Recentemente, num almoço com
uma daquelas pessoas que dá gosto conversar e “discutir” temas e ideias, veio à
baila o tema de posse de armas de fogo. O dilema entre os cidadãos poderem e
deverem andar armados, sempre escudados no lema “defender os meus”, ou de não
poderem. Atenção, falamos de cidadãos normais, que não pretendem uma arma para
andar aí a roubar nem a intimidar quem quer que seja.
Eu
consigo entender quem diz que se sente mais seguro armado. Quer dizer, entendo
que ele pense isso porque ainda não pensou dois segundos sobre o assunto.
Imaginemos
uma discussão na rua, tipo no trânsito e avaliemos várias hipóteses. Estão os
dois armados. Qual a probabilidade de a coisa dar para o torto? A rondar os
100% diria eu. Está um armado e o outro não. A probabilidade diminui, ainda
mais se o que está sem arma não se armar em valentão (atenção, não digo que
seja justo). Terceiro cenário, nenhum está armado. Quanto muito envolvem-se ao
murro e ao pontapé e sofrem uns arranhões.
Com
um exemplo tão simples, começamos logo a descortinar alguma coisa.
Depois
toda a gente que quer e pensa ser capaz de ser portador de uma arma, parte do
pressuposto mais errado que pode haver. Que é uma pessoa controlada e que nunca
vai usar a arma sem ser em legítima defesa. E o que entendemos aqui como legítima
defesa? No caso que dei antes, se discuto com alguém, em vez de andarmos à
pancada dou-lhe um tiro. Pronto, foi em legítima defesa, certo? Quem é que pode
assegurar que tendo uma arma não o faria? Há uma discussão sobre um caminho. Eu
acho que o vizinho está a invadir a minha propriedade, dou-lhe um tiro. Foi em
legítima defesa da minha propriedade, certo?
Quantas
vezes não nos passou já pela cabeça, num determinado momento em relação a certa
pessoa isto “Se pudesse dava-lhe um tiro!” Coisa que nunca aconteceu porque não
tínhamos tal artefacto à nossa mão…e se tivéssemos?
Depois
temos ainda estes casos de crianças que matam crianças sem querer, apesar dos
pais garantirem em todos os casos que a arma estava num sítio seguríssimo e que
não percebem como tal coisa pôde acontecer.
Para
quem acha que tudo se tornaria mais seguro com todos armados, veja-se a selva
que são os EUA. Quantos casos de massacres com armas de fogo já vimos pelo
televisor? Sim, parece um filme…mas para as famílias que perderam os seus não
é. Ainda no outro dia, na manifestação pelo jovem negro que foi morto pela
polícia, começa um aos tiros à polícia. Foi alvejado pela polícia e esta ainda
é vista como a má da fita.
A meu
ver, andar armado pode dar-nos uma falsa sensação de segurança, mas o que faz
realmente é expor-nos muito mais ao perigo. Nem que se façam testes
psicotécnicos, nada pode garantir que a pessoa mais calma do mundo não comece
por aí aos tiros.
Já
tivemos um Oeste selvagem, não queiramos voltar atrás no tempo. As armas a quem
de direito, às forças da autoridade. Aos cidadãos, armas zero.
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