Sou uma pessoa que dou muito valor às palavras, às
que leio ou escrevo, às que ouço ou digo. Reconheço, porém, o limite do seu
alcance, pois por muito extenso que seja um vocabulário, ficará sempre aquém
para expressar tudo o que vamos sentindo ao longo da nossa vida. Por isso
dizemos muitas vezes que não temos palavras para descrever o que sentimos.
Alguns porque não as sabem, outros porque, apesar de as saberem, compreendem
que algo tão grande, como pode ser um sentimento, não cabe numa palavra.
Contudo, esse limite não lhes retira valor nenhum.
Uma palavra, num determinado momento, pode mudar muita coisa. Para ela ter esse
poder, é preciso duas coisas, haver um emissor da palavra e um receptor. Um que
saiba o que está a dizer, o outro que saiba o que se está a dizer. Um que
queira dizer, outro que queira ouvir.
As palavras soltas são meros conjuntos de letras e
sons. Se pomos um poema cheio de sentimento aos olhos de uma criança que
aprendeu a ler há pouco tempo, aquilo não lhe dirá nada. Se pomos esse poema
diante de alguém que já viveu algo mais, poderá ser encantador, arrepiante ou
emocionante. Por isso, as palavras, tal como as pessoas, fazem parte dum
contexto sociocultural, o seu significado cresce à medida que cresce a pessoa
que as diz.
Ainda mais valor têm quando são o reflexo das
atitudes de quem as diz. E é nos momentos de desencontro entre o que se diz e
o que se faz, que vemos a fragilidade de algo tão valioso. Por isso, somos nós,
pessoas, que na maior parte das vezes lhes subtraímos todo o seu significado.
Damos nomes errados ao que vemos, ao que queremos, ao que sentimos, ao que
pensamos, ao que fazemos. Talvez não vivamos numa época de poucos princípios,
valores ou sentimentos, talvez vivamos numa época em que, simplesmente, não
sabemos usar as palavras.
Como se diz, palavras levam-nas o vento, apesar de eu
continuar a acreditar na palavra das palavras.
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