Comemoram-se hoje os 43 anos do 25 de Abril de 1974,
a inesquecível Revolução dos Cravos. Um movimento que devolveu a liberdade a um
povo que vivia esganado pelas mãos de ferro dum regime tirano.
Passado tanto tempo olhamos para trás e para o ponto
onde estamos e só podemos admitir que alguma coisa falhou. É verdade que
vivemos livres. É verdade que, apesar de crises e mais crises, as condições de
vida são muito melhores hoje em dia. É verdade que estamos melhor que na
ditadura, antes que alguém me venha dizer que não sei do que falo…e seria
verdade, pois não vivi na ditadura.
Mas o ponto é mesmo este, daqui a alguns anos, haverá
pouca gente que tenha pertencido a essa era. Não haverá quem nos diga “Vá, não
sabes o que dizes, o que nós passamos na ditadura era muito pior!” Por isso,
mais que dizer o mau que era viver antes, a preocupação deveria de ser a de
transmitir valores, princípios e ideais que se prolonguem no tempo.
Podemos começar pela classe que nos governa, em que
tudo vale para chegar às cadeiras do poder, cadeiras essas que dão direito a
tudo menos a uma coisa…nunca há responsáveis por gestão danosa dum país.
Sentam-se nelas de peito feito e a gritar ao mundo as suas qualidades, saem
delas de fininho, esperando empregos (nunca trabalho) de ordenados insultuosos.
Apesar de várias cores, a ideologia é a mesma neles todos, disfarçando-a com
hipócritas eleições.
Porém, quem nos governa é a imagem da sociedade que
somos. A falta de escrúpulos e de educação que se vê na política é a mesma que
se vê diariamente. Seja no futebol, em que dizemos ser dum clube e odiamos os
outros. Em que um adepto do clube adversário não pode entrar num estádio com
adereços do seu clube (gritem agora, viva a Liberdade). No dia-a-dia, em que
vemos constantemente selvagens ao volante, a vociferar contra tudo e contra
todos, colocando vidas em risco. Em qualquer serviço, exigindo qualidade máxima
quando somos clientes, reclamando de exigências absurdas quando somos os
prestadores do serviço. Temos trabalhadores que se queixam do trabalho que têm,
temos desempregados que adoram estar desempregados (viva a liberdade).
Temos uma sociedade cada vez mais respeitadora dos
direitos dos outros, seja jovens ou adultos. Vê-se isso nas caixas dos hipermercados
com grávidas quase em trabalho de parto a terem que ouvir bocas por usufruírem
dum direito que lhes assiste. Direito esse que as meninas das caixas, muitas
vezes a medo, é que fazem cumprir. Vê-se nos transportes públicos, em que vemos
jovens cansados sentados e idosos fortes nos lugares em pé. Vê-se nas
urgências, em que pessoas numa situação delicadíssima de pulseira verde
insultam todo o mundo por uma pessoa de pulseira laranja entrar primeiro, após
ter chegado depois delas. Vê-se isso nas salas de aula, que acolhem pequenos
selvagens para os educar, mas como educar se em casa se mantém a selva? Vê-se
na desculpabilização por parte dos pais em relação aos comportamentos repugnantes
que os seus filhos têm. Seja como for…viva a liberdade.
Há uma desculpa para isto tudo…”os tempos mudaram”.
Claro que mudaram e burro é quem não se adapta às mudanças. Contudo há uma
coisa que não mudo, aquilo que acredito, os meus valores e, acima de tudo, o
meu sentido de justiça.
Ter liberdade não é a mesma coisa que saber viver em
liberdade. E essa foi a maior responsabilidade que o 25 de Abril nos trouxe e
com a qual falhamos redondamente. Somos livres, mas eternamente prisioneiros da
nossa irresponsabilidade…apesar de tudo, viva a liberdade!