financeira mundial é a 3ª Grande Guerra Mundial, a entrada em cena das forças
armadas seria para passarmos de uma democracia para…?