segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Tão perto…e tão longe!

No outro dia fui jantar e tomar café com um dos meus grandes amigos, daquelas pessoas que por muito tempo que possamos estar sem nos ver, a amizade em nada é abalada. Crescemos praticamente juntos e somos duas pessoas, modéstia à parte, cultas e com gosto em discutir um largo número de assuntos do dia-a-dia. Como consequência, nas quase quatro horas de convívio não houve espaço para telemóveis ou silêncios constrangedores. Sim, somos terrestres e não de Marte.
Estávamos em amena cavaqueira no café quando se senta um casal, na casa dos quarenta anos, na mesa ao lado. Até aqui nada estranho. Passa o tempo e, uns trinta minutos depois, outro casal chega e senta-se com o anterior, ele junto a ele, ela junto a ela e começam a falar. Virei-me para o meu amigo e perguntei “reparaste no mesmo que eu?”, ao que ele respondeu afirmativamente. E no que ambos, sem falarmos disso, reparamos?
O primeiro casal desde que se tinha sentado, ele e ela apenas tinham falado para pedir o que queriam. Desde aí até chegarem os amigos, um silêncio absoluto, absorvidos pelos deslumbrantes ecrãs dos seus telemóveis.
Juro que fiquei “incomodado” com o que assisti, uma cena surreal, mas que, cada vez mais, assistimos todos os dias em vários contextos. Vivemos num mundo egoísta e de relações solitárias (a velha questão de estar sozinho acompanhado).

Há uma preguiça gritante em se estabelecer contacto social, mesmo que as mesas de cafés e de restaurantes estejam lotadas com supostos amigos. Qual a lógica de ir ao café com um amigo e pôr-me no facebook a falar com outro? Para depois chegar a casa e ir ao facebook dizer ao amigo com quem tomei café “Pá, temos que marcar outro café para falarmos mais um bocado!”
Já escrevi sobre isto, mas repito. Estamos com as pessoas sem estarmos. Somos companhia sem o sermos. Desrespeitamos quem perde um pouco do seu tempo para estar connosco com a mais gritante falta de respeito. Temos uma incrível dificuldade (ou falta de vontade) para reinventarmos as nossas relações, sejam elas de que género forem.
Podem dizer que exagero, mas basta olharmos com olhos de ver o mundo à nossa volta e facilmente constatamos a veracidade do que digo. As causas podem ser discutidas, a realidade é o que se vê. E isto começa em idades, cada vez mais, precoces.
Somos, cada dia que passa, mais e mais prisioneiros do mundo virtual, tal e qual uma serpente encantada que segue o som da flauta. Estamos em tal ponto que o estado de encantamento é visto como sendo algo normal, o que nos rodeia é visto como secundário.
Os telemóveis e as redes sociais mudaram, sem dúvida, o mundo…duvido é que o tenham tornado melhor e mais feliz.







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