Como já frisei anteriormente, o Natal é a época do
ano que vivo com uma tranquilidade intensa, em que sinto tudo o que me rodeia
de forma diferente. Se isto acontece deve-se ao facto de, quando era pequeno,
um conjunto de pessoas me ter feito acreditar e incutido na magia do Natal.
Quem foram essas pessoas e o que fizeram? Primeiro as
pessoas…pais, tios e avós, aqueles com quem passava a véspera e o dia de Natal
e aqueles que conviviam comigo diariamente. E o que fizeram? Com dedicação, com
ternurenta dedicação, com mentira, a mais terna das mentiras, fizeram-me
acreditar no Pai Natal. Acreditei, se não me engano, até aos 9 anos (como era
boa a inocência daqueles tempos) e tudo graças à imaginação e à vontade dessas
pessoas em quererem ver o brilho de encanto que me invadia os olhos nessa
noite.
Havia a indispensável carta ao Pai Natal. Não havia
prendas à vista com antecedência. Faziam trinta por uma linha para eu sair de
perto da lareira para eles porem as prendas e dizerem que foi o barbudo.
Quantas vezes saí à rua quando me diziam que tinham avistado o trenó e eu saía
disparado na ânsia de o ver! E acreditem, cheguei a vê-lo! Não havia aquela
preocupação narcísica de saber quem é que deu as prendas…era sempre o gordo! O
que se fazia, por exemplo, era que as prendas dum tio eram entregues no dia a
seguir e dizia-se que foram as prendas que o Pai Natal deixou na casa desse
tio. Era a altura em que recebíamos presentes diferentes, aqueles brinquedos ou
livros que jamais recebíamos ao longo do ano. Aqueles brinquedos que íamos usar
até dizer chega, que íamos conservar como se fossem o maior tesouro à face da
Terra. Dávamos, sabíamos dar valor ao que tínhamos. Ainda devo ter, algures
numas caixas, grande parte dos meus brinquedos. Velhos, gastos, mas ainda
conservados.
Hoje em dia fere-me ver a morte da magia do Natal.
Não se confunda magia do Natal com desespero em receber muitas prendas. Os
miúdos sabem cada vez mais cedo que o homem de vermelho não existe. Sabem que
são os pais ou que é o tio x ou o tio y a dar as prendas. Por preguiça ou falta
de imaginação das pessoas em fazer acreditar. Pelo interesse egoísta de se
querer que saiba quem deu o quê. Temos os presentes na árvore de Natal muito
antes da meia-noite. E eu tenho pena, pena em primeiro lugar dos pequenos que
se vêem privados do encanto natalício; pena em segundo lugar pelos adultos que
se negam de experienciar o olhar maravilhoso duma criança crente; pena, em
terceiro e último lugar, por morrer a crença numa época mágica, para se ficar
apenas pelo consumismo desenfreado.
Apesar de tudo eu acreditei, acredito e continuarei a
acreditar na magia do Natal. Por muito que a veja a definhar, por muito que eu
veja falta de vontade dos adultos em manter a mais bela mentira do mundo, eu lutarei
por ela. Pela minha parte, nenhuma criança será privada da bela inocência da
sua infância.
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