Em primeiro lugar, quero deixar bem
claro que respeito quem opta por não emigrar. Cada um sabe dos seus motivos,
uns mais fortes que outros, mas todos válidos. E quando falar em emigração,
falarei de enfermagem, que é a que sinto mais à vontade de abordar.
Esta semana li e ouvi por diversas
vezes uma ideia sobre a emigração…ou a não emigração, opiniões sustentadas na
maior parte dos casos por um artigo de um jornal que dizia que as relações pessoais
também contam na hora de emigrar.
Segundo esta ideia, passada por
várias pessoas, quem emigra perde momentos preciosos com a família e amigos,
perde a possibilidade de comer pratos tradicionais do seu país, perde o
contacto com a terra, no fundo perde a felicidade que lhes dá Portugal. Eu
pergunto, quem emigra não saberá isso tudo? Não sentirá (sofrerá) mais do que
qualquer outro essas faltas? Não terá ponderado sobre o assunto? Creio que este
discurso é um pouco demagógico. Foi preciso sair um artigo para chegar a esta
brilhante conclusão!
Faço outra pergunta. Será a
emigração uma opção? Claro que sim, opção é, agora é preciso saber o que leva
as pessoas a tomar essa opção. Ou pensam que a maior parte de quem emigra não
gostaria de trabalhar em Portugal?
Dinheiro, dinheiro e dinheiro…foi
esta a ideia que esteve em voga esta semana. Nós, tal e qual como mercenários,
abandonamos tudo que amamos pela ganância de enriquecer. É esta mesma ideia que
eu não aceito nem respeito, pois considero ser mentira e insultuosa para os
milhares que emigraram nos últimos anos. Poder-se-ia dizer isso se houvesse
trabalho dignamente pago em Portugal. Não o há.
Claro que há dinheiro envolvido e
uma procura de melhores condições. Mas quem opta por ficar dizer “que o
dinheiro não compensa tudo” é mesquinho e de muito baixo nível. Se fosse
psicólogo, diria que há uma vontade reprimida por detrás disso e uma
necessidade de se convencerem a si mesmos que optaram correctamente ao ficar no
país.
Eu emigrei, para perto, mas
emigrei. Por muito longe ou perto que se esteja, o atravessar de uma fronteira
implica automaticamente uma necessidade de adaptação. Mas para não falar de
mim, pego no exemplo de muitos amigos que emigraram para mais longe. E
peço-lhes desculpa por falar por eles, mas tenho segurança no que digo, quando
digo que o dinheiro não foi o seu móbil.
Porque emigramos?
Dignidade e respeito. Dignidade e
respeito por nós, pela nossa profissão, pelos colegas que trabalham em
Portugal, pelos doentes…pelo sonho de queremos ser enfermeiros. Não somos
mercenários.
Os enfermeiros em Portugal ganham
mal (mais os do privado que do público, de modo geral), como ganham por esse
mundo fora. Compare-se os salários com o nível de vida de cada país e
percebe-se que ser enfermeiro não serve para ficar rico. A diferença é que, fora de Portugal, não se encontram salários equivalentes a ganhar 500 e 600
euros no nosso país (como me foi proposto num privado do Minho).
Emigramos na procura de propostas
dignas, mas sobretudo, na procura de propostas. Esses que dizem que emigramos
por dinheiro, imaginam como seria se os milhares de enfermeiros que emigraram não
o tivessem feito? Será que quem ficou no país por amor (seja ele qual for e a que for) teria
trabalho ou ganharia o mesmo? Com tantos milhares de emigrados, acham que havia
empreendedorismo que chegasse para todos, sendo que emigrar é uma forma de empreendedorismo?
A nossa emigração, embora não se
fale nisso, ajuda a travar ligeiramente a “prostituição profissional” que grassa
na Enfermagem, favorecida por chulos que, mais que aproveitarem-se do excesso
de mão-de-obra, aproveitam-se da falta de respeito que os próprios
profissionais têm pelo que fazem. Eu respeito quem decide ficar em Portugal,
mesmo que fazendo outras coisas, mas não respeito quem trata desta maneira a
sua profissão.
Emigramos porque não temos trabalho
em Portugal, nem tivemos “sorte” (não da que se procura, mas da que se conhece)
de arranjar trabalho digno perto de casa. Emigramos porque nem todos têm
suporte familiar que lhes permita esperar pela “sorte” ou nem todos querem ter
essa dependência familiar. Emigramos porque todos temos o sonho de ser aquilo
pelo qual lutamos…ser enfermeiros.
Por dinheiro emigram aqueles
jogadores de futebol do Benfica e Porto, que em Portugal ganham num mês o que
eu ganho em 3, 4, 5 ou 10 anos.
Como em tudo há excepções que, como
em tudo, confirmam a regra. Peço-vos um favor, não digam que emigramos por
dinheiro. Eu também não digo que não emigram por comodismo, inaptidão ou
desonestidade profissional. E não o digo porque, apesar de haver quem não
emigre por esses motivos, haverá sempre alguém que não o faça por outros
motivos importantes. Só que neste caso, ao contrário de quem emigra, não sei
qual é a excepção e qual é a regra.
