No meu dia-a-dia trabalho com pessoas idosas, algo que adoro e me satisfaz bastante.
É uma fase da vida em que muitas das pessoas têm um défice enorme de carinho, que se sentem sós e abandonadas.
Há algo que não costumo fazer, que é despedir-me dos “meus” doentes quando eles vão de alta. Temos lá doentes que estão connosco meses e ganhamos carinho especial por eles…pelo menos isso acontece comigo.
Hoje fui-me despedir de uma senhora que vai embora estes dias e que não vou ver mais. A “E” foi uma doente peculiar, começou por ser muito chatinha…e manteve-se sempre chatinha! Teve um TCE e nunca mais recuperou da “avaria” da cabeça. Despedi-me dela dizendo que era eu que ia embora porque ela ainda não sabia da alta.
Os seus momentos chatinhos tanto podiam ter que ver com a doença como com o feitio que ela já tinha antes do acidente. Porém fez-me passar momentos de puro riso com os seus desvarios nocturnos, com as suas indignações constantes. Íamos mudar a fralda e dizia “Não, não te quero aqui, tira as mãos daí, vais-me roubar o que é meu!” ou quando íamos fazer uma colheita de sangue “Não, não vais fazer nada…tu queres é o meu sangue para dar aos outros!”.
Ou como na última noite quando eu lhe disse que tinha que arranjar um namorado para ajudá-la e ela me diz “E tu achas que há algum rapaz que me queira?” ao que eu disse “Rapaz?”…e responde ela “Sim, rapaz, que para velha chego eu!”
Mas a melhor dela não me esqueço mais. Em mais uma troca de fraldas diz-me ela “Dás-me um beijo?”, que eu, já não me lembro bem porquê, não dei. Diz ela com toda a propriedade do mundo “Ai ai, quando uma mulher tem que pedir um beijo a um homem a coisa está má!”. Claro está, ri-me logo na hora! São momentos destes que nos fazem aliviar o cansaço do trabalho.
Hoje, sendo então o último dia que eu ia estar com a “E”, fui saldar a minha dívida. Dei-lhe um beijinho de despedida, ao qual ela responde, as lágrimas a começarem a cair, com “Desculpa por todos os incómodos que te causei!” Só consegui dizer “Te hecho de menos, guapa!”…dei meia volta e fui embora emocionado.
É uma fase da vida em que muitas das pessoas têm um défice enorme de carinho, que se sentem sós e abandonadas.
Há algo que não costumo fazer, que é despedir-me dos “meus” doentes quando eles vão de alta. Temos lá doentes que estão connosco meses e ganhamos carinho especial por eles…pelo menos isso acontece comigo.
Hoje fui-me despedir de uma senhora que vai embora estes dias e que não vou ver mais. A “E” foi uma doente peculiar, começou por ser muito chatinha…e manteve-se sempre chatinha! Teve um TCE e nunca mais recuperou da “avaria” da cabeça. Despedi-me dela dizendo que era eu que ia embora porque ela ainda não sabia da alta.
Os seus momentos chatinhos tanto podiam ter que ver com a doença como com o feitio que ela já tinha antes do acidente. Porém fez-me passar momentos de puro riso com os seus desvarios nocturnos, com as suas indignações constantes. Íamos mudar a fralda e dizia “Não, não te quero aqui, tira as mãos daí, vais-me roubar o que é meu!” ou quando íamos fazer uma colheita de sangue “Não, não vais fazer nada…tu queres é o meu sangue para dar aos outros!”.
Ou como na última noite quando eu lhe disse que tinha que arranjar um namorado para ajudá-la e ela me diz “E tu achas que há algum rapaz que me queira?” ao que eu disse “Rapaz?”…e responde ela “Sim, rapaz, que para velha chego eu!”
Mas a melhor dela não me esqueço mais. Em mais uma troca de fraldas diz-me ela “Dás-me um beijo?”, que eu, já não me lembro bem porquê, não dei. Diz ela com toda a propriedade do mundo “Ai ai, quando uma mulher tem que pedir um beijo a um homem a coisa está má!”. Claro está, ri-me logo na hora! São momentos destes que nos fazem aliviar o cansaço do trabalho.
Hoje, sendo então o último dia que eu ia estar com a “E”, fui saldar a minha dívida. Dei-lhe um beijinho de despedida, ao qual ela responde, as lágrimas a começarem a cair, com “Desculpa por todos os incómodos que te causei!” Só consegui dizer “Te hecho de menos, guapa!”…dei meia volta e fui embora emocionado.
Lá se foi a nossa "E" :(
ResponderEliminarGrandes momentos, grandes risotas a meio da madrugada.....