A Páscoa, nem tanto pela parte religiosa em si, sempre foi algo que me cativou e
encantou.
Desde pequeno, desde que a memória
me permite ter lembranças, a Páscoa foi sempre passada em casa dos meus avós
paternos, numa aldeia para os lados de Braga. Eu que nasci numa cidade, apesar
de pequena, tive a sorte de ter um meio que me permitisse crescer a apreciar a
alegria pascal, coisa que não seria possível em Fafe.
Todos os preparativos, as mesas
cheias de coisas que as crianças adoram (e não só), as famílias reunidas (para
mim o mais importante), tudo a comemorar a alegria da vida…e, cometendo uma
inconfidência, o gosto ganho pelo vinho do Porto, bebido às escondidas dos
graúdos, juntamente com o meu primo mais velho (acho praticamente estando os
dois nos trintas, não há problema)! A ansiosa espera pelo compasso, sempre
esperando o ouvir da campainha que anunciava a aproximação do grande momento.
Depois, visita a outras casas, sempre com o mesmo ritual. E no dia a seguir,
mais do mesmo na terra da minha avó. No meio disto tudo, o folar dos padrinhos
era tipo a cereja no topo do bolo, mas um bolo bem grande e recheado.
Mais tarde e mais recentemente pude
ver que, com ligeiras variações, a tradição é seguida noutras partes do Minho,
neste caso do Alto Minho. Possivelmente das tradições mais bonitas dos tempos que
correm. Quem nunca o viveu, valeria a pena “perder” um tempo a viver algo
assim.
Desde que o meu avô faleceu a Páscoa
perdeu algo do seu encanto. E creio que finalmente percebi o porquê. A Páscoa
para mim era aquela casa…os meus avós, a minha família, aquela porta aberta,
aquela sala a receber o compasso, aquela mesa. Era quando mais me sentia em
casa, mesmo não estando em casa. É verdade, tenho saudades disso tudo!
Por isso dentro de uma hora entro a
trabalhar, repetindo a dose amanhã. Não me importo. Para mim será um Domingo
como outro qualquer.