Anda por aí uma teoria que defende
que se deve deixar fazer tudo o que as criancinhas querem, não as contrariar,
pois só assim conseguirão ser umas crianças plenamente felizes.
Na minha opinião, isto apenas
levará a que as crianças de hoje sejam mais tarde adultos prepotentes, sem
respeito pelos outros, agressivos ou depressivos perante as contrariedades etc.
Mas isto já é tema mais que
debatido e já se começa a ver (de há uns anos para cá) o resultado desta
teoria.
Vou focar-me apenas num aspecto, que
é o facto de as crianças só fazerem o que querem. Se não querem não são
obrigadas. Ok, admito esta visão da coisa, mas uma criança muitas vezes não
sabe o que é melhor para ela (nem tem que saber) e os pais que se refugiam
nesta ideia, a meu ver, apenas estão a fugir às suas responsabilidades. É o
caminho mais fácil, que não leva a chatices nem birras dos filhos.
Vou pegar no meu caso para servir
de exemplo…melhor dizendo, a meu ver o exemplo é o meu pai e não eu. Como já
escrevi aqui, entrei para o Karate com seis anos. Durante muitos anos conjuguei
a prática do Karate com outros desportos (principalmente escolares) e, como é
normal nas relações de larga duração, houve uma altura em que saturei, perdi
algum ânimo, aliado também à saída do meu melhor amigo do Karate e estive dois
meses sem treinar. Tudo servia de desculpas. Teria eu os meus treze anos, mais
coisa menos coisa. Hoje já estaria na idade da emancipação, de sair à noite e
não dar cavaco aos pais.
Lembro-me como se fosse hoje.
Estava eu no meu quarto e o meu pai, muito calmamente, entra e pergunta “Não
vais treinar hoje?” Ao que eu respondi com mais uma das minhas desculpas
esfarrapadas que não ia. Do tom calmo, a um berro inesperado grita o meu pai “Pega
imediatamente no saco que vais ao treino!” Levou-me ao treino. Não que fosse
preciso confirmar que eu ia mesmo ao treino, pois nesse momento seria incapaz
de sair de casa para outra coisa que não fosse para treinar.
O meu pai simplesmente foi pai.
Achou, e bem, que o filho não sabia o que era melhor para si mesmo. Então não
fugiu à sua responsabilidade, contrariou-me, forçou-me, se assim quiserem, a
ir. Resultado? Em vez de ter ficado traumatizado e com problemas psicológicos,
ainda hoje, passados uns dezasseis anos, continuo no Karate. Uma casa onde
muito aprendi como pessoa e fundamental no desenvolvimento e afirmação da minha
personalidade.
Por isso, o que sinto hoje não é
raiva, birra nem qualquer menosprezo por essa atitude do meu pai. Às tantas no
momento tive, mas não me lembro. Sinto sim um profundo agradecimento por me ter
orientado quando mais precisei.
Muitas vezes cresce-se mais com um “Não”,
que com um vida repleta de “Sins”.
Eu acho que tu ficaste traumatizado :p
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