Hoje de manhã fui correr. Nada de
extraordinário, mas para mim significou algo mais que uma corrida.
Desde Maio andava com dores nos
joelhos, mas nestas coisas penso sempre “dentro de uma semana ou duas deve
passar” (apesar de alguém que me deveria conhecer bem melhor dizer que sou
hipocondríaco). Em princípios de Agosto o KO definitivo. Num jogo de futebol
entre amigos, sozinho, o calcanhar cedeu. Passei cinco dias a mancar e a partir
daí andava sempre com uma dor suportável, mas constante. Juntando a esta,
seguiam as dores nos joelhos. Como iria de férias brevemente parei com a
actividade física, mantendo-me apenas com a que o meu trabalho exige.
Em Setembro, como a situação não
melhorava, decidi ir ao médico…de família (em Espanha). O meu pensamento foi “Não
sou rico, tenho direito a assistência de graça, escuso de ir ao privado”. Andei
um mês no médico de família, vendo um médico que olhava para o meu caso como um
burro olha para um palácio. Ao fim de um mês a brincar aos médicos, lá se
decidiu a enviar-me ao ortopedista. A única coisa que me mandou fazer foi um rx
aos joelhos (que eu suspeitava que de pouco serviria) e recomendou descanso
absoluto. O que atrasou ainda mais o processo, porque o médico não encontrava o
rx no meu processo (aqui está tudo informatizado), mas finalmente lá o
conseguiu ver…penso eu.
Depois de um mês à espera de
consulta, fui ao ortopedista. Aqui já levava três meses de inactivadade física
absoluta. O médico voltou a avaliar-me, não conseguia aceder ao rx que eu havia
feito aos joelhos (uma pessoa ainda passa por tolo por dizer que o fez) e
mandou-me fazer um rx ao calcanhar (porque será que eu penso que era coisa que
já devia ter sido feita?). E disse que o rx aos joelhos que tanto lhe
interessava, haveria de aparecer.
Vou a marcar nova consulta e diz-me
a senhora muito amável “Vou-lhe marcar para outro médico que este já se vai
reformar”. Que fixe para ele, pensei eu. Nova consulta, supostamente para
mostrar resultados, só um mês depois.
Entretanto, e farto de tanta
pasmaceira, decidi voltar aos treinos, mas calmamente. Nem o medo que tinha do
que poderia ter nos joelhos e calcanhar, nem a dor por eles provocada,
permitiria que fosse de outra maneira.
Dia cinco deste mês volto ao
ortopedista, ao novo. Entro no consultório e, além de nem me ver a cara (ok,
posso não ser assim muito bonito, mas é uma questão de educação), não se dignou
sequer a um “Bom dia!”. Sou enfermeiro há quatro anos e meio ininterruptos,
estou num serviço onde os doentes ficam algum tempo, o que pode provocar algum
desgaste, e até para os mais chatinhos ou malcriados tenho sempre um bom dia ou
boa noite. Custa-me a entender esta soberbia de quem se intitula Dr.º!
(felizmente através do karatê foi-me permitido conhecer um destes
profissionais, catedrático, e das pessoas mais afáveis e sociais que conheci
até hoje, apesar do pouco contacto que temos…o que comprova que a excepção
confirma a regra).
Voltando à consulta e pelo que me
apercebi, apenas viu o rx do calcanhar. O que me leva a pensar se o médico de família alguma vez viu de verdade o rx aos joelhos. Apenas me perguntou onde
era a dor nos joelhos, do calcanhar nem referência. Eu respondi e disse que só
me doía quando me levantava depois de estar sentado. Estava ele a preparar-se
para me mandar para reabilitação quando eu, burro, acrescento “mas só se
estiver algum tempo sentado”. Decide então ele que já não me manda para
reabilitação, diz-me para eu repousar (quanto tempo mais?) e que se continuar
assim para dizer ao médico de família para me mandar ao especialista em
reabilitação.
Estou há quase quatro meses e meio
praticamente sem qualquer actividade física. Eu que nunca tive queixas e dores
a passarem de uma ou duas semanas (normais em quem pratica desporto), vejo-me
numa situação em que não sei o que tenho, nem acho que os médicos saibam, nem
querem saber.
Quando se fala em dar qualidade de
vida às pessoas, quando se fala que as pessoas devem ter actividade física,
pedir repouso absoluto durante quase 6 meses a quem tem 28 anos, sem buscar um
porquê do problema, parece-me um contrassenso. Acredito que se tivesse ido ao
consultório privado ou a uma clinica, os exames pedidos não se ficariam apenas
pelo rx. Nem me mandariam embora sem me extraírem mais algum dinheiro. Assim
anda a saúde por cá (Espanha), não muito melhor da que temos em Portugal.
Supostamente temos direito grátis à saúde…mas é uma falácia. Se queremos resolver
os problemas que temos ou apenas descobrir o que temos, convém ir ao privado. E
não me parece que seja culpa da crise…este é outro dos sistemas montados!
Apesar de ter iniciado já os
treinos, com pouca intensidade, hoje decidi ir contra as recomendações
médicas…estou farto! Cedo iniciei o karatê, com 6 anos apenas. Desde essa idade
que me habituei a uma prática regular de exercício, que me habituei a ir ao
limite, quer nos treinos, quer nas jogatanas de futebol com os amigos, quer nos
corta-matos das escolas, quer no desporto escolar…em qualquer coisa que me
metia.
Olho para mim e quase não reconheço
a pessoa que fazia isso. Tenho ido aos treinos como disse e apesar de ir sempre que posso, custa-me a ter aquela vontade de treinar que tinha. Preciso de perder os
medos que tenho (de piorar o meu estado), mesmo que subconscientes. Preciso de
ganhar outra vez a capacidade de ir ao limite, de os ultrapassar.
Hoje apenas corri trinta minutos,
num ritmo que não considero lento, mas longe do que fazia. Foi uma conquista
por vários motivos. Correr sozinho não é o meu forte. Ponham-me uma bola à
frente e corro três horas se for preciso, mas sozinho custa mais. Levantar
cedo, sair à rua com 5ºC, o ar a cortar a cara e as mãos…o corpo a não
responder como eu gostaria…mas aguentou. O que mais me preocupava era o
calcanhar. Apenas senti uma leve sensação de dor. Mais como se estivesse preso.
Os joelhos, nunca me doeram a andar ou correr…mas às vezes quando me levanto do
sofá ou da cadeira, quase que não consigo andar…mas dizem eles para descansar!
Podem ir todos para um sítio que eu ca sei!
Tenho alguns pequenos objectivos
para o próximo ano de modo a atingir o principal e preciso rapidamente de me pôr em
forma. Hoje foi o primeiro grande passo nesse sentido…
Infelizmente acho que tens razão no que diz respeito ao público / privado. Não é que seja sempre assim, mas muitas vezes fico com a sensação que, a querer resolver seriamente um problema, é melhor recorrer ao privado de uma vez. É triste, mas é verdade. Dito isto, vê se pões algum dinheiro de lado e vais resolver isso. Ressonância, TAC, faz o que fizer falta...mas protege-te, senão o "de graça" pode sair bem caro.
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