Desde há uns oito anos atrás até agora, sempre que
vesti o uniforme de trabalho deparei-me com um tipo de olhar muito
característico, pertença de pessoas que entraram na fase final da vida, apesar
de ninguém poder afirmar quando este será.
Não sei bem descrevê-lo…
Talvez um olhar triste, presente em pessoas que
perderam o controlo da sua vida.
Talvez um olhar cansado, presente em pessoas exaustas
da vida.
Talvez um olhar que clama desesperadamente por ajuda,
em pessoas que perderam a capacidade de pedi-la.
Talvez um olhar que, muitas vezes, pede desculpa pelo
que sai descontroladamente da boca.
Talvez um olhar distante, de pessoas que recordam um
passado longínquo em que foram jovens sonhadores.
Talvez um olhar ausente, privado de planos para o
presente e futuro.
São olhares que nos dizem muito, que carregam em si
todo o peso de uma vida, vidas de felicidade ou de infelicidade, vidas de árduo
trabalho ou de momentos inesquecíveis. Muitas vezes a dor, mais que do corpo
vem da alma, e exprime-se através de olhos que “falam”, “gritam” e choram.
Há ocasiões que por detrás de um palavrão ou de uma
agressão está alguém desesperado, preso num corpo que já foi seu e que agora
não lhe responde mais. E estas pessoas precisam, da nossa parte, de muita
paciência, dedicação e, porque não, carinho.
Não é fácil perceber isso, não há nada nos cursos que
nos ensine nem prepare para isso, nem apenas a experiência, por si só, nos pode
dar isso. Creio que, acima de tudo, é a sensibilidade de cada um para o cuidar
que o permite. E gostar, gostar muito do que fazemos. Peço desculpa, gostar
não, amar.
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