"por dinheiro emigram aqueles jogadores de futebol do Benfica e Porto, que em Portugal ganham num mês o que eu ganho em 3, 4, 5 ou 10 anos"
ResponderEliminar...ou então porque acham que esse será o valor que vale realmente o trabalho deles, ou porque sair significa jogar com melhores jogadores, em melhores equipas, desafio ou evolução, ou porque querem conhecer novas coisas e associam a isso a oportunidade de trabalhar, ou porque...
Valente tiro no pé!
Antes demais, boa tarde. Gosto de conhecer as pessoas com quem falo, mas é óbvio que há gente que atira pedras e esconde a mão (cara).
ResponderEliminarJogadores há muitos e nem todos ganham balúrdios. A maioria, aqueles que ganham pouco, que cá não recebem sequer , saem em busca do mesmo que nós. A oportunidade de exercerem a sua profissão com dignidade.
Pena que com tanto texto tenha escolhido às tantas a parte que menos interessa e tenha feito a análise ao seu jeito. Se nós fossemos enfermeiros de primeira (tendo trabalho e com condições aceitaveis) como são os jogadores dos clubes que referi, meu caro ou minha cara, aposto que não emigrávamos. Trocar um destes clubes por um colosso russo, um exemplo só, não é certamente pelo incrível projecto de evolução profissional ou pelo gosto do clima frio... Falar de futebol nem sempre se refere a futebol. Espero que esteja mais esclarecido(a).Atenciosamente, o autor do Blog. Jorge Gomes
Dois pontos em relação ao texto:
ResponderEliminar-Em primeiro, em relação ao artigo que refere, que eu também li, em momento algum pensei em demagogia. Não creio que o artigo refira que quem emigra não pense nos familiares e amigos. Refere apenas que há pessoas que não o fazem por essa razão. Há quem não emigre porque felizmente encontraram boas condições, e há os que não emigram por motivos sentimentais/pessoais. É um facto e o artigo apenas referia isso, não dizia que estão certos ou errados nem que quem emigra está certo ou errado como quer dar a entender, até porque ninguém está certo ou errado. Em nenhum momento o artigo diz que quem emigra perde alguma coisa. O que ganham uns, perdem outros, é tão simples quanto isso.
-Em segundo lugar, como é óbvio, quem emigra fá-lo por dinheiro. Não quer dizer que vá enriquecer, não quer dizer que vai voltar num carrão todos os verões à sua casa de férias cheia de palmeiras na sua terra natal como bem fazia o típico "tuga emigra" dos anos 60 e 70. Assim como diz, e eu concordo, que quem não emigra "porque o dinheiro não é tudo" é algo mesquinho, também quem emigra e diz que não o fez por dinheiro pode ser considerado com essa mesma mesquinhez. Quem emigra fá-lo por melhores condições de vida que no final de contas podem ser contabilizadas em dinheiro. Se não se emigra por dinheiro então não se está a emigrar, está-se a viajar...
Abraço de um também "recém Tuga Emigra".
Boa tarde.
ResponderEliminarEm primeiro lugar, este texto não é uma critica ao artigo em questão, logo a demagogia que eu falo, não é referente ao texto. É, isso sim, ao discurso de algumas pessoas que dizem que só emigramos pelo dinheiro e acabam com a pérola que há coisas que o dinheiro não paga. Isso é que me parece demagógico, não um artigo em que dá dá 2 casos de pessoas que não emigraram por questões pessoais.Se a si não parece, será um ponto de vista diferente o qual respeito.
Claro que ninguém está certo ou errado, emigrar ou não são decisões pessoais de cada um. Creio referir isso também no texto.
Quanto à mesquinhez de quem emigra dizer que não é pelo dinheiro, eu até diria que seria hipócrita. A mesquinhez que eu falo, refere-se a pessoas que o dizem de barriga cheia, que não emigram, nem sequer lhes passou pela cabeça emigrar, ou porque conseguiram boas condições ou desistiram de ser enfermeiros. Mas como também digo no texto "Claro que há dinheiro envolvido e uma procura de melhores condições". Agora, como eu estou a falar de enfermagem (não sei o que faz o senhor), falo apenas do motivo número um dos milhares de enfermeiros que emigraram. Todos eles, antes de pensar no dinheiro, pensam em ser enfermeiros. O que em Portugal nunca o seriam...é que mesmo as propostas de 3,96 euros à hora não dão para todos.É nesse ponto que me refiro que o mote principal não é o dinheiro. Percebo o seu ponto de vista, todos trabalhamos para ganhar dinheiro, seja emigrante ou não. Mas eu se não quisesse ser enfermeiro, tinha ficado a trabalhar em Portugal. Porque emigrei?
Um abraço de um Tuga emigrado há 5 anos e boa sorte nesta nova fase.