Podia ter escrito estas palavras há uma semana atrás, mas preferi deixar a emoção abrandar e as ideias assentarem.
Fui parte, como árbitro internacional, na comitiva
portuguesa da SKI Portugal que marcou presença no 13ª Campeonato do Mundo da
SKIF, na República Checa.
À partida, ilusão enorme. Primeiro, em todos os
competidores portugueses, na certeza da bagagem regressar com alguma medalha,
em segundo, que a equipa de arbitragem tivesse oportunidade de provar que está ao nível dos melhores.
O que aconteceu esteve além das
nossas melhores previsões. As medalhas foram-se sucedendo, os que lá não
chegaram fizeram os seus oponentes dar o máximo para os ultrapassar e as
bancadas ficaram marcadas pelo “Portugal allez, Portugal allez, Portugal
allez”, que no último dia era entoado por várias nações adversárias.
É das tais coisas que merecem ser
vividas e só assim se consegue perceber a sua real dimensão. Nestes dias o que
mais me custou foi ter de manter a distância emocional em relação ao que se
estava a passar. Como árbitro o papel é outro, temos que nos concentrar no que
estamos a fazer, ser frios e objetivos nas decisões, pese embora o turbilhão de
sentimentos que possam ir no nosso interior.
À posteriori, e mais em privado,
dei os parabéns aos competidores e aos técnicos que de forma superior guiaram
estes jovens a resultados históricos.
A nível pessoal, regresso de
bagagem cheia, com experiências que me fizeram crescer como árbitro, com
aprendizagens que não se aprendem nos livros, tendo a sorte de calhar num
painel com um líder assertivo, construtivo nas críticas e que motivou cada um
de nós a fazer e ser melhor a cada dia que passava. De desconhecido, de
estreante numa prova destas, tenho a certeza que cheguei ao último dia
merecendo a confiança e o respeito de todos os meus colegas de tatami.
Contudo, a minha prestação só foi
possível, quer pela oportunidade que o Concelho de Arbitragem me deu, quer pela
equipa (sim, fomos uma equipa) na qual me inseri nestes sete intensos dias. Da
experiência dos Senseis Mário Mil-Homens e Fernando Fidalgo, do companheirismo
assinalável dos meus colegas e amigos Luís Mendonça, João Costa, João Batista e
Rui Pereira, destaco (embora não goste de destaques) a confiança e apoio do Rui
Gomes. Sem dúvida que tens o grupo contigo, queremos o mesmo que tu e estamos
juntos.
Todos eles tiveram desempenhos de
destaque, tendo Portugal marcado presença também em várias finais com alguns
dos seus árbitros.
Agora, se me permitem, dispo o
fato de árbitro e visto o de treinador da AKFAFE.
Finalmente, posso dizer sem
rodeios o quanto orgulhoso estou de vocês. Foram exemplo na dedicação, na
superação e na vontade de vencer ao longo de toda a época, sendo estes
resultados a cereja no topo do bolo.
Começo, antes de tudo, pelos que
cá ficaram. Estas medalhas também são vossas, ninguém é campeão sozinho e podem
ter a certeza que a evolução deles só aconteceu devido às dificuldades que
vocês colocaram uns aos outros nos treinos. E acreditem, acreditem e treinem
para que numa próxima oportunidade possam estar também presentes.
Maurício…porque começo por ti? Tu
que ficaste desapontado por não teres atingido os teus objetivos pessoais, tal
como eu fiquei por sempre achar que tu lá chegarias. Mas a competição é mesmo
assim, o nível está alto e os combates equilibrados. Deste tudo, mais não te
podemos exigir. Porém não é aqui que quero chegar. Tenho prazer em treinar
todos, mas tu dás 200% em cada treino, para te superares e para levares os
outros a superarem-se. Vejo-te como a minha projeção no treino (com muito mais
potencial), vejo-te como um digno sucessor das gerações de grandes karatecas
que por aqui já passaram. Levanta bem alto a cabeça, veste o Gi e volta à luta.
