quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

A cruel passagem do tempo



14 anos, 14 longos anos…não imaginas o esforço que faço para manter viva a tua presença.
A imagem é-me mantida pelas inúmeras fotos, desde tenra avó até que te tornaste na mais sapiente delas todas. O que sempre foste, com ou sem experiência, foi atenciosa, carinhosa, uma cuidadora cuidadosa, devotada à família.
Da tua voz vou perdendo o som, tentando lembrar conversas longínquas que parece que tivemos ontem.
Do teu calor e do teu cheiro já não tenho ideia, bem tento, mas não recordo. Maldita memória que me atraiçoa.
O que não esqueço é o sentimento de segurança e de paz que me davas. Quando pequeno, o teu colo era porto de conforto, quando já crescido eras a voz da experiência cuja presença me tranquilizava.
Sei que não eras perfeita, mas na tua imperfeição foste a avó perfeita. É em ti, na tua maneira de ser, que baseio a forma em como cuido dos outros. Não me viste a tornar-me enfermeiro, na altura em que partiste ainda era um projeto muito fraquinho e inseguro do que seria. Das últimas imagens que tenho, eram as minhas visitas ao hospital para te ver em que tu dizias às tuas vizinhas de quarto que eu era enfermeiro…e eu cheio de medo em que alguma das enfermeiras te ouvisse! Já me questionaram o porquê de ter escolhido este caminho, ao que respondo que desde cedo tive essa ideia. Agora o porquê de a ter, cada vez mais tenho a certeza que foi por tua causa.
Estranha vida esta, quando precisaste não estava preparado para cuidar, agora que me sinto capaz já cá não estás. Acredito que fosses gostar no enfermeiro em que me tornei, pelo menos assim gosto de pensar.
Saudades são muitas, talvez a única coisa que me fizesse querer voltar atrás no tempo seria sentar-me uma última vez no teu colo, eu pequeno num dos lugares mais seguros do mundo.
Beijinho do teu neto

Sem comentários:

Enviar um comentário