Antes de mais, quero deixar bem
claro que há coisas bem piores que andar de pulseiras, anéis e outros
acessórios que levam à transmissão de infecções nos hospitais...o que não
confere à situação motivos para não ser alvo de preocupação e reflexão…e
mudança. Atentem no pormenor de não ter identificado qualquer tipo de classe
profissional em relação a este item. Mas já lá vamos.
Durante o meu curso de Enfermagem,
sempre se deu importância a estes meios como vectores de transmissão de
doenças. Não é preciso ser um génio na matéria para o perceber. O comum dos
mortais queimaria o seu uniforme ao fim de um turno de trabalho num serviço
hospitalar. Exagero? Admito que sim, mas mais vale pecar por excesso de zelo
que por falta dele.
Eu apenas estagiei num hospital em
Portugal. Claro que o isolamento intra hospitalar não era perfeito, pois os
profissionais saiam do serviço para ir comer com o uniforme do trabalho, mas tentava-se
limitar os riscos. Do que me lembro, levávamos sempre uma bata que não usávamos
no serviço para estas pequenas e rápidas saídas. O pessoal do bloco
operatório não saía do bloco, comendo inclusive no serviço.
Porém, havia (e acredito que ainda
haja) uma classe de profissionais resistentes a estes pormenores (tipo os
gauleses do Asterix com os romanos). É vê-los a fazer a ronda com a roupa que
trazem vestida de casa ou com apenas uma bata aberta a fazer de conta que
protege de alguma coisa. É vê-los a ir aos bares dos hospitais com a roupa e
bata com que fazem a visita aos doentes (nem que venham de um bloco
operatório). É vê-los a andar sempre com um instrumento de trabalho ao pescoço
(e de contacto com os doentes…será que o desinfectam de doente para doente?),
que segundo a análise de um professor meu de Sociologia (não enfermeiro), dele
ou de alguém, este aspecto é um fenómeno social que serve para reforçar
estatuto e marcar a diferença nos hospitais.
É a mesma coisa que nós andarmos de seringa ou com as pinças de fazer os
pensos nos bolsos dos uniformes! Nem falo só na questão de transmissão de
doente para doente…eles não têm família?
Dizer que estes acessórios não são
responsáveis por infecções nosocomiais e resistir à mudança, mais que lógica, é
atirar areia para os olhos. E vindo de uma entidade que devia promover uma
saúde cada vez mais segura, ainda mais estranho é (ou será irresponsável?). É a
mesma coisa que dizer que os luxos de alguns não interferem na crise do país…podem
não ser a causa principal, mas não deixam de ser uma das causas.
Mais um tiro nos pés de uma Ordem,
ainda recentemente abalada com a tentativa desesperada e falhada de tirar
trabalho a outros profissionais de saúde.
Claro que a falta de profissionais
de saúde prejudica, e muito, o bom funcionamento do Sistema Nacional de Saúde
na sua globalidade, não está isso em causa. Mas esta pseudo defesa do SNS por
parte da OM, serve apenas para desviar a atenção de algo que já devia ter mudado
há muito tempo. Pergunto, será que há alguém (re)compensado por manter vias de transmissão
de infecções? Ainda saiu estes dias um artigo sobre a toma errada e exagerada
de antibióticos. E não me digam que a culpa é da automedicação dos doentes…quando
é preciso receita médica para comprar um antibiótico!
Se a OM está realmente interessada
num SNS melhor, está na hora de também mostrar que o quer!
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