Os tempos que estamos a viver fazem-me relembrar aqueles da minha infância quando estava na escola e de repente soava a campainha, de forma ininterrupta. Sabíamos todos de antemão o que era, um simulacro de incêndio. E lá íamos nós em fila, juntos à parede no interior dos edifícios a caminho do campo de futebol, seguindo a voz serena do(a) Professor(a) (tamanha tranquilidade em cenário desastroso davam uma aura de heróis a quem nos guiava no meio do desastre). Além de se matar uma aula, estes simulacros eram levados com sorrisos, com brincadeira, querendo nós mostrar que sabíamos os procedimentos a seguir.
Fazendo o contraponto com a situação atual, foram os “professores” apanhados desprevenidos por um incêndio que começou bem longe, mas que com as brisas das sociedades modernas depressa se alastrou ao resto do mundo. Sem saber muito bem os procedimentos a seguir, sem demonstrarem aquela tranquilidade que eu via nos meus professores da infância, fizeram o que era mais lógico fazer, jogaram e bem pelo seguro.
Porém o tempo foi passando, os serviços de forma geral, mas fundamentalmente os da saúde, reorganizaram-se. Os números subiram de forma controlada, estabilizaram e voltaram a descer, nunca chegando perto dos números esperados (há muitos fatores que explicam os números noutros países e no nosso). Tudo parou, uma paragem que de certeza não precisava de ter sido tão longa, levando a números que assustam mais que a COVID-19, mas para os quais não há contagem diária (absurda diga-se)
De repente volta-se à vida, supostamente a uma nova normalidade, a meu ver com poucas diferenças relativamente ao pré-COVID (já estou a pôr de parte medidas faz de conta). Sobe o número de casos, mas com pouco impacto a nível hospitalar. São fundamentalmente jovens que trabalham e que socializam…assintomáticos na sua maioria. Depois critica-se pessoas por se tornarem casos positivos por fazerem o que as entidades competentes permitiram que se fizesse, apesar do “saiam, mas não saiam”, “convivam, mas não convivam”, “podem ir jantar até 20, o ideal era serem da mesma bolha, mas a 2 metros uns dos outros. Ficam com o restaurante só para vocês”. Não se permite miúdos treinarem livremente, mas permite-se que se 10 ou 22 corram atrás duma bola.
E que dizer dos 14 dias de isolamento profilático que, neste momento e a meu ver, é mais uma medida fantasiosa. Estipulou-se os 14 dias pois seriam os dias que os sintomas, no máximo, demorariam a surgir. Na altura, os assintomáticos de que se falava eram aqueles que, podendo não ter sintomas, no espaço desse período os desenvolveriam. E agora que sabemos que podem não se desenvolver?
Finalizo com o crime de Reguengos de Monsaraz, mais uma nódoa negra para um governo que já tem sangue que chegue nas mãos. Há uns anos fora Pedrogão. Não lêem relatórios como se isso apagasse os acontecimentos atrozes que aconteceram…ou simplesmente porque não interessa O Presidente clama eternamente por responsáveis. Responsabilidades? No circo do momento, assistimos a um jogo de ténis para a culpa morrer solteira. Mas não vai morrer, pois para esta corja “culpa” é palavra que nunca chegou a nascer. Sejam eles de direita ou de esquerda, os principais partidos têm responsabilidades por anos a fio em que a competência foi sempre substituída por compadrios. Depois queixam-se dos extremistas que nascem a olhos vistos e que de forma perigosa vão ganhando terreno.
De uma
pandemia que nos assombrou a todos, podemos passar a uma descredibilização
total se não houver coerência e bom senso. Que me parece não existirem por questão
de orgulho. Atenção, não entro em teorias da conspiração nem digo que a
COVID-19 não existe. Existe e é para levar a sério, tem que se proteger de
forma eficaz os grupos de risco, mas sem hipotecar mais o futuro das gerações
mais novas.
Questiono, quando acabará o simulacro?