Há uns dias atrás, tendo em conta uma
situação passada em todos os concursos das ARS, com uma pequena diferença no da
ARS Norte, enviei um mail a uma sede do SEP. Eu não tenho jeito para estas
coisas, enviar e-mails a entidades. Sou demasiado informal. Não os trato com
cortesia, não os apelido de Vossa Excelência, ainda para mais quando são meus
colegas de trabalho.
Admito que saturado de tanta injustiça
(forma de corrupção?) que varre muitos dos concursos públicos, saturado de
tanta hipocrisia, às vezes escrevo de uma forma mais emocional que racional.
Porém, creio não me perder no turbilhão de sentimentos, pois poderia perder a
razão. Razão essa que acredito ter, eu e muitos (milhares) dos meus colegas de
profissão.
Há uns 2 anos troquei uns e-mails com a
Ordem acerca de uns temas que me incomodavam
(http://conscienciadeumenfermeiro.blogspot.com.es/2011/06/carta-aberta-aos-colegas.html)...responderam
até onde acharam pertinente e parece-me que se calaram quando a insistência da
minha parte se tornou impertinente para eles. Pena que o que interessa a uns,
não interessa a outros. Pena que o que interessa a milhares de enfermeiros por
esse mundo fora, não interessa à entidade que os devia representar acima de
qualquer outra!
Desta vez não obtive qualquer tipo de
resposta. Nem a esperava, não sou sindicalizado sequer. De qualquer das
maneiras deixo aqui para quem quiser ler o que mandei. Sinto que quem sai de
Portugal, está completamente abandonado, quer por Ordem quer por sindicatos.
Somos excedentes. Somos um fardo do qual finalmente conseguiram ver-se livres.
Somos enfermeiros de segunda aos seus olhos.
Eu não acho. Acho que somos de primeira.
Praticamos a mesma enfermagem, adaptando-a aos mais diversos contextos e
sistemas. Praticamos enfermagem em várias línguas, somos bem aceites, mais que
pela nossa formação, pela nossa atitude, pela forma de nos relacionarmos
com colegas e doentes, pela nossa capacidade de trabalho.
A todos esses Enfermeiros de Primeira
espalhados por esse mundo fora...um sentido abraço.
"Boa noite.
Chamo-me Jorge Gomes,
tenho 28 anos, sou enfermeiro com cédula profissional (...), e
dirijo-me à vossa entidade devido a uma situação que ocorre nos atuais
concursos das ARS Centro, Alentejo e Lisboa e Vale do Tejo.
Sou enfermeiro desde 2007,
trabalho em Espanha desde Julho de 2008. Fui para o estrangeiro na busca da
experiência profissional que me era exigida aqui para ter maiores
possibilidades nos mais variados concursos.
Foi anunciado por
governo e pela Ordem o concurso para 750 vagas, aberto para todos os
enfermeiros, com ou sem prévia relação jurídica de emprego público constituída.
Apesar de 750 vagas ser uma gota no oceano em relação ao número de enfermeiros
desempregados e ao número de enfermeiros que trabalham no estrangeiro, mas que
gostariam de voltar, este concurso foi uma luz ao fundo do túnel para muitos
dos colegas que se encontram em igual situação que eu.
Qual o meu espanto,
lendo as atas dos referidos concursos, ao deparar-me com a incoerência que a
experiência profissional a ser valorizada será aquela unicamente adquirida em
instituições do SNS!
Para quê dar uma réstia
de esperança a muitos jovens enfermeiros, se de maneira baixa e quase em letras
minúsculas a fazem esfumar-se?
Para mim estes concursos não passam de uma tentativa de atirar areia para os
nossos olhos só para se dizer que se conseguiu algo. Desta maneira, mais uma
vez, mostra-se que para certas pessoas há enfermeiros de primeira e enfermeiros
de segunda.
Para quê tanta
hipocrisia? Mais valia terem aberto concursos apenas para pessoas
com prévia relação jurídica de emprego público constituída e não enganavam
ninguém.
Dirijo-me a vocês numa
tentativa desesperada para que saibam e possam dar voz à frustração e desilusão
que sentimos com este tipo de situações. Podemos ser jovens, podemos estar
longe da vista (e talvez do coração), além-fronteiras, mas todos os dias damos
o nosso melhor para dignificar a Enfermagem e, mais especificamente, a
Enfermagem Portuguesa.
Estou farto, estou
cansado e não sei a quem recorrer, pois não nos sentimos representados pelo
nosso órgão máximo. Já fui excluído de um concurso por não ter enviado o
certificado de habilitações literárias (pessoas ligadas ao concurso disseram-me
que era o de 12.º ano), pois do meu ponto de vista, se envio como certificado
de habilitações académicas o certificado de Licenciado em Enfermagem,
isso supõe que tenho o 12.º ano feito. Estamos num país com um nível de ensino
cada vez maior, mas com um analfabetismo intelectual enorme. Nessa altura comuniquei
à Ordem, e apenas me disseram que nessas coisas não se metem.
Não digo que deva ter um
lugar para trabalhar no meu país. Apenas que devo ter uma justa e clara
oportunidade de tentá-lo. Não brinquem connosco, que somos gente séria.
Acho que merecemos ser
tratados com mais respeito e consideração.
Peço desculpa por este
meu contacto, tão informal como longo, mas sou enfermeiro e não um burocrata.
Melhores cumprimentos,
Jorge Gomes"