Há pequenas coisas que, por muito
insignificantes que sejam, trazem-nos um pouco de felicidade. Coisas
imateriais, que só vividas têm o seu valor.
Eu passei muitos momentos da minha
infância na casa dos meus avós paternos. O contacto que um rapaz da cidade
(apesar de pequena) tinha com o mundo rural. Sim, não era o meu mundo, mas era
(é) a minha família. E quem me conhece sabe o que representam para mim os meus avós, os primos e os meus tios. Aprendi com isso que, independentemente do lugar, o
importante são aqueles que nos rodeiam. E aquela casa sempre foi para mim a
minha segunda casa…tinha lá a minha família.
Passei lá imensos natais, passagens
de ano, fins-de-semana…momentos inesquecíveis. E a imagem que tenho sempre na
cabeça é da família reunida à mesa de jantar. Com as pessoas sentadas
sempre nos mesmos lugares (ou na mesma ordem), como que guardando o seu lugar
no seio familiar.
Recordo-me bem também da comida…obrigatoriamente
o frango de churrasco, de vez em quando um entrecosto ou um assado. Refeições
que se prolongavam no tempo, pois as conversas quebravam sempre a velha máxima
do “silêncio à mesa”.
Simplesmente, fui feliz naquele lugar.
Vai fazer no próximo mês três anos
que o meu avô faleceu. E com ele morreu muito daquela casa. Incrível como uma
pessoa conseguia preencher um espaço tão grande! E há três anos que eu não me
sentava naquela mesa. Fui algumas vezes de passagem à casa, mas sentia sempre
aquele vazio perturbador.
Vazio esse que senti dissipar-se,
finalmente, este fim-de-semana. Voltei a sentar-me naquela mesa com os meus. Nos
lugares de sempre, o frango de sempre, o vinho de sempre, as conversas de
sempre. Já cá não estão os meus avós, mas a vida é assim mesmo. Ficam as
inúmeras lembranças e a eterna saudade. E a melhor maneira de não deixarmos
apagar a memória deles é dando vida à casa onde eles viveram…apenas espero que
isso seja sempre possível.
Voltei a sentir aquele bem-estar da
minha infância, como se aquela mesa fosse um porto de abrigo…voltei a ser feliz
naquela casa.