Muito se tem falado nos últimos
dias dos bombeiros, infelizmente devido ao elevado número que tem perdido a
vida no combate aos inúmeros incêndios que lavram por todo o país. Porém, e na
minha opinião, pouco se tem falado na questão essencial e que será a melhor
defesa que se pode fazer a estes homens e mulheres…para quando o fim do
voluntariado e a profissionalização total desta nobre e mais que necessária
profissão?
Não quero menosprezar, de modo
algum, o trabalho dos bombeiros voluntários. Acontece que, para mim, a evolução
das profissões tem que passar obrigatoriamente pelo profissionalismo. Só um
profissional pode estar apto físico, técnico, cientifico e psicologicamente
para desempenhar as suas funções a 100%. Aconteceu o mesmo na minha profissão,
durante muito tempo desempenhada de modo voluntário por freiras…mas a evolução
só se deu depois disso.
Eu não tenho nenhum estudo feito,
não é uma evidência científica o que vou dizer, mas este ano parece haver mais
mortes de bombeiros que nos anos anteriores. Não sei as causas, não sei o que
pode ser feito para que se possa evitar estas situações. Ouvi falar em dotar de
mais meios as corporações. Para mim, que falo da minha ignorância (ou não), a
melhor arma seria ou será a profissionalização. Permitirmos a quem está a pôr
em risco a sua vida que o faça com concentração absoluta no que faz, sem ter que
pensar nos problemas que tem no trabalho que lhe dá o sustento, nem acusar o
cansaço que este lhe provoca. O cansaço, a falta de concentração, como em
qualquer profissão, levam ao erro. O erro num bombeiro pode levar à sua morte.
Alguém me sabe dizer um dado muito simples…dos bombeiros que morreram, quantos
eram voluntários e quantos eram sapadores?
Dou valor ao que
os voluntários fazem, ao arriscar a vida em troca de nada, ao defenderem o que
não é seu apenas por altruísmo. Mas aqui coloco outra questão, porque a perda
de uma vida humana é a única coisa que não tem reparo. Qual a necessidade de
morrer um bombeiro a salvar um monte de mato? Qual a necessidade de morrer um
bombeiro a salvar uma casa das chamas? Se nem eu nem qualquer pessoa, que sejamos
proprietários desse monte ou casa o faríamos? E que me perdoem os bombeiros,
mas aqui não é uma questão de altruísmo. Se não há vidas humanas a salvar,
muito menos devia de haver vidas humanas a lamentar. Aqui parece-me mais ser
uma questão de má avaliação de prioridades. Não me venham com o argumento que pensam
nos bens das pessoas ou que se fosse eu que estivesse com a casa a arder ia
querer que a salvassem a todo o custo! Eu nem quero imaginar como me sentiria se alguém morresse para salvar uma casa minha ou um carro meu. Isto também é
muita culpa da sociedade em que vivemos, em que as prioridades estão invertidas…o
material à frente de tudo, a qualquer custo.
Todos os anos que vivi em Fafe,
tirando os 2 primeiros da minha vida, foram passados ao lado do quartel dos
bombeiros. Passei muitas horas a brincar juntos aos carros, incluso dentro do
quartel, fascinava-me ver o helicóptero a ir e voltar, pouco me incomodando o
barulho que fazia. Mas há uma imagem que me recordo muito bem, que era de
bombeiros em amena cavaqueira, no cafezito que tinha lá, a beber umas cervejas
e a passar o tempo. E de certeza que isto não acontece só na minha terra,
porque o hábito da cervejinha está bem assente na nossa sociedade e em várias
profissões há pausas para beber a dita. Mas nesta não é admissível. Como se
sentiriam se um cirurgião que vos fosse operar, antes da operação, tivesse
estado no bar do hospital nos copos?
Há outra imagem bem recente, nas
obras do quartel da minha terra, em que as próprias obras e a sua má
sinalização estavam a aumentar o risco de acidentes e atropelamentos, com o beneplácito
da polícia local e sem qualquer intervenção dos bombeiros e dos seus
responsáveis…até serem chamados à atenção por um cidadão voluntarioso e mais
que amador no que toca a proteção civil. São situações destas que não podem
acontecer, amadorismo e atitudes negligentes.
A profissionalização traz maior responsabilização,
ajudando a reduzir o risco de erros. Ouço muitas vezes, quando se questiona a
actuação dos bombeiros, que coitados, eles já fazem muito ao fazerem o que
fazem de forma voluntária. Não questiono, mas isso não pode funcionar como
desculpa. Todas as profissões podem ser criticadas, tem é que ter argumentos
para se defenderem.
Eu defendo a profissionalização,
porque tem que haver (e há) diferenças obrigatórias entre um profissional e um
amador, sem ser apenas a questão monetária. Não ponho em causa a entrega à
causa humanitária por parte dos bombeiros voluntários…ponho em causa é a sua disponibilidade
(a todos os níveis) para uma profissão tão exigente e de enorme
responsabilidade.
A mim revolta-me, eu que adoro
futebol, que se fale tanto da profissionalização dos árbitros e que de algo tão
importante se assobie para o lado. E o estado agradece, claro, pois mão-de-obra
de graça é o que o país precisa.