Como é óbvio, não serei eu a dar resposta à pergunta
do título, pois faltam-me capacidades para tal. Não sou expert da área, não sou
educador ou professor, não trabalho com saúde infantil, não sou pai…ou seja,
sou um perfeito inapto ou ignorante para falar sobre o tema.
Vivemos numa sociedade em que, perigosamente, as
vontades dos adultos estão cada vez mais submissas às vontades dos mais
pequenos. E desta forma temos o mundo ao contrário. Utilizei a palavra “vontade”
de forma propositada. Se falasse em necessidades, não estaria aqui a escrever
isto e estaria completamente de acordo. O problema é que cada vez mais aparecem
mentes geniais a dizer que isto é que está bem.
Teorias há muitas, das sérias às duvidosas, com
messias anunciadores de novas verdades, pondo em causa tudo o que se preconiza
até à data. Seja na área infantil, como em qualquer outra. Numa época em que os
nosso olhos são expostos a um vasto número de informação, em que todos, através
duma simples pesquisa no Google, nos sentimos verdadeiros Dr. House’s, temos,
mais que nunca, de ser inteligentes naquilo que aceitamos.
E quando falo em ser inteligente, não me refiro a ir
pelo caminho mais fácil. Quando temos uma dúvida devemos pesquisar, idealmente,
sem nenhuma ideia pré-concebida, senão estaremos a orientar a nossa pesquisa para
ir de encontro a essa ideia.
Só como exemplo, se eu consumo muito açúcar e quero
pesquisar sobre a interferência do açúcar na minha saúde, não devo, como é
óbvio, pesquisar “benefícios do açúcar para a saúde”. Adultero o meu estudo e
só me servirá para tapar os meus olhinhos e insuflar o meu ego…”Eu estava
certo, o açúcar tem benefícios, vou continuar como até agora!”
Isto foi apenas um exemplo, não estou a falar de
açúcar, mas sim de crianças e a sua educação. Como se sabe, teorias sobre a
educação também há muitas, das mais conservadoras, passando nas equilibradas, até
chegarmos às ultra modernas.
E o que nos dizem muitas destas novas teorias que
defendem as inocentes e indefesas criancinhas? Que não se deve ser muito
exigente com elas, que se deve deixar fazê-las o que elas querem, pois um “não”
pode ser muito traumatizante, que não se deve deixá-las chorar etc.
Não sei se é apenas pelas novas gerações de pais
acreditarem mesmo nisto, não sei se é por terem menos tempo para os filhos, não
sei se é por terem menos paciência, não sei se é por não se quererem dar ao
trabalho de educar…mas os miúdos são, cada vez mais, o reflexo destas novas
teorias que, na minha, repito, minha opinião, apenas servem para deseducar e
formar pequenos malcriados e prepotentes.
Havendo vários aspetos que considero equivocados, o
maior equívoco que assisto é a igualdade de estatuto entre criança e adulto.
Temos inocentes crianças que chegam a qualquer sítio e pensam que são donas e
senhoras de tudo. Temos inocentes crianças que não fazem o que lhes mandam,
simplesmente, porque não lhes apetece. Temos inocentes crianças que olham para
um adulto da mesma maneira que olham para o colega do lado. Temos inocentes
crianças que se portam muito mal e são incapazes de o reconhecer…talvez porque
não têm bem definida a diferença entre bem e mal, porque o portar-se mal é a
única realidade do seu dia-a-dia.
Depois temos os pobres dos professores, ou de
qualquer pessoa que tem que ensinar alguma coisa às crianças, que se deparam
com uma situação enviesada. Em vez de receberem alunos para ensinar, recebem
alunos que têm, em primeiro lugar, que educar para depois ensinar. E educar
demora muito mais tempo e dá muito mais trabalho que ensinar. E os programas
nas escolas de certeza que não contemplam o tempo necessário para a primeira.
As escolas, quanto muito, devem reforçar a educação que é transmitida em casa…nunca
ser veículo primário de algo que as crianças desconhecem no seio familiar.
Adoro crianças e o carinho que tenho por elas não
diminui por não aceitar colocar-me ao nível delas. Nem o delas por mim diminui.
Tanto brinco com elas, como a seguir exijo disciplina. E a melhor maneira de
transmitir valores é dando o exemplo. Acredito sinceramente que uma criança sem
regras é uma criança que se sente perdida, embora possa aparentar ser
dominante. Elas precisam de amor, sem dúvida, mas também de regras, disciplina
e, acima de tudo, de orientação.
Como disse, teorias há muitas, mas os resultados
avaliam-se na prática. E a prática diz-me, não sei se só a mim, que o modelo
educacional atual está errado. Porque não é um caso, ou dois ou três, é a
maioria. Os bons resultados, esses começam a ser a, cada vez mais pequena,
minoria. A culpa…a culpa nunca será das crianças, elas são as vítimas.
Felizmente para elas que ainda há quem adore trabalhar com elas.