segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

A dependência do elogio

Numa formação que estou a frequentar sobre comunicação, a certa altura, falou-se sobre o elogio, no sentido que devemos de elogiar os demais, sendo desse modo amáveis. Concordo em parte com isso, mas mais que falar sobre o elogiar os outros, vou escrever sobre a “dependência” atual que temos em sermos elogiados.
A meu ver existem dois tipos de elogios, aqueles que são dirigidos ao que somos, sendo mais específico, à nossa aparência, ao que todas as pessoas têm acesso, e aqueles que são feitos ao que fazemos, sendo de acesso apenas a quem nos vê a fazer ou das pessoas alvo do que fazemos.
Podendo ambos os tipos serem de análise subjetiva, considero que os primeiros são aqueles sobre os quais menos ação temos. Dando apenas um exemplo, uma pessoa ser ou não ser bonita pode depender do que ela faz para se pôr assim ou depender se já nasceu ou não com formas mais ou menos formosas, mas acima de tudo, depende dos olhos que a vêem.
Quanto ao segundo tipo de elogios, creio que, mantendo sempre alguma subjetividade (o que posso fazer pode ser bom para uns e mau para outros), temos maior poder de influência sobre eles.
Porém, seja de um tipo ou de outro, acredito que hoje se vive numa obsessão em ser-se elogiado. As pessoas acham que é um direito adquirido de nascença, talvez nuns resquícios do que fica de quando nascemos…”ai que bebé tão lindo”, mesmo que seja a criatura mais feia que há.
Uma pessoa aperalta-se, seja para que situação for, não para se sentir bem consigo mesma, mas na tentativa de ser uma alegre visão para os olhos dos outros. E se ninguém lhe diz nada? Se ninguém lhe gaba o corte de cabelo? O vestido ou a camisa nova? Os sapatos?
A mesma coisa se passa nas nossas ações do dia-a-dia, cada vez mais temos comportamentos para os outros verem que propriamente para nós sentirmos, contrariando o que tenho lido por aí que “carácter é quando fazemos o correto quando mais ninguém nos está a ver”. Assiste-se em todos os contextos da vida a pessoas (adultos ou crianças) que, pese o exagero, esperam o elogio ainda antes de terem feito o que for para o merecer.
Isto é um pouco consequência da sociedade em que vivemos, que vai habituando as pessoas a terem as coisas com facilidade e não por merecerem. Um trabalhador não deve esperar ser elogiado por fazer o que se espera dele ou um estudante por tirar boas notas ou alguém por fazer uma boa ação que, no fundo, é a socialmente esperada. Não digo que não se possa elogiar, quem achar que o tem que fazer, pode e deve fazê-lo. O problema aqui está no lado de quem espera o elogio.
Com tudo o que disse, deixo claro que não tenho nenhum problema em elogiar quando acho que o devo fazer, mas não o faço apenas por simpatia ou por alguém ter feito o que se esperava que tivesse feito. Aqui não confundir feedback positivo com elogio. Dizer que alguém está a fazer bem alguma coisa não tem que ser propriamente um elogio, mas antes uma orientação. O elogio deve ser dado quando uma pessoa faz mais do que se esperava que ela fizesse.
Cresci e fui educado assim e acho que ganhei muito com este tipo de pensamento. Aprendi a relativizar os elogios e as críticas, não vou às nuvens com os primeiros nem me sinto o pior do mundo com as segundas. Sei do perigo de soberbia que os primeiros acarretam e aproveito as segundas para crescer ou refletir no que faço. Todos temos obrigações e responsabilidades, assumi-los é o nosso dever.

Os elogios são como as palavras, quando demasiadamente repetidas perdem valor e sentido. Simplesmente, acho que podemos ser simpáticos sem forçarmos um elogio e podemos elogiar sem termos que ser simpáticos.

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