Ontem desloquei-me para mais um treino, mais um
treino a promover a arte a jovens desconhecidos, inserido no programa de férias
desportivas. Algo que me tem chamado muito a atenção nestes treinos, é o
incrível interesse que as crianças têm pelo Karate, pelo treino em si e a
disciplina que apresentam.
Falamos de crianças dos 6 aos 12 anos, crianças que
nunca tinham contactado com o Karate e que assimilam rapidamente os passos
iniciais desta arte…saudação, respeito pelo Sensei e pelos colegas, entrega ao
treino etc. Quando assim é, dá real gosto dar um treino, não cansa e o tempo
passa a voar. Fazem corar de vergonha muitas crianças já crescidinhas, que não
sabem estar e, sinceramente, para as quais cada vez tenho menos paciência.
Ao alinhar as crianças verifiquei que uma delas era
portadora de Síndrome de Down. Nunca tal me tinha sucedido, mas não fiquei intranquilo.
Um defeito meu, que vou aprimorando nesta minha curta vivência como treinador,
é acreditar que posso tirar sempre alguma coisa de todas as crianças, tenham
elas os problemas que tiverem. Por isso iniciei o treino ansioso por ver a
resposta que a menina me ia dar. Fez o treino todo sem se notar qualquer diferença
para os colegas, até executando muito melhor do que outros.
Ao iniciar o treino, reparei também que uma aluna
estava sentada, sem fazer o treino, por indicação de uma responsável por eles.
Não sabia o motivo, mas é normal haver sempre algum doente, logo não dei importância.
Com o decorrer dos exercícios, a menina levanta-se e começa a correr e a
repetir os movimentos que eu fazia. Uma corrida desequilibrada…um esboço dos
movimentos. Uma voz muda, mas um olhar que tudo dizia. Percebi que
era uma aluna com alguma coisa parecida a paralisia cerebral.
Uma colega dela, rapidamente e preocupada disse-me “Ela
não pode treinar!” Perguntei o porquê e a resposta foi “É deficiente”. Tranquilizei
a rapariga e disse-lhe que era eu a dar o treino e que, enquanto assim fosse,
ela ia treinar. Como podia eu negar o treino à pessoa que mais interessada nele
estava?
Foi, talvez, dos treinos em que mais aprendi. São
estas alturas que me ensinam a relativizar, a relativizar os meus “problemas”
ou a relativizar a importância que damos às coisas sem valor. Aquelas duas
meninas são, para mim, um exemplo de querer e de superação, são minhas
heroínas.
Se soubesses o quanto lamento por viver longe de ti!...
ResponderEliminarTenho certeza absoluta de que serias mais um forte apoio e um reforço às muitasss terapias do Dudu.
Olha... Gosto de ti e pronto!