A imagem é-me mantida pelas inúmeras fotos, desde
tenra avó até que te tornaste na mais sapiente delas todas. O que sempre foste,
com ou sem experiência, foi atenciosa, carinhosa, uma cuidadora cuidadosa,
devotada à família.
Da tua voz vou perdendo o som, tentando lembrar
conversas longínquas que parece que tivemos ontem.
Do teu calor e do teu cheiro já não tenho ideia, bem
tento, mas não recordo. Maldita memória que me atraiçoa.
O que não esqueço é o sentimento de segurança e de
paz que me davas. Quando pequeno, o teu colo era porto de conforto, quando já
crescido eras a voz da experiência cuja presença me tranquilizava.
Sei que não eras perfeita, mas na tua imperfeição
foste a avó perfeita. É em ti, na tua maneira de ser, que baseio a forma em
como cuido dos outros. Não me viste a tornar-me enfermeiro, na altura em que
partiste ainda era um projeto muito fraquinho e inseguro do que seria. Das últimas
imagens que tenho, eram as minhas visitas ao hospital para te ver em que tu
dizias às tuas vizinhas de quarto que eu era enfermeiro…e eu cheio de medo em
que alguma das enfermeiras te ouvisse! Já me questionaram o porquê de ter
escolhido este caminho, ao que respondo que desde cedo tive essa ideia. Agora o
porquê de a ter, cada vez mais tenho a certeza que foi por tua causa.
Estranha vida esta, quando precisaste não estava
preparado para cuidar, agora que me sinto capaz já cá não estás. Acredito que
fosses gostar no enfermeiro em que me tornei, pelo menos assim gosto de pensar.
Saudades são muitas, talvez a única coisa que me
fizesse querer voltar atrás no tempo seria sentar-me uma última vez no teu
colo, eu pequeno num dos lugares mais seguros do mundo.
Beijinho do teu neto
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