domingo, 8 de agosto de 2010

Sabe bem...

Recentemente terminaram as minhas férias, pelo menos parte delas, uma vez que mas deram repartidas. Todos aqueles que me conhecem sabem o desesperado (pese o exagero) que andava para tê-las.
Não tem a ver com gostar ou deixar de gostar de fazer o que faço. Sou enfermeiro com muito gosto, com muita dedicação e cada vez gosto mais do que faço.
A questão (puxando a brasa à minha sardinha e sabendo que cada profissão tem os seus prós e contras) é que, há cerca de 2 anos, não tinha umas férias dignas desse nome. Há 2 anos passei um verão para esquecer e o ano passado, apesar de ter concretizado um sonho de criança, não descansei. Aliado a isto, estar a trabalhar só de noites e da profissão provocar um grande desgaste psicológico (lidar com o sofrimento e com o enlouquecimento humano é desgastante) e físico, fez com que ansiasse pelas férias.
Aproveitei-as ao máximo para ter um descanso do qual já desconhecia a existência. Voltei a sentir o prazer de um sono reparador, do “deitar cedo e cedo erguer” que sem dúvida alguma dá saúde a qualquer pessoa.
Soube a pouco, re-habituei-me a uma vida que já não tinha há muito. Mas faltava algo…algo que sei agora que é um dos motivos que me faz seguir em frente, que me faz querer sempre fazer mais e melhor (como profissional e como pessoa). O carinho e afecto dos “meus” doentes. Sei que muitos deles são pessoas carentes, de saúde e de amor. São pessoas numa situação em que falar bem de quem cuida deles pode ser uma tentativa de conseguir “cuidados especiais”. Porém consegue-se distinguir bem o verdadeiro e sincero “bem falar”.
Regressei ao trabalho e com espanto ouvi algumas expressões às quais não consigo ficar indiferente. Ver o meu trabalho reconhecido por aqueles a quem o meu trabalho e dedicação são dirigidos, é o regozijo máximo que posso pedir.
Sr.ª E - “Olá! Ao tempo que não te via! Benvindo! Ficas esta noite? Sim? Que bom. Sei que precisas de férias e fico contente por ti que as tenhas, mas também fico triste por não estares aqui!”
Sr. A – (um senhor que quando fui de férias tinha sido ingressado nas urgências do Hospital por suspeita de AVC e que entretanto regressou ao nosso centro, apesar do estado de saúde débil) “Sabes uma coisa, senti muito a tua falta, confio em ti.”
Sr. C (senhor de 80 e poucos anos) – “Então meu amigo, ouvi dizer que foste de férias em boa companhia! Não é verdade!? Vá, não te preocupes, podes confiar em mim, eu não digo nada a ninguém. Falamos disso depois…” (após uma querida amiga ter-lhe dito que eu estava de férias com uma rapariga jeitosa…que não era verdade, mas quem é que conseguia tirar daquilo da cabeça do homem?!? Não é menina L?)
Sentir este apreço (por parte dos doentes e dos colegas de trabalho…até o médico, com quem tive um desentendimento, mostrou-se mais simpático) quase me faz não querer ter férias…mas são necessárias para manter a frescura exigida para o desempenho das minhas funções.

1 comentário:

  1. É bom quando sentimos que o nosso trabalho é reconhecido.
    Só isso já é gratificante, aquece o coração e alma...
    Faz esquecer todas as amarguras e todos os pesares do trabalho.
    Obrigada pelo texto, sabe bem...

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