segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Tragédia de Sabrosa...um lugar comum


 Lamentavelmente a tragédia bateu à porta duma família em Sabrosa, família esta que vivia com poucas condições segundo se consta.
O que aconteceu, infelizmente, tem ocorrido pontualmente a pessoas de melhor ou pior condição social.
De repente, lê-se e ouve-se muita indignação nas redes sociais (grande lugar para os opinadores de sofá) e nos jornais televisivos (em que o que interessa é aparecer, independentemente do que se diga).
Ouvi dizer que esta família era humilde, de gente trabalhadora, pronto, que bebia um bocado, mas que não foi por aí. Sai uma multidão, que até ontem devia de pensar que estas situações não existem, a reclamar casas para as pessoas que precisam.
Multidão esta que é a mesma que reclama contra o RSI, que reclama contra as ajudas socias de quem menos tem, que se alguma entidade ligada ao Estado desse uma casa a uma família carenciada seriam os primeiros a gritar a injustiça que seria uns terem que trabalhar para ter uma casa e outos não. A hipocrisia (só se vê quando se quer) e a bipolaridade (analisa-se as situações conforme o que interessa no momento) são duas caraterísticas muito portuguesas, não são apenas qualidades.
Bato na mesma tecla há muito tempo, somos, cada vez mais, um país de terceiro mundo com aparência de primeiro. No parecer, parecemos muito. Não há crianças e/ou adultos sem telemóvel, sem carro, sem roupas de marca, sem casa própria, tudo se consegue com aparente facilidade. Até os pais que se matam a trabalhar por dar luxos aos filhos acreditam na normalidade da situação.
Mas por trás desta fachada há um outro Portugal, um país de miséria de início do século XX, em que noções básicas de higiene, saúde ou condições habitacionais mínimas diferem um pouco do que a maioria de nós tem.
E estes casos existem à vista de toda a gente, todos nós sabemos de alguém que vive abaixo do que consideramos digno. E todos assobiamos para o lado, como se fossem invisíveis aos nossos olhos.
Estas situações deviam ser sinalizadas pelas entidades que mais perto delas vivem, que atuam no terreno. Não vou acusar ninguém, porque não sei quais as condições que o país dá aos profissionais responsáveis por estes casos para os resolver. Sou, isso sim, da opinião que, mesmo o país não dando condições para tal, se deva sinalizar os casos. O que não se deve fazer é saber-se das situações e nada se fazer, apenas porque nada se poderá solucionar.
A nível profissional são muitos os casos que nos passam pelas mãos, famílias idênticas às de Sabrosa, que de repente deixaram de ter condições para regressar ao domicílio, domicílio que até ao momento tinha servido. Aproveita-se a institucionalização das pessoas para que os serviços de saúde resolvam os problemas sociais da população. Além de se tratar e cuidar de um doente, as equipas lutam para proporcionar soluções sociais a estas pessoas. Depois temos as camas hospitalares e da RNCCI com pessoas saudáveis que não têm lugar para onde ir, e doentes que não têm uma cama para se deitar.
Depois é a velha máxima que utilizo, cada caso é um caso. Há pessoas que tiveram azar no meio em que nasceram, mas construíram a sua sorte, há outras que tiveram sorte no seio familiar e foram em busca do azar. E há as que nunca souberam sair do azar em que nasceram. Simplesmente nem todo o azarado é coitadinho.
Um conselho se me permitem. Quando acharem que há alguém que conhecem em risco social, comuniquem-no nos devidos sítios, de modo que as entidades competentes possam atuar.
O que aconteceu em Sabrosa é triste e poderia ter sido evitável, mas não sou ninguém nem conhecedor dos dados para poder dizer que a tragédia tem ou não a ver com a situação social da família. Tudo que pudesse dizer nesse sentido seria especulativo e sensacionalista.

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