sexta-feira, 19 de abril de 2013

Falsa notícia...


Lamento, de uma forma geral, sempre a perda de uma vida. As dos soldados da paz, que morrem em serviço, dando a sua vida pela causa, ainda mais.
Contudo, não convém transformar notícias em falsas notícias, no aproveitamento de uma fatalidade, para fazer aparecer o nome da terrinha no jornal. Eu gosto que Fafe seja falado, mas na divulgação da sua cultura e tradição, como aconteceu ainda ontem no Portugal no Coração, ou ainda recentemente através de toda a cobertura nacional e mundial que teve a prova do WRC. Não gosto, nem me dá especial vontade de dizer “olha Fafe no jornal”, por causa de roubos, mortes ou desabamentos que cortam estradas.
Ontem faleceu um bombeiro em circunstâncias que tanto pode morrer um médico, um empregado de supermercado ou qualquer outra pessoa, quando as normas do bom senso são postas de lado. A Corporação de Bombeiros comemora este ano, se não me engano, o seu 123ª aniversário. O senhor foi lançar fogo-de-artifício e, por azar ou falta de competências para o fazer, um deles acabou por lhe tirar a vida (isto supondo que o senhor não trabalhava na área da pirotecnia). Foi noticiado, pelos vistos quase a pedido de uma pessoa, "Bombeiro de Fafe morreu ao lançar fogo-de-artifício"!
Hoje em dia pensamos, de uma forma geral, que somos polifacetados, que sabemos fazer tudo, só porque o “tudo” se encontra à venda em qualquer sítio, ao alcance de qualquer um. Imaginemos que medicamentos somente permitidos com receita médica passavam a estar ao dispor da vontade do freguês…bem, nem quero imaginar no que sucederia.
Quanto ao fogo-de-artifício, sempre lhe tive muito respeito. Gosto de ver, mas em local seguro. O risco de o lançar ou preparar deve estar puramente estrito aos profissionais do ramo. É mais caro, ok, mas os luxos pagam-se (se hoje em dia não é visto como um luxo é devido a banalização de estar à venda em qualquer sítio). Mas é para isso que eles trabalham e aprendem. Tal como os bombeiros aprendem a combater fogos, que acredito que tenha mais de científico e de estudo do que aparenta. Não sejamos arrogantes ao ponto de pensarmos que podemos e sabemos fazer tudo.
Não concordo que se noticie com títulos gordos “morre bombeiro”. Dá a falsa e heroica sensação que foi em ação, em serviço. Não foi, foi num acidente em que foi vítima de si mesmo. O mesmo caso dos soldados portugueses que morreram há uns anos quando brincavam com engenhos explosivos, apesar de estes supostamente estarem aptos e peritos na matéria. Quando morre alguém num acidente, se é noticiado, identifica-se primeiro a pessoa, a localidade e depois a profissão e etc. Falando no caso da minha profissão, só aceitaria um título destes se um colega falecesse no exercício das suas funções.
Sei que pretender que seja notícia é para honrar, de certa maneira, a pessoa. Mas a nobreza da honra está na verdade.
Apesar desta minha visão, às tantas um pouco fria, da situação, lamento a morte do senhor. As minhas condolências à família e à corporação.

2 comentários:

  1. uma visão bastante fria...eu diria.
    quando o sr for enfermeiro à 27 anos falaremos dessa sua forma de ver as coisas (de preferencia enfermeiro em regime voluntario)

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  2. Não me importaria de falar consigo daqui a 27 anos, se souber quem é. Mantendo-se no anonimato essa conversa será um pouco impossível.
    Em momento algum pus em questão os anos de serviço voluntário da pessoa que faleceu, sendo profundo admirador da causa a que ele e muitos como ele se dedicam. Critiquei a notícia e a forma como foi dada pelo jornal de notícias. Nada abonatória para com a pessoa que faleceu, como se pode comprovar pelos vários comentários que a notícia mereceu na página da internet do respectivo jornal.
    Agora gostaria de saber se fosse apenas um jovem qualquer ou outra pessoa qualquer, sem ser bombeiro, a falecer nas mesmas circunstâncias, se os comentários seriam iguais ou seriam críticos para com a evidente negligência?
    Quanto ao voluntariado na minha profissão, deixe que me diga que é um dos grandes problemas dela...haver muitos colegas a fazerem-no a tempo inteiro. E arrisca-se a falar do que não sabe, pois voluntariado pode-se fazer de várias maneiras, não apenas sendo bombeiro. Além que defendo a profissionalização em todas as áreas, pois só assim se evolui para melhor. Antes as enfermeiras eram as freiras voluntárias, mas devido à evolução normal das coisas, exigiu-se uma profissionalização e maior especialização da nossa área. Para nosso bem e dos doentes.
    Se o senhor acha normal as pessoas andarem a activar na rua artefactos pirotécnicos, então quem não deve estar a ver bem as coisas é o senhor.
    Respeitosamente,
    Jorge Gomes (autor do texto e blog)

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