quinta-feira, 16 de abril de 2020

Uma luz ao fundo do túnel...


Passou um mês e meio desde a entrada desta famigerada pandemia no nosso país, tomando conta das nossas vidas e da nossa liberdade.
Portugal viu-se obrigado a mudar, fecharam restaurantes, cinemas, shoppings…fecharam cabeleireiros(as), esteticistas, lojas de vestuário…fecharam-se as pessoas em casa.
E tudo o que não fechou teve que, muito rapidamente, se readaptar às novas (grandes) exigências.
A face mais visível serão sempre todos os profissionais que trabalham 24h sobre 24h nos nossos hospitais, soldados finais no combate entre a vida e a morte, a quem rendo o meu devido agradecimento. As chamadas “linhas da frente”.
Permitam-me, podendo sempre ser contrariado, rejeitar esta ideia de linhas da frente e linhas de retaguarda. O objetivo máximo passa por evitarmos ao máximo a lotação dos ventiladores e dos profissionais que os sabem manusear. E isso é papel de todos nós.
Por isso as linhas da frente são…
Todas as pessoas que se encontram em isolamento em casa, que cumprem com todos os cuidados recomendados, sendo eles próprios agentes de saúde pública.
Todas as forças de segurança, imperativas no controlo eficaz de quem não cumpre e na sensibilização da população.
Todas as instituições de cariz social, nomeadamente os lares, que longe de estarem preparados para algo assim (se nem hospitais estavam) têm, a meu ver, papel primordial em atrasar/evitar a lotação do SNS. É lá que sem encontra a maior parte de pessoas de risco elevado. E apesar de tudo, de alguns percalços e atitudes pascais inconcebíveis, têm feito um trabalho de mérito.
Todos os hospitais e unidades da RNCCI que não são de acolhimentos de casos de COVID-19, mas que continuam a ter fluxo de doentes. Muitas vezes, o maior perigo é aquele que não se vê ou que não se espera. E sabemos que pessoas infetadas podem não ter escrito na testa “COVID-19”.
Eu, que trabalho numa unidade da RNCCI, acabo de ser rendido, juntamente com outros valorosos colegas, após dias consecutivos de labor intenso. E a intensidade, entenda-se, não é só a física. O ponto de exaustão deve-se à junção do esforço físico com o desgaste emocional acrescido. O medo…medo de, apesar de todos os cuidados, sermos porta de entrada para o vírus. Porque lidando de perto com pessoas, na sua maioria debilitadas, não posso ter a arrogância de pensar que nada tenho e que não posso falhar. Penso e repenso todos os meus passos e intervenções, por mim, por eles, pelos colegas e pelos meus. Contrariando esse medo, a vontade de continuar a cuidar de quem precisa, mesmo que atualmente tenhamos que assumir que cada um pode ser um possível infetado. Mas mais que isso, continuam a ser pessoas.
Como disse, acabo estes dias exausto, mas com um sentimento de dever cumprido. Palavra a toda a equipa que agora sai comigo…fomos e somos capazes. Aos que entram (que são minha equipa, mas apenas separados pelas circunstâncias) …tenho toda a confiança em vocês e no que vão fazer. A todos, é um orgulho crescer enquanto pessoa e profissional no vosso meio.
São vocês que me fazem ver a luz ao fundo do túnel.

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