"Decorreram
recentemente as eleições para a Associação de Estudantes (AE) da Escola
Secundária de Fafe. Estando eu a trabalhar fora do país, dei conta deste facto
através da rede social Facebook.
Pelo
que me foi dado a entender, há um ou outro aspecto que merece profunda
reflexão, não só da parte dos candidatos, mas também da parte de quem os educa
e forma.
O
primeiro assunto, o que me chocou mais (tendo em conta a minha profissão não
entro facilmente em choque), foi a anunciada presença, como arma eleitoral, de
uma ex-concorrente da Casa dos Segredos, uma Fanny.
Na
minha humilde opinião, mal vai uma geração quando apresentam como arma
eleitoral uma pessoa que nada fez de relevante, a não ser ter aparecido num dos
piores programas de sempre da televisão! À minha, por muito menos,
apelidaram-na de rasca! Em vez disso, podiam apresentar projetos de modo a
conseguirem apoio de gente da escola, tipo professores, eles sim, verdadeiras
armas eleitorais.
Com
isto, coloca-se outra questão. De onde vem o dinheiro para trazer tão
emblemática figura à escola? Sim, que estas super figuras públicas ganham a
vida a aproveitarem-se destes pobres de espírito.
Em
resposta a um comentário meu no Facebook, um elemento da lista disse-me que o
dinheiro foi angariado através do patrocínio de quase todas as lojas de Fafe,
que fizeram ainda um desfile de moda na escola para promover o comércio local e
que ainda haviam comprado material escolar com esse dinheiro para dar aos
alunos…e ainda me referiu terem “um programa eleitoral incrível!”
Por
partes. Sou o primeiro a dizer que eles gastam o dinheiro como bem entendem, mas
muito bem deve andar o comércio em Fafe para patrocinar a vinda de uma pessoa
que nenhum ganho lhes dá. Nem sei em que valorizou a lista candidata. Se fosse
uma coisa a sério deveria era dar votos à outra lista! Quanto ao desfile e à
oferta de material, seriam duas ações altruístas se fossem levadas a cabo pela
AE e não por uma lista candidata à AE! Pergunto mais, até que ponto será ético
fazer uma coisa destas? Este show off tem apenas um nome…compra de votos! Assumido
por alguém ligado às listas, que me garantiu que estas são as únicas maneiras
de “ganhar votos”!
Se
tivessem realmente um “programa eleitoral incrível” não precisariam deste circo
todo. Eu diria que “presunção e água benta cada um toma a que quer”, mas seria
algo demasiado severo para estes jovens deslocados da realidade. Eles não são
os verdadeiros culpados. Os verdadeiros culpados estão nas suas próprias casas.
Eles são livres, mas os pais ainda mandam neles. Os mesmos pais que vão às
manifestações chamar de tudo aos nossos governantes e pedir a demissão daqueles,
que não são nada menos aquilo que os filhos se estão a tornar! São os seus
filhos que vão ser os políticos do amanhã.
A
segunda situação que me chamou a atenção foi uma foto de alunos da Escola
Secundária de Fafe, supostamente ligados a uma das listas. A foto mostra-nos a
bancada do campo de futebol da escola cheia de alunos, levando-nos a pensar que
são membros ou apoiantes da referida candidatura.
Isto
fez-me pensar que, num momento em que o povo pede cortes a nível de cargos
políticos e dos seus assessores, jovens sigam maus exemplos, apresentando
listas extensas. Fez-me também pensar que desde cedo se cultiva a ideia que os
cargos servem para se garantir benesses para quem os ocupa e para os seus
grupos de amigos…e não em ocupar esses cargos para benefício, neste caso, de
toda a comunidade escolar!
Critico
muitas vezes as “Jotas” como cópias em miniatura dos seus partidos com todos os
vícios e compadrios adjacentes…mas vejo agora que o problema começa a nascer
numa fase ainda mais embrionária. É por isso que eu digo e repito, os políticos
que nós temos, que nós criticamos, são filhos da nossa sociedade (são filhos,
netos, sobrinhos, amigos).
E não
me venham dizer que a escola tem responsabilidades. Não tem. Ano após ano
retira-se autoridade à escola e aos professores na formação dos seus alunos,
não peçam agora que a exerçam quando a coisa descamba.
Esta
é uma situação que até me podem dizer que não me diz respeito. Porém, como
cidadão, acho que diz respeito a todos. Se fecharmos os olhos e nada fizermos
estaremos a pactuar com mais do mesmo. Estamos numa de ganhar a qualquer custo,
o pior dos princípios que podemos passar a uma geração.
Antes
de se fazerem revoluções “armadas”, creio ser urgente fazer uma revolução
educacional!"
Notícias de Fafe, 14 de Dezembro de 2012
Notícias de Fafe, 14 de Dezembro de 2012