domingo, 27 de janeiro de 2013

Indignado...


Ontem deparei-me com uma situação que me deixou incomodado.
Fui com a minha mãe a um dos muitos supermercados de Fafe e ao chegar um senhor, com os seus 60, 60 e muitos anos, encostado a uma carrinha, fez-me sinalética para um dos muitos lugares vagos no parque de estacionamento. Estacionei noutro lugar e comentei à minha mãe “não me digas que já estão aqui a arrumar carros!” ao que ela respondeu “Não, este senhor não parece, aparenta mais estar à espera e alguém.” Visto que a observação da minha mãe me pareceu de veras plausível, ao sair do carro acenei com a mão, em jeito de agradecimento, ao senhor que continuava encostado na mesma carrinha, o qual esboçou um gesto igual ao meu acompanhado de um amistoso sorriso.
Ao regressar ao carro e quando já me preparava para ligar o carro, vejo que uma rapariga acabava de dar uma esmola ao senhor. Caiu-me tudo. Eu que nunca dou nada a arrumadores, eu que abomino esta praga da sociedade moderna (acho que não sou preconceituoso ao dizer que na sua maioria são toxicodependentes), instintivamente meti a mão ao bolso para ver o que tinha…um mísero euro. Automaticamente e sem pensar ou reflectir acenei ao senhor, ele veio junto ao meu carro, e dei-lhe a moeda de um euro. Quase que envergonhado, explicava-se da sua necessidade de ter que recorrer a este meio para ganhar mais algum, uma vez que a segurança social lhe ia cortar ainda mais na sua reforma. O que mais me tocou ainda, foi o profundo agradecimento do senhor pela moeda que lhe acabava de dar, que pelo menos para comprar pão já servia. Sei que agradeceria de igual forma se lhe tivesse dado 20 cêntimos ou mesmo um pão.
Eu estou habituado a arrumadores que fazem o que fazem para manter o vício, que são malcriados para quem não lhes dá nada ou não dá o que eles acham justo pelo valoroso serviço que prestam à comunidade; que se colam às pessoas, até de forma intimidatória para conseguirem a gorjeta; que têm má apresentação e mau aspecto. Não estou habituado a uma pessoa que se intimida pelo que está a fazer, quase que pedindo desculpa. Que não vem atrás das pessoas que não lhe dão gorjeta. Que não solta uma má palavra pela moeda não ser a que esperava. Não estou habituado a uma pessoa que tem uma aparência cuidada e simpática e que é afável com todos.
É verdade que este senhor também disse aquela frase feita “É melhor pedir que roubar!” Sim, já se sabe que sim, nem eu vejo nisto justificação para se pedir. Roubar é crime, seja por luxúria seja por necessidade. Por muita fome que eu passe, se vou roubar uma pessoa que devido ao furto vai passar pelas necessidades que eu passo, estou a ser pior que ladrão. E o problema é que não há cá Robins dos Bosques, que roubam aos ricos para dar aos pobres. Normalmente o pobre rouba o pobre, porque são sempre pessoas mais desprotegidas e mais fáceis de roubar.
Saí de lá a pensar nisto e pensei nisto durante o dia e mesmo de noite no trabalho. Eu sei que há crise. Principalmente, da boca para fora de quem menos a sente. Mas ontem eu vi a crise, vi o que de mais deplorável ela tira ou tenta tirar…a nossa dignidade.

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