Já lá vai um tempo desde aquele dia, que não me
recordo ao certo quando foi, em que me foste apresentada. De um rosto no meio da
multidão, passaste a ser o rosto que sobressaía dela. De uma voz desconhecida,
passaste a ser a voz que guiava a minha atenção.
Há coisas que carecem de explicação, há outras que
simplesmente fogem à razão. Como pode alguém tomar-nos o coração? Não sei se
sei ou talvez saiba, mas depois de tomado que interessa isso?
Poderia começar no teu sorriso, sim, esse sorriso que
ilumina o dia de qualquer um. Bem, de qualquer um não posso afirmar, mas o meu,
ai o meu sem a menor dúvida. Um sorriso que insultuosamente me cativa, que apenas encontra ligeira comparação com aquele que as crianças nos dão.
Seguiria pelo teu olhar, um olhar penetrante e
absorvente, mas por vezes distante e ausente. Tem tanto de sincero como de misterioso.
Seja como for, é o olhar que queria sobre mim.
Continuaria pelo teu ser, pelo teu maravilhoso ser. É
o que tu és, a maior das tuas qualidades. Mas se os olhos são o espelho da
alma, tu és um mapa por descobrir. Ou serás antes o navegador perdido, à deriva,
esperando ventos favoráveis?
Tudo isto e muito mais, não havendo palavras para o
explicar, levou-me a tomar a decisão que, ambos sabemos, te afastou de mim. Sei
que se tivesse ficado no meu canto, às tantas não terias andado para trás e me
terias conhecido melhor. Às tantas assustei-te, às tantas porque é difícil
acreditar que haja alguém que possa sentir realmente aquilo que diz ou que
possa realmente ser aquilo que parece ser. Às tantas por isso te fechaste, por
isso me evitaste, por isso te seguras a um caminho que dizes não ter saída, mas
que conheces bem. Às tantas acho que o teu verdadeiro medo é que te possas
magoar.
Eu estendi-te a mão para que pudesses caminhar junto
a mim um caminho desconhecido, um caminho em que eu nada posso garantir, a não
ser de o querer fazer contigo sem te largar em momento algum. E eu estiquei-me
ao máximo para que tu lhe chegasses, para que tu quisesses, ao menos, sentir o
toque dos meus dedos. Não quiseste e mantiveste-te de braços cruzados. Eu
compreendo, a sério que sim.
Eu afastei-te e tu afastaste-me. Também eu andei
perdido, mas farto de esperar por brisas amigas peguei nos remos e retomei o
rumo da minha vida. Contudo, por muito que eu não quisesse, fazes parte dela.
Por muito que nos afastemos, por muito que finjamos que o outro não existe,
quero, acima de tudo, que estejas bem. Descobri, sem querer e quando menos
queria, que estou mais perto de te amar do que gostar de ti. Peço-te desculpa,
mas não te vou pedir desculpa por isso.
Hoje atraquei o barco nesta praia, uma praia
encantadora, na qual gostaria de te ter ao meu lado. Por isso, entrego estas
palavras perdidas ao mar, na esperança que um dia as possas encontrar…e, por
fim, queiras entrelaçar os teus dedos nos meus.