quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Vocação


Faz hoje anos, preparava-me eu para dar início a uma nova etapa na minha vida profissional (e pessoal), com aquela ansiedade normal de quem não sabia ao certo o que ia encontrar. Mesmo sabendo que era algo que queria, algo para o qual me atirei de cabeça, havia sempre o receio do desconhecido.
Dessa altura lembro-me, como se fosse hoje, da ambiguidade de sentimentos que percorriam o meu interior. A dificuldade enorme que foi a despedida da minha casa durante mais de sete anos, das pessoas que passaram mais tempo comigo que a minha família durante esse tempo, da cidade que aprendi a gostar como se fosse minha. Transmiti pessoalmente às minhas colegas a decisão que tinha tomado e nunca esquecerei a reação de cada uma. Tristeza pela saída, alegria por saberem que eu vinha para junto dos meus. Serviu para apaziguar a mágoa que senti ao abandonar o local que me deu a possibilidade de ser enfermeiro e fundar as bases para o que me tornei.
Aqui, fui recebido de braços abertos por todos, o que me permitiu crescer lentamente a nível profissional, descobrindo finalmente a área da enfermagem com a qual mais me identifico. Quem me conhece, sabe que rejeito liminarmente, no meu caso, que se fale de vocação relativamente à profissão. Era o queria, mas não fazia a mais pequena ideia do que significava ser enfermeiro. Foram muitas as dúvidas durante o curso, felizmente insuficientes para abandonar.
O gosto e o amor pelo que faço fui ganhando com os anos de trabalho. O peso e o desgaste da profissão são, em parte, compensados pelo que recebemos dos nossos pacientes. Hoje não me vejo a fazer outra coisa. Por maiores que sejam as dificuldades, entro sempre no serviço com um sorriso na cara e com um único objetivo…ser uma mais-valia para os meus doentes.
Posso dizer, com toda a certeza, não foi a vocação que me levou à profissão, foi antes esta que me orientou para a minha vocação.

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