Quero antes de mais ressalvar que,
por muito que de vez em quando gostasse de ter arte de mandar um bom piropo
(educado e engraçado), que por vezes é uma das formas de galanteio, não sou
capaz de o fazer. Personalidade, timidez, educação, não querer infringir a
liberdade dos outros...não sei, mas não o faço.
Li um texto no facebook, que me fez
reflectir sobre a minha tomada de posição, pondo-me um pouco na outra parte.
Chego à conclusão que os piropos, tanto podem ser inocentes como podem ser
ameaçadores.
Mais que o texto, achei
interessante o debate dos comentários. Eu fui mais um dos que relevou o assunto
para segundo plano, porém faço agora um mea culpa. Talvez baseasse a minha
ideia na experiência de ver várias mulheres (muitas delas conhecidas), por mais
ou menos ordinário que fosse o piropo, porem aquele sorriso que diz algo
"Que parvo!", mas que significa um "Até soube bem".
Não sou especialista em direito nem
em semântica, porém tenho opinião de senso comum. A meu ver um "és
bonita", dito numa única ocasião, por exemplo, de modo algum pode ser
considerado falta de educação, assédio etc. E é aqui que a questão das
bloquistas peca, por meter tudo no mesmo saco.
Não gostariam elas de ouvir de vez
em quando um "És bonita" ocasional, até dito por alguém que nada
pretende delas? Eu sou sincero, eu gostaria e gosto. Mesmo que ache que a
rapariga nem é muito bonita. Até as senhoras idosas do meu serviço, tendo já
critérios bem menos exigentes, quando dizem isso me fazem sorrir. Prefiro
pensar que é por terem mais anos de sabedoria em cima.
Creio ser este ponto o que levou a
maior parte das pessoas, homens e mulheres, a dizer que às tantas elas
avançaram com isto porque não ouviam piropos. Há muitas mulheres que ao ouvir
um “és bonita” ou mesmo um “olá”, pensam logo que a outra pessoa quer algo
perverso com elas. Claro que se for um candidato a modelo a dizer algo assim,
alto lá e para o trânsito! Aí até o admitem e acham piada! Acho era aqui que
devia ter sido feito um aparte na proposta do BE. Não se pode misturar alhos
com bugalhos. Nem simplificar demasiado as coisas. A sociologia serve para
alguma coisa, estuda, aprofunda e explica os fenómenos sociais. E é disso que
se trata, um fenómeno social.
Claro que a mesma afirmação, dita
de forma continuada, pode criar um mal-estar, um desconforto, podendo a meu ver
ser considerado assédio, não sei em que grau ou se tem grau. Falem com o
pessoal da CIPE que eles ajudam com isso.
Agora um "comia-te toda"
(peço desculpa pelo "calão", mas sou mesmo mau a nível de
piropos...mesmo não considerando isto um piropo), ocasional ou não, mesmo
havendo raparigas que gostem, será sempre ofensivo, calunioso, assédio (creio
que é um manifesto de intenção, até um pouco violenta). Eu próprio, sendo
homem, apesar de nunca me terem dito algo do género (lá serei eu susceptível a
que me digam que é por isso que o digo), tenho a certeza que não gostaria de
ouvir isso. Porquê? Porque acima de tudo é revelador da falta de educação e de
respeito por parte de quem o diz e esse tipo de pessoas não tem nenhum
interesse para mim…apesar de admitir que para outros possa ter. Como em tudo,
há quem apenas procure caras (e corpos) bonitos, há quem procure algo mais.
Agora um raciocínio só para os
homens, muitos dos quais gozaram com a tomada de posição do bloco de esquerda
(também para mim portanto), que tenham mãe, mulher, filhas, primas, sobrinhas,
amigas…que sentiriam/fariam se vão na rua e ouvissem alguém dizer um “comia-te
toda” à pessoa do sexo feminino que vos acompanha? Às tantas nunca aconteceu,
porque a presença de alguém do sexo masculino inibe isso por parte dos outros
homens. Reformulo…se soubessem que alguma mulher conhecida vossa estivesse a
ser alvo de este tipo de má educação, assédio e invasão de liberdade, de forma
continuada (principalmente) ou não, iriam ficar impávidos e serenos? Porque um “comia-te
toda” pode ser apenas uma frase proferida devido à pouca ou nenhuma
inteligência e educação de quem o diz…mas pode também significar um manifesto
de intenção. Tal como um “és bonita” contínuo e insistente. E aqui é preciso
ter atenção e muito cuidado.
Acredito que acima de tudo, esta
situação das ofensas verbais, designação na qual incluo os “piropos” que
realmente deviam ser visados pelas bloquistas, é fruto de uma educação social e
de um civismo carentes, muito pobres mesmo, baseados no “vivemos em democracia,
podemos dizer o que quisermos”. Mas é uma educação social pobre nos dois
sentidos, pois uma rapariga que ache piada a uma ofensa verbal, tem tanta culpa
como quem a faz, pois ajuda a fomentar este tipo de acções. Ensine-se a
respeitar e a fazer-se respeitar a liberdade de cada um.
Não se esqueçam que as pessoas,
todas elas, têm o direito de andar na rua livremente, sem se sentirem incomodadas,
agredidas e com medo. Seja por um delinquente, um mal-educado, um cão solto ou
sem açaime etc.
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