quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Meros acessórios ou meios de propagação?

Antes de mais, quero deixar bem claro que há coisas bem piores que andar de pulseiras, anéis e outros acessórios que levam à transmissão de infecções nos hospitais...o que não confere à situação motivos para não ser alvo de preocupação e reflexão…e mudança. Atentem no pormenor de não ter identificado qualquer tipo de classe profissional em relação a este item. Mas já lá vamos.
Durante o meu curso de Enfermagem, sempre se deu importância a estes meios como vectores de transmissão de doenças. Não é preciso ser um génio na matéria para o perceber. O comum dos mortais queimaria o seu uniforme ao fim de um turno de trabalho num serviço hospitalar. Exagero? Admito que sim, mas mais vale pecar por excesso de zelo que por falta dele.
Eu apenas estagiei num hospital em Portugal. Claro que o isolamento intra hospitalar não era perfeito, pois os profissionais saiam do serviço para ir comer com o uniforme do trabalho, mas tentava-se limitar os riscos. Do que me lembro, levávamos sempre uma bata que não usávamos no serviço para estas pequenas e rápidas saídas. O pessoal do bloco operatório não saía do bloco, comendo inclusive no serviço.
Porém, havia (e acredito que ainda haja) uma classe de profissionais resistentes a estes pormenores (tipo os gauleses do Asterix com os romanos). É vê-los a fazer a ronda com a roupa que trazem vestida de casa ou com apenas uma bata aberta a fazer de conta que protege de alguma coisa. É vê-los a ir aos bares dos hospitais com a roupa e bata com que fazem a visita aos doentes (nem que venham de um bloco operatório). É vê-los a andar sempre com um instrumento de trabalho ao pescoço (e de contacto com os doentes…será que o desinfectam de doente para doente?), que segundo a análise de um professor meu de Sociologia (não enfermeiro), dele ou de alguém, este aspecto é um fenómeno social que serve para reforçar estatuto e marcar a diferença nos hospitais.  É a mesma coisa que nós andarmos de seringa ou com as pinças de fazer os pensos nos bolsos dos uniformes! Nem falo só na questão de transmissão de doente para doente…eles não têm família?
Dizer que estes acessórios não são responsáveis por infecções nosocomiais e resistir à mudança, mais que lógica, é atirar areia para os olhos. E vindo de uma entidade que devia promover uma saúde cada vez mais segura, ainda mais estranho é (ou será irresponsável?). É a mesma coisa que dizer que os luxos de alguns não interferem na crise do país…podem não ser a causa principal, mas não deixam de ser uma das causas.
Mais um tiro nos pés de uma Ordem, ainda recentemente abalada com a tentativa desesperada e falhada de tirar trabalho a outros profissionais de saúde.
Claro que a falta de profissionais de saúde prejudica, e muito, o bom funcionamento do Sistema Nacional de Saúde na sua globalidade, não está isso em causa. Mas esta pseudo defesa do SNS por parte da OM, serve apenas para desviar a atenção de algo que já devia ter mudado há muito tempo. Pergunto, será que há alguém (re)compensado por manter vias de transmissão de infecções? Ainda saiu estes dias um artigo sobre a toma errada e exagerada de antibióticos. E não me digam que a culpa é da automedicação dos doentes…quando é preciso receita médica para comprar um antibiótico!

Se a OM está realmente interessada num SNS melhor, está na hora de também mostrar que o quer!

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