Chega ao fim mais uma época na Associação de Karate de Fafe, o início
de umas merecidas férias após um ano de muito trabalho, muita dedicação e
excelentes resultados (não apenas em competição).
Após quase 25 anos de prática, este foi um ano diferente. Por
circunstâncias da vida nunca me tinha sido possível assumir uma aula na casa em
que cresci. Finalmente, este ano, foi-me possível cumprir esse sonho. Sim, um
sonho, talvez o único que tive enquanto karateca. Podem-me questionar se nunca
sonhei ser cinto negro. Sinceramente não. Chegar a essa graduação foi algo
natural, fruto da evolução técnica, física e psicológica conseguida ao longo
dos anos. Mas nunca um sonho.
Quem me conhece sabe que adoro crianças, mas existia sempre a dúvida
de como ia lidar com um grupo delas. Se iria ser capaz de ganhar o respeito
delas. Se iria ser capaz de lhes transmitir o que sei. A grande dúvida…será que
sou capaz de ensinar quem nada sabe?
A única coisa que sei é que, à medida que tentei conquistar os meus
alunos, fui conquistado por eles. Vivemos num mundo mais indisciplinado, menos
respeitoso, com menos princípios, cheio de pressa e sem paciência, a começar
pelos adultos, refletindo-se isso nas crianças. Verdade seja dita, foi muito
fácil trabalhar com o grupo que caiu nas minhas mãos. Quer com as crianças,
quer com os pais.
Quanto ao desafio de os ensinar…descobri que cada um dos meninos e
meninas são, por si só, um desafio. Primeiro, pela individualidade das suas
personalidades. Segundo, porque cada um procura, de forma mais específica,
alguma coisa no karate.
O trabalho foi árduo, longo e exaustivo…mas prazeroso. Apraz-me chegar
a esta altura e ver todos os resultados conseguidos. E não falo em medalhas.
Isso deixo para os mais crescidos. Falo, isso sim, no crescimento que estes
miúdos tiveram. Nas inseguranças que perderam, na disciplina que ganharam, nos
amigos que fizeram. Mais além das performances técnica e física conseguidas,
que não podem ser descuradas. Tenho orgulho em vocês.
Devo confessar que foram muitos os dias que chegava a casa cansado do
trabalho e que a vontade maior era de descansar, deitar-me no sofá, fechar os
olhos e acordar no dia seguinte. Mas não podia. Tinha-vos à minha espera. E
acreditem, vestir o GI, apertar o cinto, entrar no tatami e fazer a
saudação…era como um reanimar das forças perdidas. Sabem, naquela hora do
treino só existo eu e vocês. O resto, o cansaço, os problemas, as dores de
cabeça, tudo desaparece.
Tenho que deixar uma palavra para o Sensei Marinho e para a Sensei
Sónia. Tal como vós, sou um aprendiz. Noutra fase, mas não deixo de o ser. E
contei com a preciosa ajuda e orientação deles para evoluir também neste novo
percurso. E irei continuar a contar.
Espero que este ano tenha sido o primeiro de um longo percurso a
orientar crianças nesta casa. Atenção, repito e sublinho, nesta casa. Quando
digo que são “meus” alunos é apenas por uma questão “burocrática”. Vocês são e
serão alunos da AKFAFE. Foram a minha primeira turma, por isso lembrar-me-ei
sempre de cada um.
Agora tenho outro sonho. Que cresçam connosco durante muitos anos, que
façam desta casa a vossa segunda família. Apesar de ainda não estar
mentalizado, sei que isso vai acontecer com uma minoria. Seja como for, desejo
apenas que sejam felizes, cresçam saudáveis, que se tornem homens e mulheres de
bem, com princípios e valores bem vincados. Que levem um pouco de nós, assim
como nós ficamos com muito de vocês.
O meu obrigado…e até Setembro!
OSS!
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