Gabi…conseguiste, trouxeste o
ouro! Fui espetador privilegiado da tua supremacia, da tua poderosa execução
elegante, foste a primeira a obrigar-me a conter tudo o que me ia na alma!
Ninguém pode prever o futuro, apenas te peço que continues como até agora e
muito mais poderás conquistar.
Andreia, és a minha campeã e
sabes que não é pelas medalhas. É verdade que te responsabilizo por muita da
minha falta de cabelo, mas ao mesmo tempo deste um salto de maturidade
assinalável. Com uma lesão de alguma gravidade para quem ia competir dentro de
mês e meio, arreganhaste os dentes, mordeste a língua, superaste a dor e
treinaste mais que nunca. Admiro-te miúda. Prata e ouro, um peso a que já te
tens habituado.
Margarida, essa medalha dourada
que trouxeste já a merecias há algum tempo. Mais uma vez assisti bem de perto à
vossa execução praticamente perfeita e sorri, principalmente, por ti. És talvez
de todos, aquela que nasceu com o dom de ser karateca, de ser campeã. Como bem
sabemos, esse é apenas um dos fatores para se chegar lá. Confia em ti, confia
em nós, torna-te humildemente arrogante frente às tuas adversárias e vais
conquistar muito mais.
Sérgio, caro Sérgio…espero que
esta medalha, conquistada com todo o mérito e com enorme valor para ti e para nós,
seja apenas o início de algo grandioso. E em ser grande falo em sê-lo dentro e
fora do tatami, como eu acredito que podes ser. E interessa-me muito mais o
fora do tatami. Apesar de crescido, ainda és novo. Os erros fazem parte da
vida, do passado e do presente, e devemos acima de tudo aprender com eles para
não os repetir no futuro. E nunca te esqueças, neste momento, em tudo o que
faças, já és uma das caras da nossa escola. Este ano evoluíste muito em todos
os aspetos, estamos cá para te continuar a ajudar, mas vamos exigir muito mais
de ti.
Termino sempre pelo mais
importante…Sónia Marinho. Conseguiste, conseguimos, todos os sacrifícios
valeram a pena! E admiração maior na forma como te dedicaste à tua preparação
para competires, passados tantos anos. Gostei de te voltar a ver em ação,
gostei que eles, que nunca viram, te pudessem ver.
Apesar de ter o meu próprio traço
como treinador, todos temos um ou vários modelos que seguimos. Os meus são
dois, tu e aquele que sei que é o nosso, o teu pai. É com enorme orgulho que
trabalho e aprendo ao teu lado, para te ajudar a manter o legado do Sensei Marinho.
Palavra também para o Dinis Pires, Ana Prata, Verónica, Pedro Loureiro, Duarte Baptista, Márcio Carvalho e Dona Rosa. De diferentes formas, são pilares desta nossa casa.
Palavra também para o Dinis Pires, Ana Prata, Verónica, Pedro Loureiro, Duarte Baptista, Márcio Carvalho e Dona Rosa. De diferentes formas, são pilares desta nossa casa.
Por último, ao grupo de pais dos
nossos karatecas, dos maiores aos mais pequenos. Lamentavelmente não pude
assistir em primeira mão à maravilhosa e justíssima receção que fizeram aos
nossos campeões, queria ter estado lá, da mesma forma que me queriam lá. Mas
acreditem que me arrepiei e fiquei de coração cheio ao ver as imagens, quase em
direto. Fisicamente não estive, mas em alma estivemos todos. Gestos como esses
dão-nos força para continuarmos a fazer o que adoramos.
Agradecimento pessoal também para
o grupo Asfalto Friends. Não esperava e fiquei emocionado com tão calorosa
escolta aos nossos guerreiros. Um forte e sentido abraço a cada um.
Esteja onde estiver, sei que o
Sensei Marinho está com um sorriso enorme. É por ele que a AKFAFE nasceu, é por
ele que existimos, é por ele que continuaremos a transmitir os nossos
princípios e valores.
OSS