Não, não me vou atrever a falar sobre os incêndios…sinto-me
demasiado envergonhado para falar disso, por pertencer a um país que trata com
leviandade futebolística e partidária um tema que tira vidas a portugueses
iguais a mim.
Depois de acontecer o impensável, aconteceu o
impossível (primeiro indecoro). Bem verdade quando se diz que o impossível só o é até
aparecer quem o torne possível. E nisso temos os melhores do mundo a fazer
acontecer as piores coisas impossíveis. Temos a classe política mais
incompetente, mais desumana, mais sem vergonha que possa existir (mas talvez a
mereçamos…).
Após o sucedido apenas havia algo que se poderia
dizer aos portugueses e às vítimas desaparecidas…“Desculpem”. Ao invés disso
assisti, incrédulo, às declarações do Sr. Costa (segundo indecoro). Acredite
que muito me custa chamar-lhe senhor, não merece, não é digno sequer de ser
apelidado de pessoa. Não é homem para ocupar o lugar que ocupa, pelo discurso,
pela inércia, pela falta de humanismo, pela arrogância, pela maneira como
escolheu de subir ao poder.
Depois temos a Constança, de uma inconstância
descomunal (terceiro indecoro). Fala a pobre mulher que não teve férias.
Deixe-me que lhe diga, podia ter ido que não se teria dado pela sua falta.
Temos os do poleiro, que lançam as culpas para cima
dos que lá estiveram e para a população, como se não fosse nada com eles
(quarto indecoro) …apenas a recuperação fantasma do país se deve a eles.
Temos os que estiveram no poleiro e já não estão, a
apontar o dedo como se em nada tivessem contribuído para o estado de calamidade
verificado (quinto indecoro).
Temos Portugal no seu melhor, em que a culpa sempre
morreu solteira. Esta impunidade que se vive na política simplesmente enoja-me,
não há outra palavra que expresse melhor o que sinto.
Depois vem o pior de tudo. Eu dos políticos já tudo
espero, já nada me espanta. O que me espanta é muito boa gente vir a poleiro
defender o indefensável (sexto indecoro). Quando se devia ser firme e intransigente
com todos os responsáveis pelo que aconteceu (que não são apenas deste ano),
pelas vidas perdidas, para alguns elas são admissíveis dependendo da cor
política que governe. Vêm com paninhos quentes, vêm dizer que são situações
inesperadas (para quem é inesperado algo que acontece ano após ano?), que não se
podem controlar, etc. Sabem, também me enoja esse tipo de discurso…profundamente.
Depois há as manifestações solidárias para com os
bombeiros, com os donativos em bens e dinheiro, no apelo a que todos devíamos
ser associados etc. Já refleti muitas vezes a minha opinião sobre os bombeiros,
admiro imenso o papel deles, admiro mesmo, eu não o faria. Em pleno século XXI
não acho que seja admissível, para uma profissão tão exigente, o voluntariado.
Em tempos que se exige profissionalismo máximo na mínima das profissões, esta
não pode seguir nas mãos da boa vontade. Tem que se dotar os bombeiros de
condições para que possam exercer a sua profissão de forma segura, para eles e
para os outros. Seria algo que traria maior responsabilização aos profissionais
em causa, mas repito, sendo profissionais estariam em muito melhor posição para
o assumir. Ou será que ainda temos os hospitais cheios de freiras a prestar
cuidados de enfermagem? Nada contra as senhoras que o fizeram e ajudaram na
evolução da profissão, mas os tempos e exigências mudaram.
Para finalizar, temos as árvores que de repente nos
lembramos de plantar, em vez de dar brinquedos às crianças e pronto, problema
resolvido, nada do que se passou este ano voltará a acontecer…peço desculpa,
mas, em primeiro lugar, não são as crianças que têm culpa do sucedido. Em
segundo, não contem comigo para ser cúmplice no camuflar da situação.
É a hora de apontar o dedo de vez, de pedir a “cabeça”
dos responsáveis, de tomar medidas que realmente mudem o panorama e nos
permitam ter segurança no futuro. Brincar ao faz de conta fará com que para o
ano estejamos aqui outra vez a falar do mesmo, a pedir mais donativos e
associados para os bombeiros e a plantar novas árvores para substituir as que
se queimaram de novo. Nem tudo é possível de substituir, nem tudo se resolve
com a boa vontade de voluntários e cidadãos. As vidas humanas que se perderam e
tudo que representam não voltam.
Na Galiza morreram quatro pessoas, saíram milhares à
rua, aqui morreram muitas mais, milhões puseram-se online. Por isso digo, temos
o que merecemos.
Temo ser uma mente perturbada, com ideias alucinogénias
num mundo equilibrado e são. Talvez esteja sozinho, a falar com os meus botões num
estado de muda esquizofrenia. Mas dentro da minha loucura, estou imensamente
preocupado pelo mundo onde vivo.