No outro dia fui jantar e tomar café com um dos meus
grandes amigos, daquelas pessoas que por muito tempo que possamos estar sem nos
ver, a amizade em nada é abalada. Crescemos praticamente juntos e somos duas
pessoas, modéstia à parte, cultas e com gosto em discutir um largo número de
assuntos do dia-a-dia. Como consequência, nas quase quatro horas de convívio
não houve espaço para telemóveis ou silêncios constrangedores. Sim, somos
terrestres e não de Marte.
Estávamos em amena cavaqueira no café quando se senta
um casal, na casa dos quarenta anos, na mesa ao lado. Até aqui nada estranho.
Passa o tempo e, uns trinta minutos depois, outro casal chega e senta-se com o
anterior, ele junto a ele, ela junto a ela e começam a falar. Virei-me para o
meu amigo e perguntei “reparaste no mesmo que eu?”, ao que ele respondeu
afirmativamente. E no que ambos, sem falarmos disso, reparamos?
O primeiro casal desde que se tinha sentado, ele e
ela apenas tinham falado para pedir o que queriam. Desde aí até chegarem os
amigos, um silêncio absoluto, absorvidos pelos deslumbrantes ecrãs dos seus
telemóveis.
Juro que fiquei “incomodado” com o que assisti, uma
cena surreal, mas que, cada vez mais, assistimos todos os dias em vários
contextos. Vivemos num mundo egoísta e de relações solitárias (a velha questão de estar sozinho acompanhado).
Há uma preguiça gritante em se estabelecer contacto social, mesmo que as mesas de cafés e de restaurantes estejam lotadas com supostos amigos. Qual a lógica de ir ao café com um amigo e pôr-me no facebook a falar com outro? Para depois chegar a casa e ir ao facebook dizer ao amigo com quem tomei café “Pá, temos que marcar outro café para falarmos mais um bocado!”
Já escrevi sobre isto, mas repito. Estamos com as
pessoas sem estarmos. Somos companhia sem o sermos. Desrespeitamos quem perde
um pouco do seu tempo para estar connosco com a mais gritante falta de
respeito. Temos uma incrível dificuldade (ou falta de vontade) para reinventarmos
as nossas relações, sejam elas de que género forem.
Podem dizer que exagero, mas basta olharmos com olhos
de ver o mundo à nossa volta e facilmente constatamos a veracidade do que digo.
As causas podem ser discutidas, a realidade é o que se vê. E isto começa em
idades, cada vez mais, precoces.
Somos, cada dia que passa, mais e mais prisioneiros
do mundo virtual, tal e qual uma serpente encantada que segue o som da flauta.
Estamos em tal ponto que o estado de encantamento é visto como sendo algo
normal, o que nos rodeia é visto como secundário.
Os telemóveis e as redes sociais mudaram, sem dúvida,
o mundo…duvido é que o tenham tornado melhor e mais feliz.
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