Cada vez me convenço mais da tristeza e pequenez
(mentalidade e atitudes) deste povo à beira mar plantado.
Apercebi-me disso quando aconteceu algo que me tocou, na
dita greve dos enfermeiros. Falou-se de tudo, todos se tornaram experts sobre
os males e realidade do SNS, de repente todos sabiam quanto ganhavam os
maléficos enfermeiros (ao que me ri com alguns pseudo recibos a circular no
face) e o que é a realidade da profissão no dia-a-dia…pelo menos, creio que só
podemos opinar sobre a justiça das reivindicações se soubermos o que implica
exercer qualquer profissão.
Vêm agora os Srs. Motoristas e toda a gente volta a
saber do que fala…eu devo ser muito, mas mesmo muito ignorante, pois apenas
penso que sei da minha vida, quando sei. Porém prefiro ser ignorante do que
chico esperto egoísta e invejoso. Não me cabe a mim dizer o que seja da luta
destes trabalhadores, por muito que me estorve o dia-a-dia, a greve deles é um
direito.
Juntando a isto, rio-me (para não chorar) de mais uma
imposição do governo relativamente aos serviços mínimos…no caso dos
enfermeiros, nalguns casos a ultrapassar os 100% do resto do ano. Agora sem
greve, a trabalhar-se menos (em quantidade), já está tudo bem. E o povo
caladinho.
Nos motoristas, serviços mínimos a roçar os máximos,
em mais uma jogada desta geringonça que não elegemos, que tem cortado os
direitos dos trabalhadores através de requisições civis a soar a ditadura.
O que escrevi até agora apenas reflete a pequenez do
português comum, contudo o que se passou nos últimos dias revelou-me a
existência de um triste povo, que de tanto estudar parece cada vez mais
(intelectualmente) analfabeto.
Com a ameaça de nova greve a pairar no ar, com uma
comunicação social a ultrapassar o ridículo, assistimos a uma corrida selvagem
ao bem mais essencial que temos…a comida…peço desculpa, o combustível!
Filas intermináveis, discussões que chegaram a vias
de facto, cenas surreais de pessoas a encher bidões e mais bidões, como se o
mundo fosse acabar. Pergunto se a maior parte dessas pessoas atesta um depósito
durante um mês inteiro?
Nós que pensamos ser um povo civilizado, um povo
muitas vezes melhor que os outros, que faríamos nós numa situação de calamidade,
em que faltassem realmente os bens essenciais, como por exemplo na Venezuela ou
em países de África? Pelo que vi, acho que nos mataríamos uns aos outros em
menos de uma semana.
Somos os mais solidários quando tudo está bem, quando
podemos dar o não nos falta… mas somos uns porcos selvagens quando se trata de
partilhar o pouco que há com todos. E isso assusta-me, pois diz muito do que
somos.