segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

A batalha das batalhas



Hoje comemora-se (será que é a palavra mais adequada?) o dia Mundial da Luta Contra o Cancro. Apesar de estarmos no arranque do século XXI, quase a chegar ao quarto de século, ainda muito falta por descobrir para que esta luta não seja tão desigual e este nome não seja uma sombra que paira, alguma vez na vida, sobre nós.
Já perdi muitas vidas para esta doença, das minhas, daquelas que me viram nascer e crescer, mas também daquelas que me foram confiadas e que, não sendo minhas, acabaram por sê-lo de alguma forma.
A nível pessoal, foram perdas irreparáveis, daquelas que deixam larga saudade e um sentimento de impotência ao ver a despedida, lenta e dolorosa, de quem me era próximo sem nada poder fazer para o impedir.
Mesmo sendo conhecedor dos limites da ciência, mesmo sabendo que nem todo o dinheiro do mundo serviria para alguma coisa, custa ver a partida anunciada de que nos é querido.
A nível profissional, lidar com o doente oncológico já fez mais parte do meu dia-a-dia do que faz atualmente. Porém, é algo que estará sempre presente. Posso dizer que, muito mais além da parte do tratamento, da paliação ou do conforto a prestar, muitas destas pessoas que passaram pelas minhas mãos fizeram-me crescer enquanto ser humano.
É impossível ficar indiferente. Sem pena, não confundamos os sentimentos. Meio a brincar, quando ouço um “tenha pena de mim Sr. Enfermeiro” sempre digo aos meus doentes que não estou lá para ter pena deles, mas sim para tentar que eles não tenham esse sentimento em relação a eles mesmos.
Foram muitas as histórias que ouvi de doentes com o fim da vida anunciado. Histórias que me levaram a percorrer Espanha, Hungria, Polónia, Portugal, das colónias a “outras” Áfricas, entre muitos outros sítios. Muitas delas guardo-as nos confins da minha memória, outras peço desculpa pelo tempo as ir apagando.
Porém, tenho por todas as pessoas que passaram e passam por mim no meio desta luta um enorme respeito, admiração e gratidão. Modificaram e modificam a minha maneira de ver e pensar a vida.
O maior tributo a todas as vítimas do Cancro será a descoberta da sua cura. Até lá, continuarei a minha missão de os apoiar e cuidar quando for caso disso. E, acima de tudo, de os escutar e aprender com eles.


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