Ontem deparei-me com uma situação
que me deixou incomodado.
Fui com a minha mãe a um dos muitos
supermercados de Fafe e ao chegar um senhor, com os seus 60, 60 e muitos anos,
encostado a uma carrinha, fez-me sinalética para um dos muitos lugares vagos no
parque de estacionamento. Estacionei noutro lugar e comentei à minha mãe “não
me digas que já estão aqui a arrumar carros!” ao que ela respondeu “Não, este
senhor não parece, aparenta mais estar à espera e alguém.” Visto que a
observação da minha mãe me pareceu de veras plausível, ao sair do carro acenei
com a mão, em jeito de agradecimento, ao senhor que continuava encostado na
mesma carrinha, o qual esboçou um gesto igual ao meu acompanhado de um amistoso
sorriso.
Ao regressar ao carro e quando já
me preparava para ligar o carro, vejo que uma rapariga acabava de dar uma
esmola ao senhor. Caiu-me tudo. Eu que nunca dou nada a arrumadores, eu que
abomino esta praga da sociedade moderna (acho que não sou preconceituoso ao
dizer que na sua maioria são toxicodependentes), instintivamente meti a mão ao
bolso para ver o que tinha…um mísero euro. Automaticamente e sem pensar ou
reflectir acenei ao senhor, ele veio junto ao meu carro, e dei-lhe a moeda de
um euro. Quase que envergonhado, explicava-se da sua necessidade de ter que
recorrer a este meio para ganhar mais algum, uma vez que a segurança social lhe
ia cortar ainda mais na sua reforma. O que mais me tocou ainda, foi o profundo agradecimento
do senhor pela moeda que lhe acabava de dar, que pelo menos para comprar pão já
servia. Sei que agradeceria de igual forma se lhe tivesse dado 20 cêntimos ou mesmo
um pão.
Eu estou habituado a arrumadores
que fazem o que fazem para manter o vício, que são malcriados para quem não
lhes dá nada ou não dá o que eles acham justo pelo valoroso serviço que prestam
à comunidade; que se colam às pessoas, até de forma intimidatória para
conseguirem a gorjeta; que têm má apresentação e mau aspecto. Não estou
habituado a uma pessoa que se intimida pelo que está a fazer, quase que pedindo
desculpa. Que não vem atrás das pessoas que não lhe dão gorjeta. Que não solta
uma má palavra pela moeda não ser a que esperava. Não estou habituado a uma
pessoa que tem uma aparência cuidada e simpática e que é afável com todos.
É verdade que este senhor também
disse aquela frase feita “É melhor pedir que roubar!” Sim, já se sabe que sim,
nem eu vejo nisto justificação para se pedir. Roubar é crime, seja por luxúria
seja por necessidade. Por muita fome que eu passe, se vou roubar uma pessoa que
devido ao furto vai passar pelas necessidades que eu passo, estou a ser pior
que ladrão. E o problema é que não há cá Robins dos Bosques, que roubam aos
ricos para dar aos pobres. Normalmente o pobre rouba o pobre, porque são sempre
pessoas mais desprotegidas e mais fáceis de roubar.
Saí de lá a pensar nisto e pensei
nisto durante o dia e mesmo de noite no trabalho. Eu sei que há crise.
Principalmente, da boca para fora de quem menos a sente. Mas ontem eu vi a
crise, vi o que de mais deplorável ela tira ou tenta tirar…a nossa dignidade.
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